As coisas boas são instáveis. Quando conhecem um sítio instalam-se como se tivessem certificado de residência permanente, embora saibamos que saltam de lugar em lugar e, quando se ausentam, deixam espaço livre para a amargura e levam consigo o estado de alma positivo que cedem a outros credores.

O reino do leão acolheu, por um período que ia em sete vitórias consecutivas, uma energia que não tinha comparação com nenhum momento vivido pela equipa nesta temporada. O embalo verde e branco parecia vir para mudar a tendência de um campeonato em que os leões pareciam condenados a serem iluminados pelo fogo de artifício dos festejos dos adversários sem que tivessem sequer hipótese de fazer planos para um evento semelhante. Com o regresso às derrotas, o caminho voltou a ser sombrio. O empate do FC Porto diante do Casa Pia mostrava que o Sporting tinha condições de reduzir a distância para os dragões e aproximar-se do pelotão da frente.

Só que o futebol tem os seus riscos e encontros inesperados com o inusitado. Mesmo que, há menos de um mês, o Sporting tivesse recebido e vencido por 5-0 o Marítimo, em Alvalade, para a Taça da Liga, e os maritimistas apenas tivessem uma vitória somada esta temporada, as condições não se aliaram a um final previsível. Apesar de tudo, viu-se um Sporting com uma pulga atrás da orelha, tal como se depreende pela utilização de Coates que, se visse amarelo, falhava a visita ao Benfica. Ainda assim, o cuidado adiantou.

Ficha de Jogo

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Marítimo-Sporting, 1-0

15.ª jornada da Primeira Liga

Estádio dos Barreiros, no Funchal

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Marítimo: Marcelo Carné, Cláudio Winck (Paulinho 86′), Moises Mosquera, Matheus Costa, Vitor Costa, Rafael Brito (Beltrame 69′), João Afonso, Bruno Xadas, André Vidigal (China 85′), Leo Pereira (Edgar Costa 77′) e Percy Liza (Chuchu 69′)

Suplentes não utilizados: Miguel Silva, Kanu, Dylan e França

Treinador: José Gomes

Sporting: Adán, Porro, Inácio, Coates (St. Juste 75′), Matheus Reis, Arthur (Nuno Santos 56′), Manuel Ugarte, Mateus Fernandes (Rochinha 65′), Trincão, Edwards (Jovane 75′) e Paulinho

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Sotiris, Tanlongo, Ricardo Esgaio e José Marsà

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Cláudio Winck (56′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Edwards (12′), Rafael Brito (60′), Ricardo Esgaio (72′), Pedro Porro (81′), Paulinho (82′), Vidigal (85′), Mosquera (87′) e Carné (90+5′)

Na jornada 15 da Primeira Liga, que marcou a estreia de José Gomes como treinador do Marítimo em jogos caseiros — o técnico já tinha estado à frente da equipa em Vila do Conde –, a equipa entrou mais ameaçadora. Os verde-rubros conseguiam sair com frequência para o ataque e descobriam espaço no corredor esquerdo defensivo do Sporting, onde jogou Arthur, por Amorim querer poupar Nuno Santos que, se visse amarelo, também era ausência confirmada para o dérbi da próxima jornada. Num desses lances, Vítor Costa (7′) enviou uma bola longa na direção de Vidigal. O extremo conseguiu cruzar atrasado para Xadas que rematou perto da baliza de Adán num lance que, de tão prometedor, acabou por desiludir.

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O Sporting respondeu por intermédio de Paulinho (17′). Porro cruzou da direita e o avançado finalizou de pé esquerdo, obrigando Marcelo Carné a uma grande defesa. O guarda-redes maritimista estreou-se ao serviço do clube, tal como Leo Pereira, ambos reforços de inverno dos insulares.

Se Rúben Amorim surpreendeu com a colocação de Arthur a fazer todo o corredor esquerdo no 3x4x3 dos leões, José Gomes utilizou Vidigal nas costas do ponta de lança e Bruno Xadas como extremo do lado canhoto. Muitas vezes, o Marítimo criava superioridade no flanco com o aparecimento de Vidigal junto à faixa, gerando lances ofensivos de relevo.

Depois de um início de jogo animado, a calma instalou-se. O paradigma alterou-se quando os protestos sportinguistas ecoaram a pedir penálti sobre Porro. O lateral espanhol caiu na área (50′), mas o árbitro, Hélder Malheiro, não considerou que o lance fosse merecedor de castigo máximo. Logo depois (54′), o Mateus Fernandes pisou Percy Liza na área do Sporting e foi o Marítimo a ter uma ocasião soberana para marcar. Cláudio Winck (56′) não desperdiçou e deu a vantagem aos insulares que terminou com a série vitoriosa do Sporting.

A derrota por 1-0 na Madeira deixa o Sporting numa situação frágil para o dérbi no Estádio da Luz por se encontrar agora a 12 pontos do Benfica que lidera o campeonato. Na próxima jornada, o Marítimo vai a Vizela ainda no penúltimo lugar, mas com uma injeção de confiança para a luta pela manutenção, após a primeira vitória em casa esta temporada.