A cooperação portuguesa nos PALOP é menos visível na área da investigação em ciências da saúde, na qual a internacionalização se revela mais significativa do que as ligações linguísticas, segundo o autor de um estudo da Fundação Gulbenkian.
O MAPIS — Mapeamento da Investigação e Financiamento das Ciências da Saúde em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe — foi encomendado pela Fundação Gulbenkian e analisa a evolução da produção científica internacional em ciências da saúde nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), entre 2008 e 2020.
De acordo com este estudo, coordenado por Tiago Santos Pereira, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, “embora Portugal seja um parceiro importante, não é o parceiro mais importante em Moçambique ou na Guiné-Bissau, onde os Estados Unidos e a Dinamarca assumem, respetivamente, essa posição”.
Moçambique — que produz 70% de toda a investigação em ciências da saúde – -colabora mais frequentemente com os Estados Unidos e parceiros espanhóis, enquanto Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe com pares portugueses e a Guiné-Bissau com dinamarqueses.
Em declarações à agência Lusa, Tiago Santos Pereira recordou que Portugal tem “uma experiência de cooperação portuguesa com estes países, nestas e outras áreas”, mas reconheceu que ficou surpreendido por este país não ser um dos principais colaboradores.
“Mostra uma internacionalização destes países em termos de investigação e há uma preocupação em termos de legisladores internacionais na cooperação internacional com as questões da saúde e da investigação”, referiu, acrescentando: “A questão dos legisladores na cooperação tem umas dinâmicas próprias e há financiadores que vêm da área da investigação”.
Para o investigador, “há visibilidade externa internacional da investigação que é aqui [PALOP] realizada e interesse em colaboradores externos em compreender melhor estas dinâmicas e contribuir para a melhoria da saúde nestes países”.
Tiago Santos Pereira referiu que os resultados deste estudo, a que a Lusa teve acesso, “refletem, em termos de indicadores quantitativos de qualidade de investigação internacional, uma visibilidade e uma presença que, não sendo muito significativa, não deixa de ser superior ao esperado“.
E salientou que as publicações científicas foram identificadas nas principais revistas internacionais, tipicamente na língua inglesa.
De acordo com as conclusões do MAPIS, registou-se “um aumento significativo na investigação em ciências da saúde nestes países, em especial durante a última década”, sendo o nível de publicação “especialmente significativo” em Moçambique.
Esta evolução é igualmente positiva nos outros países, embora São Tomé e Príncipe registe uma atividade científica “muito limitada”.
Angola apresentou “uma atividade científica inferior ao esperado”, mas com “um crescimento constante na produção e institucionalização da investigação ao longo dos últimos anos”.
Além de Moçambique, que contabiliza 70% de toda a investigação dos PALOP, também a Guiné-Bissau apresenta “um impacto relativamente elevado de citação”.