Cerca de 50 alunos estão barricados na Escola Artística António Arroio, em Lisboa, impedindo a entrada de centenas de alunos. As atividades letivas estão suspensas. A chave do portão de entrada está na posse dos manifestantes e há bancos a barrar a entrada. Alguns estudantes estão a protestar no telhado da escola, outros estão aparentemente colados às janelas do edifício.

Em declarações aos jornalistas, o diretor da escola, Rui Madeira, admitiu que já está em contacto com o Ministério da Educação. Não consegue garantir que as aulas vão ser retomadas na sexta-feira, até porque “nunca” estaria “contra alunos que querem um mundo melhor”: “Eu confio nos alunos que tenho, não vou deixar de confiar até prova em contrário”.

Foi por isso que criou condições para que pernoitassem na escola sem enfrentarem “condições degradantes”, dando-lhes acesso às casas de banho, cedendo espaços para passarem a noite e fazendo “vista grossa” à utilização dos colchões guardados no ginásio. Mas todos os estudantes que estão a participar nas manifestações terão faltas injustificadas.

Rui Madeira sublinhou que, enquanto diretor da instituição, tem por dever assegurar que os protestos “não prejudicam o percurso escolar dos alunos”. E diz ter apresentado linhas vermelhas aos estudantes: a liberdade de protesto não pode condicionar a liberdade dos outros estudantes, caso contrário chamará a polícia — algo que o professor pensa que não será necessário. Aliás, quando os jornalistas lhe perguntaram se chamaria as autoridades, Rui Madeira respondeu: “Eu sou uma autoridade”. E acrescentou: “Estou a ver o que fazer, o poder que tenho enquanto diretor”.

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Mas, questionado sobre como responde aos estudantes que queriam ter aulas esta quinta-feira (mesmo simpatizando com a mensagem dos manifestantes), o diretor pensa que “não vem muito mal ao mundo” por a atividade letiva ter sido suspensa, assumiu: “Não somos coniventes, mas há uma coisa que é verdade: daqui tem de sair uma aprendizagem. Mesmo que não haja aulas, espero que aprendam alguma coisa”.

O protesto surge no contexto do movimento “Fim ao fóssil. Ocupa!” que decorre em seis escolas e universidades em Lisboa desde segunda-feira e que consiste na ocupação das instituições por parte dos estudantes. A Escola Artística António Arroio é, no entanto, a única no país em que as aulas foram suspensas. Porquê? O diretor só encontra uma justificação: “É a melhor escola do país”. “Sem falsa modéstia, é um sítio de liberdade, um sítio onde penso que se sentem bem”.

O funcionamento regular das aulas na António Arroio ficou comprometido e não há hora prevista para que estas sejam retomada. Há um grupo de alunos no telhado a gritar palavras de ordem e um deles, que falou com o Observador, diz que foram trancados pela direção da escola, que também terá confiscado telemóveis.

Segundo Gil Oliveira, um dos manifestantes que se encontra no telhado, ainda não houve uma resposta “oficial” por parte da direção, apenas “os discursos desmotivadores” que não os “vão parar”.  Os alunos dizem-se “trancados no telhado e sem acesso a água corrente: só têm meio garrafão de água, que têm de racionar entre todos”.

Rui Madeira não quis comentar os protestos que estão a decorrer no telhado: “Não vou dar enfatização a essa questão”, respondeu. Mas apontou o dedo à comunicação social pelo escalar das formas de manifestações: o diretor diz ter sugerido aos alunos que se dirijam às assembleias municipais e apresentem as suas reivindicações, mas “eles percebem e sabem” que “só havendo alguma luta, barulho e alguma confusão” vão conquistar a atenção dos jornalistas, argumentou.

O Observador tentou durante toda a manhã falar com a direção da escola mas em vão. Até ao momento a polícia não apareceu, passaram carros patrulha e não pararam, confirmaram os jornalistas do Observador no local.

Do lado de fora dos portões, os alunos que se deslocaram de propósito para as aulas não se mostram surpreendidos pelos acontecimentos. “Já sabia que, mais cedo ou mais tarde, isto ia acontecer”, diz uma aluna, que assistia a tudo do outro lado da rua. “Este pessoal não é para brincadeiras”, acrescenta, a rir.

Apesar da “chatice” do cancelamento das aulas, no geral, os alunos impedidos de entrar na escola apoiam a causa e dizem que “a revolta faz sentido”, mas questionam os métodos. “Não sei se esta é a melhor forma, mas se trouxer bons resultados, se calhar é. Era boa ideia eles ocuparem outros sítios públicos, irem para a porta do ministério”,diz outra jovem, do mesmo grupo.

Gil Oliveira adianta que o grupo teve várias formações sobre desobediência civil e estão “preparados para resistir, sempre de forma pacífica”. “Temos feito questão de manter a manifestação, dentro e fora da escola, pacífica”, declara. Não tem havido casos de violência “se não considerarmos que o diretor e os outros três professores, ao nos trancarem no telhado, estão a ser violentos”, diz o aluno. O estudante diz ainda que vários professores não concordam que “a ação do diretor esteja correta”.

O movimento está a causar alguma confusão na escola, pois nem todos estão satisfeitos com o facto de não terem aulas. Uma aluna disse à CNN que, não estando em desacordo com o protesto, contesta, no entanto, a forma: “Já partiram vidros e impedem-nos de entrar mas têm cartazes a dizer direito à educação”.

Estudantes dormiram no chão, em tendas, em colchões mas não abandonam as escolas em protesto contra os combustíveis fósseis