Primeiro, a chamada para ocupar a vaga da Rússia na fase final do Campeonato da Europa que se realizou em Inglaterra em julho. Depois, a grande vitória na Sérvia que permitiu a chegada ao segundo lugar do grupo de apuramento para o Mundial. A seguir, um triunfo num jogo de domínio repartido com a Bélgica em Vizela na primeira fase do playoff de qualificação. Agora, a receção em Paços de Ferreira à Islândia, sendo que mais um sucesso podia não ser ainda assim suficiente para alcançar uma histórica presença na fase final de um Campeonato do Mundo. A Seleção feminina pode estar ainda em crescimento, longe de outros conjuntos como Países Baixos ou Suécia, como se viu no Europeu. No entanto, está. Está e com bases para continuar a estar, sendo que o dia 11 de outubro de 2022 podia ser mais um marco.

O sonho perdura: Portugal vence Sérvia e ainda pode chegar ao Mundial de futebol feminino

“A equipa está com muita vontade neste momento para um jogo que espero competitivo e equilibrado e que será decidido nos pormenores. Temos de estar ao mais alto nível para defrontar uma Islândia muito forte. A Islândia tem mais experiência nestas grandes competições, é uma equipa que está há muito tempo a jogar ao mais alto nível e tem jogadoras muito experientes mas temos vindo a fazer o nosso trajeto, expondo as jogadoras a grandes jogos internacionais para as preparar para este momento”, antecipava o selecionador Francisco Neto na antecâmara de uma decisão que estava condicionada a outros resultados, nomeadamente que a Suíça não vencesse o País de Gales ou que a Rep. Irlanda perdesse com a Escócia.

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O sonho continua: Portugal vence Bélgica e apura-se para a segunda ronda do playoff de acesso ao Mundial

“Será importante o controlo emocional, num jogo que tem de ficar decido neste dia. A grande diferença para a Bélgica é que a Islândia tem um jogo mais vertical, físico e direto. Sentem-se confortáveis sem bola, gostam de procurar as suas avançadas, e apostam muito nas bolas paradas”, acrescentara ainda, passando ao lado das diferenças a nível de ranking mundial para destacar a ideia de “um jogo 50/50”.

O histórico de resultados entre os dois conjuntos mostrava as diferenças entre os conjuntos e o que mudou com o tempo. Nos dois primeiros encontros, dois particulares em 1995, Portugal ganhou; na Algarve Cup de 1997, houve empate sem golos e vitória das islandesas nas grandes penalidades; a partir daí, entre qualificações para Mundiais e Algarve Cup, a Seleção perdera sempre e com pelo menos três golos de diferença. Agora, tudo mudou. E mudou porque a Seleção teve o mérito de anular o jogo mais físico do adversário, só por uma vez foi surpreendida de bola parada e conseguiu depois com a entrada em campo de Kika Nazareth aproveitar da melhor forma a vantagem numérica. Apesar disso, a goleada por 4-1 no prolongamento só garantiu ainda o playoff intercontinental que se vai discutir em fevereiro, depois da vitória por 2-1 da Suíça frente ao País de Gales aos 119′ e do triunfo da Rep. Irlanda na Escócia (1-0).

O sorteio realiza-se na sexta-feira, com Portugal a partir como um dos quatro cabeças de série por ter o melhor ranking FIFA nesta fase (27.º) a par de China Taipé (38.º), Chile (39.º) e Papua Nova Guiné (49.º). Estão ainda no outro pote Tailândia (41.º), Paraguai (51.º), Haiti (56.º), Panamá (57.º), Camarões (59.º) e Senegal (84.º), sendo que existe essa nuance de que apenas uma seleção por confederação pode estar como cabeça de série, o que beneficiar a Papua Nova Guiné e “prejudica” a Tailândia.

A primeira parte não teve propriamente muita história, com Portugal a aparecer mais no último terço ainda que sem grandes oportunidades e a Islândia a tentar explorar todos os lances de bola parada perante a boa organização sem bola da Seleção Nacional. Jéssica Silva fez o primeiro remate que saiu fraco e à figura de Sandra Sigurdardóttir (13′), viu depois a guarda-redes islandesa negar o primeiro golo numa insistência na área da jogadora do Benfica (20′) e ainda teve outra tentativa ao lado (30′) antes da primeira bola nos ferros do encontro por Gunnhildur Jónsdóttir na sequência de mais um esquema tático (41′). Portugal entrou melhor, a Islândia reagiu bem nos momentos finais, o intervalo chegou ainda sem golos.

O segundo tempo teve um início de loucos mas que marcou diferenças no resto da partida, logo a abrir com uma das poucas jogadas em que Portugal conseguiu ganhar a profundidade mas Jéssica Silva, a pensar se estaria em posição irregular (que estava), não concretizou a oportunidade antes de tudo ser anulado. De seguida, dez minutos a todo o gás: Sveindís Jónsdóttir, a grande referência das islandesas, ainda marcou mas o golo foi invalidado pelo VAR por falta sobre Diana Silva no início do lance (51′); Tatiana Pinto desviou de cabeça ao poste após cruzamento de Ana Borges (52′); Carole Costa inaugurou o marcador de penálti num lance que valeu a expulsão a Gunnlaugsdóttir (54′); Glódís Viggósdóttir conseguiu o empate na sequência de um livre lateral batido na esquerda por Magnúsdóttir com desvio ao primeiro poste (59′).

O encontro iria em definitivo mudar as suas características, com a Islândia a explorar mais as transições com a velocidade de Sveindís Jónsdóttir que teve um remate com perigo à baliza de Patrícia Morais e com Portugal a jogar alguns metros mais à frente com uma tentativa também muito próxima da baliza pela inevitável Jéssica Silva. Já dentro do último quarto de hora, Stéphanie Frappart ainda assinalou penálti por mão de Jóhannsdóttir mas o lance foi revertido após confirmação do VAR. Kika Nazareth, numa jogada individual acabada de entrar, ainda teve um remate por cima mas o jogo foi para prolongamento.

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Aí, Portugal demorou menos de dois minutos para fazer a festa e Diana Silva, isolada por Kika, correu quase meio-campo para fazer o 2-1 num golo tão festejado que as suplentes atravessaram todo o campo para abraçar a jogadora do Sporting (90+2′). Na segunda parte, numa jogada iniciada por Kika que passou ainda por Diana Silva antes do cruzamento de Andreia Jacinto, Tatiana Pinto fez o golo da noite com um fantástico toque de calcanhar na área que fez o 3-1 e sentenciou em definitivo a vitória (108′). Kika, no segundo minuto de descontos, fechou as contas depois de mais um bom trabalho individual na área.