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Eustáquio, o peão que se tornou rei para ajudar uma equipa a fazer xeque-mate (a crónica da final da Taça da Liga)

Este artigo tem mais de 1 ano

FC Porto venceu, o Sporting perdeu e os dragões conquistaram a Taça da Liga pela primeira vez (0-2). Pelo meio, Eustáquio marcou, foi dos melhores em campo e voltou a mostrar que nunca foi só mais um.

O médio internacional pelo Canadá abriu o marcador da final da Taça da Liga
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O médio internacional pelo Canadá abriu o marcador da final da Taça da Liga

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O médio internacional pelo Canadá abriu o marcador da final da Taça da Liga

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A premissa já se tornou um hábito: uma noite fria de janeiro, uma cidade, um estádio construído para o Euro 2004 e duas das melhores equipas portuguesas a lutar pela terceira competição interna. Desde que a Taça da Liga foi reformulada e passou a incluir uma final four, em 2016/17, só Moreirense e V. Setúbal conseguiram intrometer-se nas finais disputadas por Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga. E este sábado, para não estragar a pintura, leões e dragões discutiam o título de Campeão de Inverno. 

Um título que, naturalmente, era encarado de forma distinta pelas duas equipas. Do lado do Sporting, que está no 4.º lugar do Campeonato e já foi eliminado da Taça de Portugal, a conquista da Taça da Liga poderia ser o único traço positivo de uma temporada que já se afigura complexa em termos de objetivos. Os leões já estão demasiado afastados da liderança da Liga, caíram da Liga dos Campeões para a Liga Europa e uma derrota na final da Taça da Liga seria o quase confirmar de uma época sem títulos — algo que não acontece desde 2019/20.

Ficha de jogo

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Sporting-FC Porto, 0-2

Final da Taça da Liga

Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Sporting: Adán, Pedro Porro, Gonçalo Inácio, Coates (Jeremiah St. Juste, 81′), Matheus Reis, Nuno Santos (Fatawu, 56′), Manuel Ugarte (Mateo Tanlongo, 84′), Morita (Arthur Gomes, 84′), Pedro Gonçalves, Marcus Edwards (Trincão, 81′), Paulinho

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Ricardo Esgaio, Jovane, Chermiti

Treinador: Rúben Amorim

FC Porto: Cláudio Ramos, João Mário, Pepe (Fábio Cardoso, 90+4′), Marcano, Wendell (Zaidu, 79′), Stephen Eustáquio (Bernardo Folha, 89′), Uribe, Otávio, Pepê (Gonçalo Borges, 89′), Galeno, Taremi (Danny Loader, 90+4′)

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Gabriel Veron, Rodrigo Conceição, Toni Martínez

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Stephen Eustáquio (10′), Marcano (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Manuel Ugarte (32′), a Pepe (63′), a Paulinho (63′ e 72′), a Pedro Gonçaçlves (67′), a Wendell (67′); cartão vermelho por acumulação a Paulinho (72′)

Do lado do FC Porto, que está no 3.º lugar do Campeonato e apurado para os quartos de final da Taça de Portugal, a conquista da Taça da Liga era mais empírica e espiritual do que propriamente desportiva. A meio de uma temporada que tem tudo para correr bem e tudo para correr mal — a Liga pode escapar, a Taça pode escapar, a Liga dos Campeões não ir além dos quartos de final –, os dragões olhavam para a terceira competição nacional como o primeiro de todos os objetivos que ainda perseguem. E, acima de tudo, olhavam para a Taça da Liga como o único troféu que ao fim de 15 edições, ainda não tinham conseguido ganhar.

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Neste contexto, em Leiria e num Estádio Dr. Magalhães Pessoa que já tinha recebido as duas meias-finais que ao longo da semana eliminaram Arouca e Académico de Viseu, Rúben Amorim voltava a lançar Pedro Porro no onze inicial. O lateral espanhol tem sido constantemente associado ao Tottenham, sendo cada vez mais provável a saída para a Premier League até ao fim de janeiro, mas este sábado era titular depois de ter sido suplente utilizado na partida contra os arouquenses. Já Sérgio Conceição mantinha a aposta em Cláudio Ramos, o guarda-redes das Taças, mas recuperava a titularidade de Galeno e Taremi depois de lançar Danny Loader e Gabriel Veron perante os viseenses.

O Sporting entrou aparentemente melhor, com mais velocidade e uma presença superior no meio-campo oposto, e o FC Porto optou por estudar os movimentos adversários e não subir as linhas de imediato. Toda a lógica da final mudou, porém, logo a partir do minuto 10: Pepê desequilibrou na direita e cruzou, Wendell resgatou a bola e deixou em Eustáquio, que de fora de área atirou um remate muito colocado que surpreendeu Adán e deixou o espanhol muito mal na fotografia (10′).

Os leões reagiram quase de imediato, com Edwards a colocar a bola no fundo da baliza depois de contornar Cláudio Ramos (13′), mas o lance acabou por ser anulado por fora de jogo do avançado inglês. Em desvantagem, a equipa de Rúben Amorim começou a correr atrás do prejuízo e alargou os setores e a presença na totalidade do relvado: Edwards destacava-se como o elemento mais inspirado dos leões e esse fator empurrava o jogo para o corredor direito, onde Porro ia assumindo o papel de principal desequilibrador. Na esquerda, Nuno Santos ia registando uma exibição manifestamente pobre, com muitas perdas de bola e alguma desconexão com a movimentação ofensiva.

Em oposição, naturalmente, o FC Porto respondia com pressão alta e uma estratégia de recuperação de bola que começava logo no meio-campo adversário — e que se preocupava essencialmente com o aproveitamento do erro do Sporting. Os dragões não voltaram a aproximar-se da baliza de Adán com perigo até ao intervalo e, do outro lado, os leões iam desperdiçando oportunidades. Cláudio Ramos defendeu um remate de Morita (24′), Porro acertou na trave e Pote atirou ao poste de forma consecutiva (36′) e Paulinho rematou por cima numa ocasião (42′) e permitiu a antecipação de Pepe noutro momento (45+1′).

Ao intervalo, depois de uma boa primeira parte de futebol, o FC Porto estava a vencer pela margem mínima mas o Sporting já tinha demonstrado uma e outra vez que pretendia ir atrás do resultado. Entre a qualidade individual de Edwards, as arrancadas de Porro e o oportunismo de Pote, os leões estavam vivos — mas, do outro lado, estavam uns dragões que mantinham uma solidez defensiva assinalável e contavam com uma noite inspirada de Cláudio Ramos.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos da final da Taça da Liga:]

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o jogo caiu em ritmo e intensidade, ainda que o Sporting mantivesse um natural ascendente e o FC Porto continuasse a atuar numa lógica de transição rápida. Edwards atirou por cima (49′), Otávio cabeceou ao lado (57′) e Rúben Amorim não esperou mais, promovendo a expectável saída de Nuno Santos para a entrada de Fatawu ainda antes de estar cumprida uma hora de jogo.

A partir desse momento, porém, a final entrou em queda livre. Tal como já tem sido habitual nos encontros recentes entre Sporting e FC Porto, o jogo e o futebol foram substituídos por quezílias e interrupções, entre muitas faltas e cartões e poucos remates e oportunidades. A cerca de 20 minutos do fim, um desses momentos acabou por desequilibrar as duas equipas: Paulinho, que tinha visto cartão amarelo 10 minutos antes, voltou a ser sancionado numa disputa de bola com Otávio e acabou expulso por acumulação. De um instante para o outro, os leões viam-se ainda a perder e já em inferioridade numérica.

Sérgio Conceição mexeu pela primeira vez já dentro do último quarto de hora, trocando Wendell por Zaidu na esquerda da defesa, e Rúben Amorim respondeu com as entradas de St. Juste e Trincão para os lugares de Coates e Edwards, lançando Tanlongo e Arthur pouco depois para colocar Pote no meio-campo. Já perto do fim, tudo ficou decidido: Pepê foi até à linha de fundo cruzar para o segundo poste e Marcano, praticamente sozinho, apareceu a cabecear para fechar as contas (86′).

O FC Porto venceu o Sporting e conquistou a Taça da Liga pela primeira vez, alcançando o primeiro dos três objetivos internos que tem para a temporada e deixando os leões, muito provavelmente, condenados a uma época sem qualquer título. E tudo começou, continuou e acabou com Stephen Eustáquio: o médio internacional pelo Canadá, que recuperou recentemente a titularidade depois de a ter perdido na sequência do Mundial, abriu o marcador da partida e mostrou novamente que é cada vez mais indispensável para Sérgio Conceição. Quase como um peão que se tornou rei para ajudar uma equipa inteira a fazer xeque-mate.

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