Um “arqueiro solitário” no Governo. É assim que o espanhol El País descreve, na introdução a uma entrevista a António Costa Silva publicada esta segunda-feira, o perfil do ministro português. Questionado sobre os embates já teve dentro do Executivo — defendendo publicamente propostas de que o Governo discordava ou queria discutir em privado –, o governante assegura que “não há discordância com Fernando Medina”, mas deixa um recado: “A minha preocupação é a economia”.

A pergunta era especificamente sobre a polémica envolvendo a proposta de redução transversal do IRC, que Costa Silva defende mas Medina e António Costa não, como fizeram questão de deixar claro em público. Desta vez, o ministro recusa fazer mais comentários sobre o assunto, mas defende a necessidade de “conciliar uma política económica que seja eficaz com uma política fiscal equilibrada”.

Quanto à primeira polémica em que se viu envolvido — quando defendeu uma taxa para os lucros exagerados das empresas em tempos de inflação, proposta entretanto adotada por Bruxelas — é cauteloso e diz que é preciso “esperar pelos estudos” que estão a decorrer sobre os efeitos da proposta, lembrando mesmo que em Portugal “as empresas da energia já pagam uma contribuição extraordinária” (o mesmo argumento que António Costa usava, na altura, para mostrar as suas reservas).

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O ministro da Economia recusa ainda que seja aconselhável “relaxar” quanto à política de “contas certas” que o Governo tem vindo a manter. É essa que tem dado bons frutos, diz o ministro, defendendo o crescimento português e rejeitando para já o risco de recessão — embora reconheça que “pode haver um abrandamento económico”.

O ministro ainda deixa avisos para o futuro (próximo): dado que não é possível “subestimar a dimensão da estupidez humana”, critica, referindo-se à guerra, é possível que Vladimir Putin venha a “cancelar completamente as exportações de gás para a Europa” em pleno inverno e, nesse caso, os mercados da energia irão ressentir-se. “Temos de ter uma resposta, que passa também pela Península Ibérica. Nestas décadas não fomos capazes de construir um mercado europeu único”, lamenta.

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