O ministro da Educação do Luxemburgo reconheceu esta segunda-feira, em Lisboa, que os estudantes portugueses estão em desvantagem quando as suas famílias não falam a língua nacional e prometeu colaborar com o Governo português para melhorar a integração destas famílias.
Claude Meisch falava aos jornalistas no final da cerimónia de assinatura de dois protocolos que visam o reforço do ensino do português no Luxemburgo, nomeadamente a convenção sobre o ensino a adultos em língua portuguesa e a declaração conjunta luso-luxemburguesa sobre o ensino e promoção da língua e interculturalidade.
O primeiro protocolo visa precisamente responder a uma situação identificada por ambos os países e terminar com a desvantagem que os estudantes de origem portuguesa têm no acesso à escola, quando os pais não falam a língua luxemburguesa.
“Às vezes vemos que, para os que vêm de uma família que não fala nem compreende a língua nacional ou a língua do sistema educativo, isso é uma desvantagem”, disse o ministro da Educação Nacional e da Infância e da Juventude do Luxemburgo, Claude Meisch.
O protocolo agora assinado “permitirá organizar a formação de base de adultos no Luxemburgo em língua portuguesa”.
“O Luxemburgo é um país muito aberto, com muitas línguas e culturas diferentes (…) e encontramos essa situação nas nossas escolas, temos uma população escolar muito diversa e por isso diversificámos as nossas escolas”, disse o ministro, recordando que neste país foram criadas “várias escolas públicas internacionais para dar a todas os estudantes no Luxemburgo a possibilidade de escolherem a que corresponde à sua língua de origem, a sua cultura de origem”.
O objetivo, especificou, é a integração numa escola de pessoas de diferentes línguas e ‘background’ cultural.
O ministro disse ainda que o Luxemburgo, onde a comunidade mais significativa é de origem portuguesa (cerca de um terço da população total), está a adaptar o modelo escolar tradicional.
Entre as várias ferramentas que disponibiliza está a possibilidade de os adultos aprenderem o francês, dadas as dificuldades que têm com o alemão, a língua em que se aprende a ler e a escrever no Luxemburgo.
“Para nós é importante dar aos nossos estudantes regras e asas“, defendeu, considerando importante que estes “conheçam o passado da família quando os pais saem de Portugal para o Luxemburgo”.
“Não têm de esquecer o passado, a origem das suas famílias”, sustentou.
Anfitrião neste encontro que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, disse que os protocolos agora assinados são “a continuação de um trabalho que está a ser feito de boa integração da comunidade portuguesa e dos lusodescendentes, das novas gerações, na sociedade luxemburguesa, mas também de promoção da língua portuguesa“.
Cafôfo referiu que o Governo português incentiva a comunidade a “não esquecer as suas raízes, a língua portuguesa”, mas também a “aceitar e a integrar a cultura do país onde estão a residir”.
E disse que isso está a ser feito “em várias frentes“, nomeadamente na escola, no primeiro ciclo, com os professores portugueses, “mas também com a integração do português como língua no sistema escolar luxemburguês, seja nos cursos complementares, escolas de estudos internacionais públicos, ensino para adultos, com um aspeto muito importante: a certificação”.
“Queremos que as nossas crianças lusodescendentes tenham mais oportunidades, bem integradas na sociedade em que estão, nunca esquecendo a cultura e a língua portuguesa”, adiantou.
Sublinhou o que de mais inovador estes protocolos neste dia assinados trazem a este propósito, que é a formação de adultos, nomeadamente a formação em língua portuguesa dos professores do Luxemburgo.
“Não é só a questão de os nossos dos professores portugueses que estão a lecionar, mas também formar os professores luxemburgueses e isto é muito importante, quando a língua portuguesa está integrada no currículo escolar do Luxemburgo”, indicou.
E prosseguiu: “Estamos a crescer em número de alunos, seja no ensino paralelo ou integrado, temos este ano mais de 3.100 alunos, no ensino básico e secundário, mais 8,5% em relação ao ano passado e investimos três milhões de euros no Luxemburgo na promoção da língua portuguesa”.
“Há um investimento direto, nosso, mas também do Governo luxemburguês que quer e reconhece a importância da comunidade portuguesa, que é uma mais-valia no desenvolvimento do próprio Luxemburgo e o desenvolvimento e a integração são fatores determinantes nas políticas dos dois governos“, acrescentou.
Em 2019, das 291.723 pessoas que viviam no Luxemburgo, 613.894 tinham nascido no estrangeiro, das quais 83.666 nasceram em Portugal (28,7% dos nascidos no estrangeiro a residir no Luxemburgo), segundo dados do Observatório da Emigração.