É uma vitória para os “falcões”. Num discurso no Parlamento Europeu esta segunda-feira, Christine Lagarde confirmou que o BCE vai, em dezembro, indicar como planeia reduzir o balanço do banco central (que “inchou” com a compra de dívida que começou em 2015 e cresceu ainda mais com os estímulos lançados na resposta à pandemia de Covid-19).
“Em dezembro, vamos definir os princípios básicos sobre a forma como vamos reduzir os volumes de dívida pública que foram adquiridos ao abrigo do programa de compra de dívida“, indicou Christine Lagarde, numa cedência a algo que já era pedido há vários meses por aqueles governadores mais avessos aos riscos de inflação.
Depois de sete anos marcados por uma política de “alívio quantitativo” (quantitative easing, ou QE), terá chegado a hora de o BCE seguir as pisadas de outros bancos centrais no movimento inverso, o aperto quantitativo (quantitative tightening, ou QT) – o que significa, na prática, que o BCE vai reduzir o valor total de títulos que tem no seu balanço como forma de drenar massa monetária do sistema financeiro.
“É adequado que o balanço seja normalizado, ao longo do tempo, de uma forma gradual e previsível“, disse Lagarde esta segunda-feira. No Conselho do BCE as opiniões dividem-se entre uma redução do balanço mais “passiva” ou mais “ativa” – o que, em termos simples, é a diferença entre passar a deter menos títulos por via de, à medida que o tempo passa, deixá-los atingir a maturidade (e não comprar novos) e, em contraste, juntar a esse efeito também a venda de títulos no mercado.
Esta é uma decisão muito relevante para países como Portugal, já que a forma como o BCE baixar o volume de Obrigações do Tesouro português será determinante para o equilíbrio entre oferta e procura de dívida pública portuguesa nos mercados. As taxas de juro a 10 anos, no mercado, rondam os 2,96% neste momento, afastando-se um pouco dos máximos das últimas semanas.
A francesa que lidera o BCE desde 2019 sublinha que “no cumprimento do seu mandato, o BCE está a fazer a sua parte para assegurar a estabilidade dos preços“. Este é mais um apelo, na senda de vários que já foram feitos por Christine Lagarde, para que os governos não contribuam para acentuar as pressões inflacionistas:
“No atual ambiente de inflação, a política orçamental precisa de ser ponderada de forma a não agravar as pressões inflacionistas”, afirma Christine Lagarde, repetindo que “os apoios orçamentais devem ser localizados, feitos à medida [apenas dos mais vulneráveis] e temporários”, afirma a francesa.
A presidente do BCE comentou que “não iria tão longe” ao ponto de dizer que a inflação já passou o pico. Mas garantiu que a taxa de subida dos preços irá, “eventualmente“, baixar.