Os jogos das taças têm parecido um cenário apocalíptico para o Benfica em que a primeira coisa a sucumbir é o nível de desempenho. Desta vez, na visita ao Varzim para os oitavos de final da Taça de Portugal, não aconteceu. O fosso entre a Primeira Liga e a Liga 3 fica demonstrado com a diferença dos recursos individuais de cada plantel. É difícil, sem ferramentas, montar um percurso de salvação. No entanto, na caixa das arrumações, a superação é a primeira a saltar fora para se mostrar a quem abre o local de arrumo. Com recurso a ela, por vezes, o pequenos fazem-se gigantes. Mas também há dias em que ser grande não basta. A altura pode não ajudar quando o prémio está ao nível do chão.

Por isso, foi o rasteirinho Grimaldo a ter a primeira palavra a dizer num jogo em que o Varzim se agigantou, mas não chegou aos calcanhares de um Benfica em modo de voo depois da derrota em Braga para o campeonato. O lateral estava pouco conformado com a previsibilidade dos moldes em que a partida se estava a lançar: o Benfica dominante e o Varzim a descer no terreno sem travões que pudessem controlar o que quer que fosse. Como o mundo é dos loucos que querem alterar os trâmites da normalidade, só o espanhol acreditou que podia marcar aquele livre frontal e fazer a bola subir e descer até aterrar dentro da baliza do guarda-redes do Varzim, Ricardo.

Com o primeiro golo encarnado (4′), o Varzim acreditava menos que podia fazer ao Benfica o que fez ao Sporting. Era um percurso que já ia longo para os varzinistas na Taça de Portugal. Os poveiros tiveram que eliminar o Vila Meã (2-1, após prolongamento), o Feirense (1-0), o Sporting (1-0) e o S. João de Ver (1-0) até encontrarem os encarnados, que entraram mais tarde na prova e deixaram pelo caminho o Caldas (1-1, 5-3 nas grandes penalidades) e o Estoril (1-0).

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Em relação ao último jogo para o campeonato, o Benfica fez quatro alterações. As grandes novidades foram o regresso de Enzo Fernández e David Neres ao onze. Também Lucas Veríssimo e Morato tiveram direito a jogar de início e formarem dupla no centro da defesa. Já o Varzim, treinado por Tiago Margarido, fez cinco alterações em relação à vitória frente ao Fafe a contar para a Série A da Liga 3.

Devido à ausência de um médio defensivo tradicional, nomeadamente de Florentino, havia dúvidas em relação à forma como o Benfica ia montar o tradicional 4x2x3x1. Roger Schmidt escolheu Chiquinho para ser o centrocampista mais recuado, uma posição que, apesar de não se adequar às suas característica, não foi um problema devido ao facto da equipa passar a maior parte do tempo a atacar. Enzo Fernández jogou como médio de ligação e Aursnes, menos posicional do que os outros dois, mostrou-se muito dinâmico na procura da bola no espaço nas costas de Gonçalo Ramos. As faixas ficaram a cargo de Draxler e David Neres.

Ficha de Jogo

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Varzim-Benfica, 0-2

Taça de Portugal – Oitavos de final

Estádio do Varzim Sport Clube, em Lisboa

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Varzim: Ricardo, Tito, Bruno Bernardo (Hélder Barbosa 45′), Bonilla, João Faria, Tovar, Paulo Moreira (Diogo Ramalho 27′), Rúben Gonçalves (Jorge Vilela 77′), João Vasco (Ludovic 80′), Léo Teixeira e Onyeka (Rui Areias 45′)

Suplentes não utilizados: Longras, Sidónio, Cerveira e Gonçalo Ferreira

Treinador: Tiago Margarido

Benfica: Odysseas, Bah, Lucas Veríssimo, Morato, Grimaldo (Ristic 56′), Aursnes (Gil Dias 89′), Enzo Fernández, Chiquinho, Neres (João Mário 45′), Draxler (Florentino 56′) e Gonçalo Ramos (Henrique Araújo 88′)

Suplentes não utilizados: Helton, Samuel Soares, António Silva e João Neves

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Grimaldo (4′) e Enzo Fernández (78′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Rúben Gonçalves (50′), Hélder Barbosa (62′), Léo Teixeira (70′), Tovar (76′) e Enzo Fernández (85′)

O Varzim estruturou-se em 5x4x1. Tiago Margarido já tinha desvendado que a equipa ia procurar apostar em momentos de contra-ataque, mas a verdade é que os poveiros não tiveram muitas hipóteses de procurar essa situação do jogo, porque a circulação de bola do Benfica era segura o suficiente. Ao invés, os varzinistas, nos primeiros minutos do jogo, sempre que se chegavam à frente, tentavam montar uma pressão alta com os homens da frente, obrigando os encarnados a jogarem longo, oferecendo a bola a uma linha defensiva segura no controlo da profundidade. Apesar de se perceberem as ideias, o Varzim, por imposição do adversário, teve que se remeter ao seu meio-campo defensivo com os extremos, João Vasco e Léo Teixeira, a terem particular atenção ao acompanhamento dos laterais do clube da Luz, Grimaldo e Bah. Os longos períodos em organização defensiva não permitiram aos homens mais criativos do meio-campo, Rúben Gonçalves e Paulo Moreia, mostrarem as suas capacidades técnicas. 

O Benfica tinha o conforto do resultado e convinha gerir o ritmo do jogo para que não sobrecarregar os jogadores com um desgaste desnecessário antes do dérbi para o campeonato contra o Sporting. O relaxamento suscitou a oportunidade do Varzim espreitar o empate. Rúben Gonçalves (28′) ameaçou de cabeça depois de receber um lançamento lateral longo. No entanto, o Varzim que entrou mais pujante na segunda parte provocou um susto maior aos encarnados quando Tito caiu na área (50′), supostamente, derrubado por Grimaldo. Pediu-se penálti, mas o árbitro mandou jogar. O último lance perigoso para os poveiros teve como protagonista Diogo Ramalho (66′) que tentou um cruzamento e quase enviou a bola para as redes de Odysseas.

Apesar de não ter estado por Portugal na passagem de ano, apareceu para fechar as contas. Enzo Fernández (78′) recebeu de Chiquinho e fez o 2-o. Na celebração, ninguém o censurou a, com as mãos, dizer que ficava no Benfica e a bater no símbolo em sinal de orgulho num momento em que tem sido muito pretendido pelo grandes clubes europeus. Tudo está bem quando acaba bem e esta foi a forma de Enzo se reconciliar com os adeptos.

O apito final assinalou o término da carreira de Ludovic. Aos 32 anos, o antigo jogador de Feirense e Penafiel deixou os relvados e vai assumir um lugar na equipa técnica de Tiago Margarido. O mesmo som teve um significado diferente para os encarnados que seguem em frente para os quartos de final e ficam a aguardar pelo jogo entre Sp. Braga e Vitória SC, de Guimarães, para descobrirem o próximo adversário na Taça de Portugal.