“Estamos a recuperar mas depressa que os nossos pares no setor” da que foi uma das crise mais significativas da indústria, defendeu a presidente executiva da TAP. Na apresentação dos resultados do primeiro semestre, Christine Ourmières-Widener destacou que os destinos da transportadora portuguesa foram menos afetados por restrições aos voos que afetaram mais os mercados asiáticos para onde a TAP não voa. “Não voamos para a Ásia e estamos a beneficiar deste diferente nível de restrições (nomeadamente por causa da pandemia)”.

“Estamos melhor que o plano”, sublinhou a presidente executiva, “mas estamos a ser cautelosos porque a indústria está a ser surpreendida com a força da retoma”. De acordo com a presidente executiva da TAP, as disrupções na operação em vários aeroportos não foram ainda ultrapassadas. Em agosto a companhia cancelou preventivamente mais de 150 voos, tendo reencaminhado a maioria dos 14 mil passageiros para outros voos seus.

Apesar dos resultados operacionais da companhia, que foram já positivos no segundo trimestre, estarem no caminho de cumprir as metas do plano de reestruturação, a presidente da TAP admite que há vários desafios no horizonte para a segunda metade do ano. A gestora apontou a inflação e o seu impacto na procura, a disrupção das operações aeroportuárias e o cenário de uma recessão, como os principais riscos. Mas para já salientou que as reservas para o terceiro trimestre continuam fortes.

Confrontada com a possibilidade de uma greve, perante o crescente tom de contestação de várias classes de trabalhadores, Christine Ourmières-Widener admite que “qualquer gestor fica preocupado com um cenário de greve, é mais uma disrupção. Mas estamos confiantes de que os nossos sindicatos irão perceber que a interrupção da nossa operação seria muito prejudicial para o cumprimento do plano. Estamos a passar muito tempo a discutir com estes parceiros.”

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A empresa contratou mais de 400 tripulantes este ano para responder ao aumento da procura e já reduziu uma parte do corte salarial negociado em 2021, no entanto, vários sindicatos têm exigido uma reposição mais rápida dos cortes tendo em conta o nível de retoma do setor e da própria TAP. Para além dos cortes salariais, a transportadora continua a renegociar contratos com fornecedores tendo obtido poupanças de 137 milhões de euros com a revisão de 800 procedimentos,

A gestora foi ainda confrontada com o recurso a voos operados por outras empresas para a TAP, uma prática que diz já foi feita no passado e que é clássica em toda a indústria. O recurso a voos operados, por exemplo, pela Air Bulgaria, também é justificado pelo atraso nas entregas de aeronaves.

Dólar e combustíveis caros são desafios

O aumento do preço com o combustível, uma fatura que deverá chegar aos mil milhões de euros no final do ano (409 milhões de euros até junho), é um dos principais fatores de pressão do lado dos custos que a empresa não controla. A TAP tem vindo a proteger metade do seu consumo com a contratação de instrumentos de proteção de risco. Sem o efeito dos combustíveis, os custos teriam caído 9%.

“Estamos a entregar a meta que estava prevista, mas não é suficiente. Resultados operacionais não são lucros. E temos de pagar custos financeiros que ainda não conseguimos cobrir na totalidade”, afirmou o administrador financeiro, Gonçalo Pires.

A empresa apresentou prejuízos de 80 milhões de euros no segundo trimestre e 202 milhões de euros no primeiro semestre, mas os resultados operacionais recorrentes são positivos — 48 milhões de euros no segundo trimestre e um milhão de euros no final do semestre — e estão melhores do que o previsto no plano de reestruturação. “Estamos confiantes de que vamos apresentar resultados operacionais melhores”, mas há fatores que afetam os resultados líquidos como a valorização do dólar que faz subir os custos financeiros, sublinhou Gonçalo Pires. Dois terços da dívida da empresa estão nesta moeda.

Do ponto de vista operacional, a receita por lugar oferecido está mais positiva do que a registada em 2019, o que resulta de uma forte recuperação no número de passageiros e da receita associada, combinado com uma redução da frota. O PRASK (receita de passageiro por assentos e quilómetro oferecidos) subiu 8,5% no segundo trimestre face ao mesmo período de 2019.