Era mais uma prova internacional depois de tantas outras que já tinham rendido mais de 120 medalhas entre Jogos Olímpicos, Mundiais, Europeus e Taças do Mundo, era mais do que uma prova internacional também por ser realizada em território nacional. Logo após a conquista da medalha de bronze em K1 1.000 em Tóquio, e apontando aos próximos objetivos, Fernando Pimenta não esquecia o Mundial de maratonas marcado para 2022 na sua terra, Ponte de Lima. E estes eram dias especiais para o canoísta nacional.

Canoagem: Fernando Pimenta campeão do Mundo na short race de maratonas

“Já lá vão dez anos desde a última participação num Mundial de maratonas, em 2012, em Roma. Era outra época. Era dez anos mais novo e, praticamente, todos os anos competia em maratonas. Agora, há especialistas nisto. Era como alguém das maratonas ir fazer agora K1 1.000 metros, sentiria as dificuldades de um ritmo diferente”, tinha explicado Pimenta, que nesse mesmo ano conseguiu a sua primeira medalha olímpica em K2 1.000 com Emanuel Silva nos Jogos de Londres. O arranque não poderia ser melhor e, logo no primeiro dia, o português ganhou a medalha de ouro na corrida de short race, batendo o dinamarquês Mads Pedersen e o espanhol Ivan Alonso (José Ramalho, que era campeão, ficou em oitavo).

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“Esta é a medalha mais saborosa. Acho que nem os pódios olímpicos conseguem destronar esta medalha. Vale quase tudo. Nos metros finais, com esta plateia que aqui está, foi qualquer coisa do outro mundo. Quando soube que o Mundial de maratonas era aqui, foi um sonho ser campeão. Trabalhei muito para conseguir este título aqui em casa. Época? Foi muito duro. Depois de atingir grandes objetivos, com medalhas em Europeus e Mundiais, voltar ao terreno, fazer seletivas com pouco tempo de preparação, fazer treinos específicos que não fazia há dez anos… Foi muito duro e cansativo. Deixou muitas marcas de guerra nas mãos e pés. Ainda não consegui por os pés no chão e só quando acordar e vir a medalha, é que vou acreditar”, destacou Pimenta, que ganhou seis medalhas nos Europeus e Mundiais deste ano.

Fernando Pimenta: “Eles lá fora têm as coisas facilitadas. O que não consigo controlar está nas mãos dos nossos governantes”

A emoção do limiano depois do triunfo na short race funcionava quase como um balão de oxigénio para o desafio seguinte, talvez o principal e mais complicado: a corrida de K1, onde tinha ficado com a medalha de bronze nos seniores (prata nos Sub-23) em 2012 e contava com o experiente José Ramalho, de 40 anos.

Desde início que os dois portugueses foram tentando trabalhar em conjunto para conseguirem colocar a prova ao seu ritmo, perante a vontade de Mads Persen vir para a frente. Pimenta liderou numa fase inicial da primeira volta quando existiam ainda 17 atletas no grupo da frente, José Ramalho (que a nível destas distâncias mais longas é o português com mais currículo) assumiu depois o topo numa fase em que só existiam nove embarcações com tendência para reduzir ainda mais, Pimenta voltou para a frente a seguir na viragem. Na segunda volta, Pedersen conseguiu subir ao primeiro lugar de um grupo já com apenas seis elementos mas era seguido a um segundo de diferença pelos dois portugueses na prova.

Os seis da frente, onde estavam também dois atletas sul-africanos (Birkett e Lovemore), iam puxando os ritmos consoante fosse mais conveniente para as suas estratégicas, houve depois um abrandamento que permitiu que alguns dos elementos mais atrasados ficassem quase colados na frente mas a passagem pela portagem na quarta volta recolocou as mesmas diferenças, com Ramalho de quando em vez a assumir a liderança e Fernando Pimenta sempre numa posição de maior expetativa. Em traços gerais, e a meio da final, os tempos estavam mais lentos do que esperado e só assim existiam as tais aproximações.

A segunda metade manteve os principais candidatos na frente, algumas vezes olhando uns para os outros para perceberem quem agarrava na corrida num misto de manter a distância para os restantes canoístas e gerir o esforço que se começava a sentir, sendo que José Ramalho e Fernando Pimenta começaram a fazer uma marcação mais cerrada ao dinamarquês Mads Pedersen na volta decisiva, sobretudo nos momentos que antecederam a viragem. Na decisão, que surgiu na short race final, o sul-africano Andrew Birkett conseguiu bater ao sprint José Ramalho (2.08.25,94-2.08.27,04), ao passo que Fernando Pimenta, que estava há muito em grandes dificuldades apesar de nunca ter desistido, acabou no quinto posto (2.08.43,33) e visivelmente emocionado. Mads Pedersen fechou o pódio da prova (2.08.27,36).