Será sempre um desperdício iluminar sítios onde não há nada para ver. Os gastos de energia não são justificados em eventos que, perante os custos da luz, não retribuam com, pelo menos, entusiasmo. Talvez por isso o Estádio 974 tenha ficado às escuras quando o seu relvado carecia de entretenimento. Antes do minuto 44, momento em que o recinto ficou às escuras durante alguns segundos, não houve nada que ver.
O brilho foi ausência notada no Brasil-Suíça. Natural, o jogo não contou com a sua maior estrela. Neymar decidiu focar-se na recuperação da lesão que contraiu no tornozelo e não marcou presença no estádio junto da seleção brasileira. Envolta em monotonia, a partida correu com pouca presença junto das balizas -só Vinícius Jr ousou aproximar-se da área e rematar de forma desequilibrada (27′). Sommer foi obrigado a defender a esticar-se.
O Brasil alterou ligeiramente a forma de jogar em relação à vitória frente à Sérvia. A canarinha optou por se dispor em 4-3-3, jogando com três médios de raiz, Casemiro, Fred e Paquetá, abdicando de ter um homem nas costas do ponta de lança. Ao intervalo, Tite devolveu a matriz de jogo à equipa dispondo-a em 4-2-3-1 e lançando Rodrygo para a posição de segundo avançado. A equipa brasileira passou também, com a entrada de Bruno Guimarães, a ter mais soluções para construir a partir de trás. Com Éder Militão a atuar como lateral-direito, faltou sempre alguma largura no flanco destro, sendo Raphinha a abrir mais junto à linha.
A Suíça, em 4-2-3-1, aparentou lateralizar demasiado o jogo, mesmo quando, após recuperar a bola, tinha espaço para ir para a frente. O técnico Murat Yakin optou por uma estratégia de estabilidade. De resto, a equipa realizou uma exibição defensiva bastantes consistente, muito embora, na segunda parte se tenha dedicado exclusivamente a guardar a própria baliza.
Escasseavam momentos de interesse e, deste modo, houve até tempo para os adeptos repararem que Alisson Becker cortou o característico bigode que usou na primeira jornada. A segunda parte trouxe um Brasil mais incisivo, mas com dificuldade em entrar no último terço. Numa altura em que a Suíça subiu mais no terreno, Vinícius Jr fugiu para o golo (64′) e até bateu Sommer. O VAR anulou os festejo. No entanto, a insistência dos homens de amarelo foi recompensada. Casemiro (83′) encheu o pé e a bola entrou na baliza helvética após ter raspado em Akanji, mas sem perder o belo efeito que descreveu ao bater na rede.
Restava pouco tempo para loucuras suíças e, mesmo que o houvesse, a postura do Brasil não deixava antever que pudesse ser surpreendido. 1-0 corresponde ao que se passou no jogo: poucas oportunidades, mas superioridade brasileira.
A pérola
- A jogar mais por dentro ou a vir ao corredor para ter espaço para apostar no um contra um, Vinícius Jr foi o autor dos atos de maior irreverência correndo o risco de ser castigado por ser a exceção num jogo pautado pela apatia em alguns momentos. Bailou como só ele sabe.
O joker
- Casemiro apareceu onde não era suposto estar um médio defensivo. Foi importante para, na segunda parte, anular qualquer tentativa de transição ofensiva por parte da Suíça. Rematou com a convicção de um avançado na hora de fazer o golo.
A sentença
- O Brasil alcançou o apuramento para os oitavos e vai entrar na última jornada de consciência tranquila para defrontar os Camarões. A Suíça continua no segundo lugar do grupo G e depende apenas de si para seguir em frente. Desse modo, convém que os helvéticos vençam a Sérvia sob pena de, se os Camarões vencerem o Brasil, poderem ficar de fora dos oitavos se empatarem. A derrota com os sérvios envia os comandados de Murat Yakin para casa.
A mentira
- A primeira parte do Brasil não correspondeu ao que tinha mostrado diante da Sérvia e ao que mostrou na segunda parte desta partida. As ideias pareciam não surgir na cabeça dos jogadores brasileiros, muito embora, não conseguindo desenvolver futebol ofensivo primoroso, a canarinha também não tenha concedido oportunidades para que a Suíça acreditasse na vitória.