Quebrando o silêncio que mantinha sobre o assunto desde o início do mês, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a assumir o protagonismo no tema dos incêndios para fazer um pré-anúncio de novas medidas e deixar uma palavra de confiança — ainda que, frisou, condicional — ao Governo. Afinal, a avaliação das responsabilidades políticas nunca se faz em tempo de “guerra” — e esta guerra, sublinhou o Presidente da República, ainda não terminou.
Foi ao lado do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, que Marcelo voltou à sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e decidiu adiantar-se ao Governo. Ou melhor, anunciar que vem aí… um anúncio. Segundo o Presidente da República, que falou aos jornalistas no final da visita, o Governo irá anunciar já esta sexta-feira um conjunto de medidas para enfrentar as duas semanas “difíceis” que aí vêm, por causa do risco elevado de incêndio, com condições climatéricas mais perigosas.
E que medidas serão essas? Como o próprio Presidente notou, não lhe caberia especificá-las. Ainda assim, deixou pistas: estão previstas medidas “adequadas”, mas não tão “gravosas” como no início do combate aos fogos — o início em que chegou a cancelar uma viagem a Nova Iorque para estar em Portugal a acompanhar a evolução da situação, preocupante. E deixou também instruções sobre as mesmas medidas, que devem ser vistas, adiantou, de forma “muito firme e serena”, sem “dramatizações”.
Incêndios: Marcelo apelo à colaboração de todos para prevenir fogos
Sem se saber quais serão as tais medidas, Marcelo deixou antever que concorda com elas e com a gestão que está a ser feita — pelo menos para já — pelo ministro e pelo Governo. Em vários momentos, o Presidente da República recusou culpar o Executivo pela evolução mais complicada de incêndios como o da Serra da Estrela: lembrou a “complexidade” dos fatores que contribuem para esse fogo; que será feito um relatório sobre esse caso em concreto; apelou à responsabilidade individual dos portugueses, que podem acusar “cansaço”; frisou que em 2017, quando esteve “por dentro” da situação — agora recebe relatórios para se manter a par, mas sem ir ao terreno para não atrapalhar as autoridades — viu “situações que não têm comparação com o que se vê hoje”; e falou em “unidade” no poder político.
Ainda assim, reconheceu, se é verdade que na altura houve situações com “gravidade muito superior”, é preciso limitar essa declaração no tempo e dizê-la no condicional, “com muito cuidado”. “Neste momento, é esta a situação”. E o momento, fez questão de sublinhar uma e outra vez, é de “campanha” e de guerra” — e durante a guerra não se fazem as avaliações finais.
Foi essa mensagem que fez, de resto, questão de passar, em jeito de recado, quando foi questionado diretamente sobre as responsabilidades políticas em casos como o da Serra da Estrela. “No todo, no fim destas campanhas e não durante as guerras, não se está a fazer esse apuramento. No fim naturalmente se vai ver como foi, em termos absolutos e relativos, de vítimas, de populações atingidas, destruições materiais, além da natureza e biodiversidade e património do país”.
Para já, Marcelo — o mesmo Presidente que em 2017 fazia depender a sua própria recandidatura a Belém da forma como se lidasse com os fogos e se aprendessem as lições necessárias — dá cobertura à estratégia do Governo, mas está consciente de que em setembro o perigo continuará à espreita. E de futuro também: o clima mudou, foi avisando, e será preciso ter atenção a essas ameaças mais estruturais — em termos de prevenção tanto em Portugal como na Europa.