Em quase duas horas de documentário são cinco os minutos que mais têm concentrado as atenções. “Pretty Baby: Brooke Shields” estreou-se na passada sexta-feira no festival de cinema de Sundance (chegará mais tarde à plataforma Hulu, em duas partes) e aborda, pela primeira vez, um episódio na vida de atriz que aconteceu há mais de 30 anos. “Eu não sabia se, quando ou se algum dia iria trazer isto à tona”, admitiu a modelo de 57 anos, tornada empresária, que recorda o dia em que foi violada por um profissional de Hollywood num quarto de hotel, quando estava nos seus vinte anos.

Shields, que não chega a identificar o agressor em questão, explica ao The Hollywood Reporter por que motivo decidiu tocar no assunto pela primeira vez. “Foram precisos muitos anos de terapia para poder falar sobre isso”, confessa. “Definitivamente trabalhei muito para isso, e aprendi a processá-lo”, continua. “E cheguei a um lugar, e chegámos a um momento na nossa sociedade, onde podemos falar sobre estas coisas muito mais abertamente”. Mais de três décadas volvidas, acredita poder ser o gatilho para “uma discussão muito mais vasta”.

[O trailer de “Pretty Babe: Brooke Shields”]

A Entertainment Weekly dá conta dos contornos da agressão. O ataque ocorreu pouco depois de Brooke se ter formado pela universidade de Princeton. Em busca de trabalho, encontrou-se com um homem para jantar e falar sobre a carreira. No final, “ele disse: ‘Volta para o hotel e eu vou chamar um táxi'”, explica Shields no filme. “E eu subo para o quarto do hotel, e ele desaparece por um tempo.” Quando regressou estava nu. No documentário a atriz explica ainda que não tentou fugir porque temia que provocasse mais violência física, com “medo de ser sufocada ou algo assim”.

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“Não ofereci resistência. Eu não. Eu simplesmente congelei. (…) Desci no elevador e apanhei o meu próprio táxi. Só chorei até chegar ao apartamento de um amigo meu.”

A atriz revela ainda que levou bastante tempo até processar toda a experiência enquanto uma agressão sexual, mesmo quando um especialista em segurança sentenciou “isso foi uma violação”.

Michael Jackson and Brooke Shields

Com Michael Jackson, em 1980, cuja amizade é tratada no documentário © Getty Images

A fita recua aos primeiros tempos como modelo e à já anteriomente comentada, e criticada, hiperssexualização de que Shields diz ter sido vítima ao longo da carreira. A Entertainment Weekly recorda o papel desempenhado com 11 anos, quando aparecia nua e beijava Keith Carradine, de 29 anos, no filme Pretty Baby, realizado em 1978 por Louis Malle (e cujo título é agora tomado de empréstimo pelo documentário). Aos 15 anos, apareceria em “A Lagoa Azul” e “Amor Infinito”, mais duas longas que incluíam cenas de sexo e nudez. Para não falar de campanhas icónicas, e não menos polémicas, como a dos jeans Calvin Klein.

Dirigido por Lena Wilson (o mesmo nome de “Miss Americana”, sobre Taylor Swift) “Pretty Baby” conta com Alexandra Wentworth e George Stephanopoulos como produtores executivos, e naturalmente toca em muitos outros aspetos do trajeto pessoal e profissional de Brooke Shields, da relação com a sua mãe, Teri Shields, à amizade com Michael Jackson. “Orgulhosa do corpo de trabalho”, Shields sublinha mesmo que “apesar de tudo, adora estar nesta indústria”, avaliando o seu tempo em Hollywood.