A Audi causou alguma surpresa quando anunciou pretender disputar a última edição do Dakar, a célebre maratona africana que desde 2020 é disputada na Arábia Saudita, com um carro eléctrico. E os motivos para esta estranheza são óbvios, pois não só não há postos de carga nas dunas do deserto, como os camelos não conseguem transportar energia e deslocar os geradores de camião para zonas menos acessíveis do globo, ao contrário do que acontece nas diferentes provas da Extreme E, em que todos os buggies são eléctricos.
O modelo com que a Audi se fez representar consistia num buggy eléctrico, o RS e-tron, que montava dois motores eléctricos, um por eixo, capazes de atingirem 680 cv. A energia que os alimentava estava armazenada numa bateria com somente 50 kWh de capacidade, manifestamente pouco para 100 km a fundo, quanto mais etapas e ligações que poderão atingir 1000 km em algumas fases da prova, com a competição a levar os concorrentes através do deserto durante 12 etapas, com 4000 km de classificativas e 2500 km de troços de ligação.
Para fazer frente a esta exigência de autonomia, a Audi dotou o RS e-tron com um gerador de corrente embarcado, na realidade um dos motores 2.0 TSI que o fabricante utiliza nos seus modelos do dia-a-dia. A funcionar como um sistema REX (de range extender), este motor/gerador garantia que o buggy eléctrico gerava a electricidade de que precisava, necessitando apenas de ser abastecido de gasolina. Não é o ideal para um carro eléctrico, mas para este tipo de competição, nesta fase, é difícil encontrar uma alternativa melhor.
O ano de estreia não correu nada mal, com os três RS e-tron a chegar ao fim, para mais pilotados por monstros do TT como Carlos Sainz, Stéphane Peterhansel e Mattias Ekström, este último mais ligado ao DTM e ao Rally Cross. Entre os três pilotos, a Audi venceu quatro das 12 etapas e alcançou 14 lugares do pódio, notável para a estreia de um veículo eléctrico. Mas a marca dos quatro anéis tem ambições redobradas para 2023.
Para começar, o carro apresenta-se bastante remodelado, adaptando a denominação RS e-tron E2. A aerodinâmica foi revista, para reduzir o consumo nas etapas mais rápidas, mas também para refrigerar de forma mais eficaz as baterias. Há mais espaço por dentro para os pilotos, mas a vantagem para o comportamento é um centro de gravidade mais baixo e, por isso mesmo, mais eficaz. Peterhansel, que pilotou o E1 e que tem desenvolvido o RS e-tron E2, diz estar satisfeito. Segundo ele, toda a equipa acredita que poderão estar mais próximo das primeiras posições e vencer mais etapas.
Para garantir que tudo estará em condições para a próxima edição do Dakar, a disputar entre 31 de Dezembro 2022 e 15 de Janeiro de 2023, a Audi vai levar o seu novo buggy 4×4 ao Rally de Marrocos, que servirá de último teste antes da grande maratona. As especificações do RS e-tron E2, em termos de potência, capacidade de bateria e características do motor/gerador, não deverão sofrer alterações face à edição anterior do Dakar.