O Castelo de Santa Maria da Feira passa esta quarta-feira para a gestão do respetivo município, após 113 anos sob tutela da Comissão de Vigilância constituída por “notáveis da terra” que se substituíram ao Estado na preservação do imóvel.

A transferência de competências foi confirmada pelos ministérios da Cultura e da Coesão Territorial, com base em documento que delega na referida autarquia do distrito de Aveiro a responsabilidade não só pela gestão desse monumento nacional, mas também pela sua “valorização e conservação”.

Para o presidente da Câmara Municipal da Feira, Emídio Sousa, o encargo é bem-vindo porque era desejado “há muito tempo e faz todo o sentido”, embora a Comissão de Vigilância tenha feito um “trabalho de muito valor” e a colaboração entre ambas as instituições seja “para manter”.

“A comissão foi criada em 1909 por um conjunto de notáveis da terra que estavam preocupados com o estado de ruína e abandono do castelo e que se constituíram em grupo para tratar de o recuperar, como realmente fizeram. Estava-se num ponto em que até havia quem roubasse pedras do edifício e foram eles a travar isso, mas, passados estes anos todos, o que faz mais sentido é que seja o Município a assumir essa responsabilidade”, declara o autarca social-democrata à Lusa.

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Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o Castelo de Santa Maria da Feira está encerrado ao público desde o passado mês de setembro devido a obras de consolidação estrutural e reabilitação da sua muralha, numa empreitada decidida entre Câmara e Comissão de Vigilância, mas será sujeito a outras intervenções ao longo dos próximos anos, já sob a tutela exclusiva da sua nova gestão. Esses trabalhos serão baseados num projeto desenvolvido com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e já foram aprovados pela Direção-Geral de Cultura do Norte.

“Como tem fissuras até nos coruchéus das torres e isso está a causar infiltrações, o edifício precisa de obras urgentes e, já que é para intervir nele, vamos aproveitar para fazer outros melhoramentos, como tornar visitáveis áreas até aqui indisponíveis ao público, como o poço e a masmorra“, revela Emídio Sousa.

Adequar a tenalha à realização de eventos é outras das intervenções previstas, assim como garantir na generalidade do imóvel acessibilidade e mobilidade para todos – o que o autarca reconhece não existir na atualidade e justifica com o facto de que, nos moldes originais, “o castelo foi construído precisamente de forma a não ser acessível”.

A praça de armas do ex-libris local também deverá passar a acolher mais eventos, mas de teor selecionado “com algum critério” e realizados “sempre em condições que não prejudiquem a torre de menagem“.

Segundo a Direção-Geral de Cultura do Norte, o Castelo de Santa Maria da Feira é “um dos mais notáveis monumentos portugueses na forma como espelha a diversidade de recursos defensivos utilizados entre os séculos XI e XVI“, refletindo a diversidade de meios de defesa utilizados durante a Idade Média.

O edifício terá sido erguido no local de um templo indígena dedicado ao deus Bandeveluco-Toiraeco e, a partir de 1117, tornou-se o polo de “uma das mais importantes feiras de Portugal”, o que, com o tempo, originou o nome atribuído ao burgo envolvente.

À relevância militar do imóvel acrescenta-se a sua pertinência político-cultural, uma vez que foi “fundamental em todo o processo de Reconquista e de autonomia do Condado Portucalense”, nomeadamente no que se refere à Batalha de São Mamede, em 1128, “quando o alcaide do castelo, Pêro Gonçalves de Marnel, tomou o partido de D. Afonso Henriques contra D. Teresa e o conde de Trava”.

A partir de 1448, o edifício ficou na posse do nobre Fernão Pereira, que nele empreendeu algumas obras de reparação e reconstrução, transformando-o “numa residência apalaçada”. A muralha foi então adaptada às inovações balísticas da época e, com o seu remate de coruchéus cónicos, a torre de menagem foi reforçada com uma tenalha, para maior poder defensivo do conjunto.