“Harry & Meghan” caiu como uma bomba na imprensa britânica. A estreia da série documental da Netflix que pretende contar a história pelo lado dos Sussex aconteceu esta quinta-feira, 8 de dezembro, e foi seguida com antecipação pelos jornais. Alguns deles, como o The Guardian, já tinham liveblogs abertos meia-hora antes dos primeiros episódios serem libertados.
As reações estão a inundar os media, com muitos críticos a apontarem a enorme exposição que os Sussex estão a atrair sobre si depois de se afastarem da família real para terem uma vida mais privada. A porta-voz do casal, Ashley Hansen, já reagiu a essas acusações, declarando ao The New York Times: “o comunicado através do qual anunciaram a decisão de se afastarem nunca mencionou nada sobre privacidade e reitera o seu desejo de manterem as suas posições e deveres públicos.”
E acrescenta: “Qualquer sugestão contrária sublinha um ponto central da série. Eles estão a escolher partilhar a sua história nos seus próprios termos, e ainda assim os tabloides criaram uma narrativa totalmente falsa que se difunde na cobertura mediática e na opinião pública. Os factos estão mesmo à frente deles.”
As críticas estão a ser disparadas por cidadãos comuns, representantes políticos e até pela meia-irmã de Meghan, Samantha Markle, que já se ligou por videochamada a pelo menos dois programas de televisão britânicos para acusar Meghan de mentir.
O foco desta primeira parte recai, entre outros temas, sobre os primeiros tempos do romance entre o príncipe e a atriz americana. Conheceram-se no Instagram através de um amigo em comum e namoraram em segredo durante alguns meses. Harry compara a mulher à sua mãe, critica o assédio dos paparazzi e recorda uma infância marcada pelo luto e pela perseguição dos media. Os comentários dos tabloides sobre as origens raciais de Meghan também são recordados e os produtores optaram por incluir segmentos de contexto histórico do país e da exploração das suas ex-colónias.
Pode ler mais detalhes sobre a primeira parte no artigo do Observador. A segunda parte chega à Netflix com mais três episódios na próxima quinta-feira, 15 de dezembro.
“Quão baixo podem descer?”
No Daily Mail, uma manchete em destaque na manhã de sexta-feira perguntava “quão baixo podem descer?”, a propósito do clip em que Meghan faz uma vénia exagerada, replicando o momento em que conheceu Isabel II — que foi interpretado pelo antigo chef pessoal de Diana como “gozo”. O olhar de Harry sobre a mulher naquele momento “disse tudo”, acredita Darren McGrady, que trabalhou com a família real durante 15 anos.
“Eu conheço o Harry desde que peguei nele em bebé, enquanto a Princesa Diana comia cereais na cozinha do Castelo de Windsor”, continua, antes de lançar uma farpa a Meghan Markle: “Príncipe Harry, com todo o respeito, senhor, a sua mulher nunca vai ser como a sua mãe, nem semelhante. Eu conheci a Princesa Diana durante 15 anos. [Não se parece] nem um bocadinho.”
Nas redes sociais, as opiniões ecoam o sentimento de McGrady em relação à vénia. “Isto é grosseiro e impróprio. A Meghan parece um bully na escola”, escreve no Twitter o jornalista Benjamin Butterworth.
This is just nasty and unbecoming. Meghan looks like a school bully. https://t.co/4O11NqyZnU
— Benjamin Butterworth (@benjaminbutter) December 8, 2022
“Isso não é verdade, é uma mentira”
Samantha Markle, que também é tema na primeira parte, já veio a público classificar “Harry & Meghan” como um “flopumentary” (juntando a expressão “flop” a “documentário”) “ridículo” e “na fronteira com a comédia”, criticando o par por continuar a “impingir uma narrativa” cujas “mentiras foram desmascaradas”, como afirmou no programa Sunrise do canal Channel Seven.
Meghan, que tem uma relação próxima com a filha da meia-irmã, Ashleigh, explicou na série documental que não convidou a última para o seu casamento por “recomendação do palácio”, declarações que Samantha desacredita. “Uma fonte informada próxima da realeza disse-me que a decisão era de Meghan, por isso ela mentiu à minha filha, o que fez com que a minha filha ficasse rancorosa comigo”, disse.
“Isso não é verdade, é uma mentira. Eu descobri que a família real não disse isso. A Meghan é que disse isso e depois mentiu à minha filha e fê-la sentir que havia algo de errado comigo que a impedia de ir ao casamento”, continua, antes de abordar também as comparações à sogra. “Diana nunca foi apanhada a ser uma mentirosa compulsiva ou a destruir outras pessoas, ignorá-las depois de sofrerem ataques cardíacos, AVC, uma pandemia.”
Na noite de quinta-feira, já tinha estado no canal GB News a falar sobre a hospitalização do pai depois de ter um ataque cardíaco e sobre a troca de mensagens com Meghan quando esta começou a suspeitar que estaria em conluio com os tabloides britânicos. “É mentira atrás de mentira, atrás de mentira”, voltou a acusar.
‘It’s lie upon lie upon lie.’
Meghan Markle’s half-sister, Samantha Markle, speaks to Dan Wootton about Prince Harry saying his wife “doesn’t have a father”.
???? Freeview 236, Sky 512, Virgin 604
???? GB News YouTube: https://t.co/Wa58gYYAod pic.twitter.com/MrNmitH1RL
— GB News (@GBNEWS) December 8, 2022
“Está na altura de lhes retirar os títulos”
Também na noite de quinta-feira, o ministro do Trabalho britânico classificou os Sussex como “absolutamente irrelevantes para o país, o seu progresso e a família real”. Durante uma conversa no programa de televisão “Question Time”, na BBC, Guy Opperman disse que se recusaria a ver a série e apelou para que “toda a gente boicotasse a Netflix“.
Mas este não foi o único representante político a condenar publicamente o casal. Tim Loughton, membro do parlamento de East Worthing e Shoreham, pertencente ao distrito eleitoral de Sussex foi mais longe e declarou que os títulos de duques do condado lhes deveriam ser retirados.
As a Member of Parliament for a Sussex constituency and having been born in Sussex and lived most of my life here I am ashamed that this deeply embarrassing couple bear the title of our great county. It is time to take the title back from someone so clearly lacking any respect https://t.co/mVaGULjRIe
— Tim Loughton MP ???????? (@timloughton) December 8, 2022
“Como membro do parlamento de uma circunscrição eleitoral de Sussex e tendo nascido em Sussex e vivido aqui toda a minha vida… está na altura de retirar os títulos a quem claramente não tem qualquer respeito“, escreveu no Twitter. O tweet ia acompanhado do infame clipe da vénia.
Já Mark Jenkinson, membro do Partido Conservador, considerou na mesma rede social que a vénia de Markle foi “a derradeira traição”. E rematou: “E ele limita-se a ficar sentado a ver.”
The ultimate betrayal. And he just sits and watches. https://t.co/g7rHfQjNxy
— Mark Jenkinson MP ???????? (@markjenkinsonmp) December 8, 2022
“Caminho sem retorno” e a fúria de William
Segundo o The Mirror, “vários membros da família” acreditam que os duques se lançaram num “caminho sem retorno”, que não deverão ser convidados para passar o Natal em Sandringham e que William estará “absolutamente furioso” por Harry passar no documentário clips da controversa entrevista de Diana ao “Panorama”.
Segundo uma fonte do jornal, Harry terá contrariado a vontade do irmão ao mostrar as imagens, um tema no qual estariam alinhados. William ficará “furioso com razão”.
O fact-checking do The Times
No The Times, a abordagem foi mais objetiva. O jornal publicou na quinta-feira um artigo de fact-checking ao documentário, que desmancha os contextos em que algumas imagens usadas durante a edição da série. O primeiro revela que um plano em que se vê um grupo de paparazzi a mover-se para tirar uma foto não tem qualquer ligação que se conheça aos Sussex. Segundo o jornal, as imagens são do tribunal de Crawley, no dia em que a socialite Katie Price estava a ser sentenciada por conduzir sob o efeito de álcool.
Uma segunda cena de jornalistas em alvoroço em “Harry & Meghan”, revela o The Times, foi registada à porta de Michael Cohen em maio de 2019, no dia em que o ex-advogado de Donald Trump se preparava para começar a sua sentença de prisão por crimes fiscais. Nesse mesmo dia, o primeiro filho dos Sussex, Archie, estava a nascer no Reino Unido.