Recuemos até ao final de abril, altura em que se discutia o Grande Prémio O Jogo. O que era então a Volta a Portugal? Uma prova com uma equipa favorita, a crónica W52 FC Porto. Uma prova com outros conjuntos e corredores capazes de desafiar a hegemonia dos azuis e brancos. Uma prova capaz de atrair um grande interesse até pelo crescimento da modalidade nos últimos anos tendo também símbolos internacionais que potenciam essa onda positiva. Uma prova com um calendário interessante em termos competitivos que juntava às míticas chegadas à Torre e à Senhora da Graça uma subida ao Observatório de Vila Nova. Foi nesse momento que a operação Prova Limpa passou à prática. Tudo mudou. E ainda está a mudar.

Uma viagem a Espanha para não ter Volta a Portugal: W52 FC Porto com licença suspensa e impedida de competir

Primeiro vieram as buscas a vários elementos da W52 FC Porto e as detenções dos diretores desportivos Nuno Ribeiro e José Rodrigues (da Fortuna Maia mas com ligação aos azuis e brancos). A seguir, a notícia que dava conta da constituição enquanto arguidos de mais dez elementos da equipa incluindo um total de oito corredores. Depois, a suspensão desses corredores pela Autoridade Antidopagem de Portugal quando decorria o Grande Prémio Douro Internacional (ganho pelo único que “resistiu”, José Neves). A seguir, a suspensão da equipa por parte da União de Ciclismo Internacional, quando já tinham sido encontrados atletas espanhóis para fazer a Volta, e a suspensão do ciclismo por parte dos dragões. Afinal, não tinha ficado por aí e a sombra do doping manteve-se até agora em virtude da fase 2 da operação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um corredor confessou, outro já está suspenso mas alguns terão “passado”: o que se sabe da fase 2 da operação Prova Limpa

Após as saídas da lista de inscritos de Daniel Freitas (da Rádio Popular Boavista) e Francisco Campos (da Efapel), ambos antigos corredores da W52 FC Porto em períodos distintos, também Luís Mendonça (da Glassdrive, a principal favorita à vitória na prova) e João Benta (da Efapel) foram riscados entre os 125 participantes de 18 equipas que iam começar o prólogo em Lisboa mesmo sem terem sido constituídos arguidos após as buscas de que foram alvo. “Notei que as indicações da organização e da Federação, de forma mais ou menos clara, colocaram no mesmo grupo todos os profissionais alvos de buscas, arguidos ou não. Isto não é defender a modalidade, é dar uma machadada em quem cumpre”, disse Benta.

Amaro Antunes repete o feito de 2020 e vence a Volta a Portugal pela segunda vez

Apesar das muitas ausências, existia qualidade suficiente para fazer da prova uma competição interessante entre nomes mais favoritos como Maurício Moreira, Frederico Figueiredo, António Carvalho (todos na Glassdrive), Alejandro Marque, Délio Fernández (Tavira), Joaquim Silva, Henrique Casimiro (Efapel) ou Vicente García de Mateos (Louletano). Ainda assim, havia quase uma nuvem escura por cima da cabeça de todos neste prólogo de 5,4 quilómetros em Lisboa com as características para corredores como Rafael Reis, sendo que começava aqui também uma das Voltas mais importantes dos últimos anos tendo em conta todo o clima criado em torno da modalidade e o impacto que isso pode ter a curto e médio prazo na evolução.

Espanhol Jokin Murguialday é o último a sair para o prólogo da Volta a Portugal

“Acabei de atravessar o parque das equipas e os adeptos que estão correspondem à mesma afluência que teríamos em condições normais, não podemos é dar a importância que damos a um problema que ainda não existe porque em todo o lado há casos destes e não sei porque é que no ciclismo se dá tanto ênfase e tanta atenção a este problema. É um problema de dois, três ou meia dúzia de ciclistas e a Volta a Portugal não tem nada a ver com isso, é o organizador que está alheio a esta situação”, comentou Cândido Barbosa, um histórico do ciclismo nacional e da Volta, em declarações prestadas à Rádio Observador.

Quando todas as conversas estavam ainda centradas no autêntico terramoto que foi a operação Prova Limpa nos seus dois capítulos, as equipas, os corredores e a organização da Volta queriam focar-se apenas no arranque da edição deste ano. Com um prólogo tão curto, as surpresas não deveriam ser muitas mas a Glassdrive confirmou o favoritismo da sua grande referência no contrarrelógio, o campeão nacional Rafael Reis que bateu na altura por 11 segundos o norte-americano Joey Rosskopf antes de também colocar um dos principais favoritos à geral, Maurício Moreira, na segunda posição (a nove segundos do companheiro). Oliver Rees, Trinity Racing, terminou com o mesmo tempo na vice-liderança do que Maurício Moreira.

“É especial. Foram três vitórias nos Campeonatos Nacionais, nos Jogos Mediterrâneo e agora. Trabalhamos o ano inteiro para a Volta. Perdi por um segundo para o Rafael Reis do ano passado por acaso… O objetivo era ganhar o prólogo, agora a geral é o objetivo com o Maurício a ser o nosso líder”, comentou Rafael Reis após o triunfo na Praça do Império, em Lisboa, como tinha acontecido no ano passado.