A Fundação de Serralves, no Porto, vai receber uma exposição do artista norte-americano Alexander Calder, que vai abordar a relação com o catalão Joan Miró, e uma mostra pensada por Dan Graham sobre arquitetura, anunciou esta quarta-feira a instituição.

A programação apresentada pela fundação tem como primeira nova exposição de 2023 a primeira mostra antológica da portuguesa Carla Filipe, em março, que levou o diretor do Museu de Arte Contemporânea, Philipe Vergne, a realçar que a instituição pretende ser uma “plataforma” para que artistas nacionais apresentem o seu trabalho.

Ao longo de 2023, Serralves vai acolher exposições da dupla Allora & Calzadilla, sediada em Puerto Rico, nos Estados Unidos, no que será também a primeira mostra retrospetiva dos artistas que vão dar aos visitantes “uma perceção do que é americano que não é uma América tão conhecida na Europa”, como salientou Vergne.

A dupla pratica um estilo artístico que o diretor do museu definiu como “arte como denunciante”, dando como exemplo a peça “Hope Hippo”, estreada na Bienal de Veneza de 2005, que consiste na estátua de um hipopótamo, sobre a qual uma pessoa estará sentada durante todo o dia, a ler um jornal, soprando um apito sempre que ler algo acerca de corrupção.

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Para além de mostras do fotógrafo português António Júlio Duarte, da canadiana Kapwani Kiwanga e da indiana Dayanita Singh, Serralves vai receber o colombiano Oscar Murillo, com o seu projeto “Frequencies”, que leva às escolas dos locais onde expõe telas em branco para que os alunos as possam preencher ao longo de meses, reciclando-as e reaproveitando-as para as exposições que faz.

Um dos principais destaques do ano em Serralves vai para uma exposição do norte-americano Alexander Calder (1898-1976), no Parque e na Casa, sendo construída “uma exposição em torno da amizade criativa que existiu entre Calder e Miró”.

Philippe Vergne disse que foi negociada com o Centro Pompidou, em Paris, a vinda de grande parte da coleção daquele museu da autoria de Calder, que raras vezes saiu da instituição francesa, tratando-se do que considera um “golpe” ter a possibilidade de a apresentar no Porto. A exposição vai intitular-se “Uma Linha em Equilíbrio” e vai estar em Serralves entre junho e dezembro.

O diretor do museu contou, na apresentação aos jornalistas, que havia abordado Dan Graham (1942-2022) para ser curador de uma exposição sobre arquitetura, algo que o artista ainda chegou a preparar antes de morrer, no ano passado.

“Vai abranger uma muito oblíqua, mas importante história da arquitetura pós-moderna”, afirmou Vergne sobre a exposição “A Arquitetura segundo Dan Graham”, que vai estar em Serralves entre outubro de 2023 e abril de 2024.

A exposição vai reunir “o trabalho de oito arquitetos que Graham considerava particularmente significativos: Atelier Bow Wow, Lina Bo Bardi, Itzuko Hasegawa, Anne Tyng, Johannes Duiker, Sverre Fehn, Kazuo Shinohara e João Batista Vilanova Atrigas”, segundo o plano de atividades do museu.

Nas artes performativas, Serralves – que este ano assinala o centenário do Parque – continua a receber o ciclo Vera Mantero, um projeto colaborativo entre CAConrad, Odete e Caty Olive, assim como uma homenagem a Mika Vainio, entre outras iniciativas.

Como já havia sido anunciado pelo ministro da Cultura, aquando da aquisição da coleção BPP pelo Estado, Serralves vai abrir a exposição “Ao cuidado de…”, com a antiga coleção do Banco Privado Português (BPP), agora na íntegra em depósito na fundação.

A presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, realçou que a abertura da nova ala do museu, cuja conclusão está prevista para antes do verão, com a inauguração a acontecer entre setembro e outubro, vai permitir ter um espaço para expor em permanência a sua coleção.

“Um museu não é um museu sem uma coleção, é a alma de um museu”, afirmou Ana Pinho, realçando que o que não existia vai passar a existir, abrindo a possibilidade de “captar novos arquivos, novos depósitos, através de novas doações”.

Para a nova ala está já prevista a exposição “Histórias Anagramáticas”, que vai colocar “em relação e diálogo as várias coleções e arquivos que constituem a Coleção de Serralves num percurso não linear pela arte dos últimos 60 anos”, indicou o comunicado.

Está ainda programada a exposição “Museu-Musa”, sobre o trabalho do arquiteto Álvaro Siza para museus e a sua evolução.

Questionada sobre a assinatura do protocolo com a Fundação EDP e o porquê da demora, Ana Pinho respondeu não ter novidades, lembrando que o que foi anunciado, em novembro de 2021, foi um memorando de entendimento entre as duas entidades e que o processo segue o seu percurso “normal” de negociação.