A White Airways acusa a TAP de pôr em periogo a sua sobrevivência e o emprego de 120 trabalhadores. Em comunicado, a White Airways, detida pela Omni Aviation, ataca a transportadora nacional detida a 100% pelo Estado português pelo fim do contrato que tinha para operar aviões ATR.
Quando comunicou o fim do contrato — a partir de 31 de outubro — e a substituiçãoda White Airways pela companhia da Estónia XFly, a TAP teceu também críticas à White Airways, explicando a decisão pela falta de fiabilidade da White. “A White Airways tem vindo a operar uma frota de seis aviões ATR para a TAP, o que tem sido um desafio constante, com múltiplos aviões ATR a ficarem em terra por avaria e a registarem uma regularidade operacional decrescente”, disse a companhia, citada pela Lusa. “Só durante o último ano, a White Airways teve uma média mensal de 10 eventos AOG (Aircraft on Ground) devido a razões técnicas”, sendo que “entre novembro de 2021 e setembro de 2022, razões técnicas resultaram num agregado de 342 voos cancelados, com uma média de 31 voos cancelados por mês”. E, segundo a TAP, “só em setembro de 2022, a White teve 84 voos cancelados por razões técnicas”, com o acumulado do ano a atingir 1,9 AOG por 100 voos, quando o rácio da TAP é de 0,52 AOG por 100 voos.
A TAP disse mesmo que “desde janeiro de 2022, o baixo desempenho da frota ATR operada pela White teve um impacto financeiro negativo na TAP de 4,8 milhões de euros devido a cancelamentos, necessidade de troca de aviões com aumento de capacidade e indemnizações aos passageiros”. Esclarecendo que “a TAP tem vindo a pagar diretamente à White as horas de voo e a suportar os custos dos alugueres das aeronaves e das reservas de manutenção”, desembolsando entre 2016 e 2022 um total de 109 milhões de euros por horas de voo diretamente à White e 98 milhões de euros por alugueres de aeronaves ao serviço da White, mais 33 milhões de dólares para reservas de manutenção ao locador da aeronave. Em 2020 e 2021, a TAP pagou à White 24 milhões de euros.
A White, que diz ter contribuído já para o PIB português em 800 milhões, não gostou deste comunicado — que diz ser insultuoso — e agora devolve as acusações, dizendo que a decisão da TAP vai custar à empresa pública mais 20 milhões de euros.
“Para tentar justificar um ato de gestão em que a TAP, altamente capitalizada com recursos públicos, troca uma empresa portuguesa, que não recebeu nenhum apoio do Estado além dos disponibilizados para toda a economia, por uma empresa da Estónia, propriedade do Estado e apoiada por este no âmbito das compensações pelos impactos da pandemia, foi emitido um comunicado lamentável, hostil e lesivo do nome da empresa no tom e no conteúdo.
Para a White a gestão da TAP “quer tentar justificar o injustificável, ofendendo e lesando o bom nome de uma empresa portuguesa de serviços aeronáuticos com mais de duas décadas de operação no mercado, de criação de emprego, de obtenção de resultados positivos e de contributo para a economia nacional”. E recorda que a Omni pegou na White em 2006 com 72 colaboradores, garantindo que “desenvolveu a operação, cresceu, deu lucro e aumentou o seu número de colaboradores até um máximo de 297 colaboradores, criando desta forma 225 postos de trabalho”. Além dos postos de trabalho direto, tem ainda mais 36 postos indiretos, na manutenção do grupo.
A White Airways, até à crise pandémica, “era uma empresa com resultados positivos, exportava consistentemente serviços no valor de cerca 1/3 da sua faturação, contribuindo para o saldo positivo da Balança de Transações Correntes em cerca de 15 milhões por ano”. E agora diz que com este rasgar do acordo põe em perigo a viabilidade da companhia e 120 postos de trabalho, além de hostilizar “uma empresa que tem de ser parte da resolução do processo da devolução das aeronaves ATR, cujo leasing foi resolvido pela atual administração, com custos superiores aos pagamentos das mensalidades em vigor no contrato.” Aliás, acrescenta a empresa, a TAP declarou em agosto/setembro de 2021 o fim antecipado da utilização de toda a frota ATR – o que custará à TAP mais de 20 milhões de euros –, assumindo a White que tal se deveu ao reconhecimento de que “a fiabilidade de uma frota de turbo propulsão é sempre inferior a uma frota de jatos.”
A White diz que a TAP omite por outro lado que “um dos pressupostos da operação, da construção da fiabilidade e da regularidade, é a manutenção de linha (a que permite o despacho dos aviões), que, por imposição da TAP, era da responsabilidade da Portugália, empresa do universo TAP”. Foi por isso que a White diz ter-se disponibilizado para fazer essa mesma manutenção. Aliás, a White garante que “por diversas vezes a gestão da TAP recorreu a técnicos de manutenção da White, mas a orientação sempre foi a de proteger a Portugália, apesar dos reiterados prejuízos, em contraste com os resultados positivos da nossa empresa, até à pandemia”, além de ter contrato “um técnico de ATR, a peso de ouro, no pico do verão”.
É por isso que a White acusa a TAP: “O problema estrutural da manutenção da Portugália, que condicionou a operação da White, foi afinal o ponto central da construção de uma narrativa para a troca de uma empresa portuguesa por uma empresa não nacional, com prejuízo para o emprego, um ativo nacional e a economia nacional”.