Os bilhetes para eventos na Crypto.com Arena, durante muitos anos conhecida como Staples Center, não são propriamente os mais baratos da NBA. Longe disso. No entanto, e para este encontro em específico, o que já era caro tornou-se uma autêntica fortuna: as entradas mais afastadas do campo e com visibilidade um pouco mais reduzida ficavam por cerca de 350 euros, os ingressos mais próximos das quatro linhas podiam chegar quase aos 30.000 euros. Era pela campanha dos Los Angeles Lakers? Não, claramente não. Era pela estreia de um reforço? Não, também não – embora Kyrie Irving pudesse ter rumado à equipa e não aos Mavericks caso os Brooklyn Nets não tivessem entrado numa “vingança”. Afinal, a receção aos Oklahoma City Thunder poderia ser um marco histórico na modalidade. E todos os olhos estavam centrados em LeBron James.

Como o próprio referiu após o último encontro, entre todos os objetivos que foi traçando na carreira nunca esteve aquele que estava prestes a concretizar. “Não consigo mesmo perceber… Fui estabelecendo uma série de metas. Queria ser o melhor rookie, queria sagrar-me MVP, queria conquistar campeonatos, queria chegar a All-Star, queria ser o líder das assistências, queria ganhar o prémio de Defesa do Ano. Nunca disse que tinha como objetivo ser o melhor marcador da liga, muito menos que queria ser o líder nos pontos de todos os tempos. Nunca sonhei com isso, é uma coisa de loucos…”, confidenciou o jogador de 38 anos. Não queria mas já se tinha tornado quase uma inevitabilidade. E estava a 36 pontos de alcançar essa marca.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Kareem Abdul-Jabbar, antigo poste escolhido no draft pelos Milwaukee Bucks mas que fez grande parte da carreira na NBA como jogador dos Lakers, era até aqui o líder indiscutível da lista com um total de 38.387 pontos ao longo de duas décadas na liga norte-americana de basquetebol. Antes de 1989, último ano de Kareem na NBA, Wilt Chamberlain, que conseguiu uma vez chegar aos 100 pontos num só encontro, não conseguira essa marca e ficara pelos 31.419. Depois, nem Karl Malone, nem Kobe Bryant, nem Michael Jordan chegaram também a essa fasquia. Parecia daqueles recordes como os 18,29 de Jonathan Edwards no triplo salto feitos em 1995 que muitos tentam mas ninguém consegue quebrar. Até agora, com a equipa de Los Angeles a sofrer mais uma derrota (130-133) mas com o número 6 a fazer mais 38 pontos. E isto apenas em encontros da fase regular porque nos playoffs o registo máximo já era seu com 7.631 pontos, bem à frente neste particular de Michael Jordan (5.987) e Kareem Abdul-Jabbar (5.762) e Kobe (5.640).

“Eu não me queixo, não estou aqui sentado para isso, mas às vezes é difícil. Há alturas em que só gostava de ter uma vida normal, em que só gostava de fazer coisas normais. Gostava apenas de sair para passear, gostava apenas de poder chegar a um cinema e sentar-me, ir ao quiosque e comprar pipocas. Gostava de ir a um parque de diversões como qualquer pessoa normal. Gostava de ir à Target algumas vezes, gostava de ir a um Starbucks e ter o meu nome escrito numa chávenas como qualquer pessoa normal. Mas não me estou a queixar, só estou a dizer que às vezes é difícil”, refletira LeBron James depois do último encontro dos Lakers. Se já era assim, depois de novo recorde ainda mais complicado ficará para aquele que foi o primeiro atleta de sempre ainda no ativo a chegar aos mil milhões de dólares de receitas entre ordenados e patrocínios.

“Nem nos meus melhores sonhos imaginei isto. Só quero agradecer aos adeptos dos Lakers. Vocês são únicos. Poder estar na presença de uma lenda tão grande como Kareem [Abdul-Jabbar] significa muito para mim. É uma lição de humildade. Por favor, deem uma ovação de pé ao capitão! À minha maravilhosa mulher, à minha filha, aos meus dois filhos, aos meus amigos… A todos os que alguma vez fizeram parte desta minha carreira nos últimos 20 anos… Mais de 20 anos. Só quero dizer que agradeço muito a todos porque não seria nada sem vós”, começou por dizer LeBron James após alcançar o histórico feito no final do terceiro período de um encontro que, a nível coletivo, voltou a penalizar e muito os Lakers.

“É surreal porque nunca foi um objetivo que tenha estabelecido. Nunca quis ser, verdadeiramente, o melhor marcador mas, agora, estou feliz por ser. Sei que posso jogar ainda durante mais alguns anos. Sei como me sinto e a forma como o meu corpo está a reagir nesta época. Tudo dependerá do meu estado de espírito. Se sentir que tenho motivação suficiente para disputar títulos, sinto que ainda conseguirei fazê-lo. É uma sensação surrealista poder jogar a este nível 20 anos depois da minha estreia e estar no auge das minhas capacidades”, acrescentou ainda num discurso onde não esqueceu a organização da NBA, o atual comissário Adam Silver e o mítico antigo líder David Stern. “Nunca, nunca, nunca num milhão de anos, sonhei com algo melhor do que aquilo que se passou esta noite”, rematou o número 6 da equipa de LA.

Agora, o base alcançou aquilo que não ambicionava alcançar mas que surgiu quase de forma natural depois de 20 anos na NBA, onde já defrontou nove “famílias” em campo entre pai (no início da carreira) e filho (nos últimos tempos). E tem uma grande meta daqui para a frente: poder jogar com o filho mais velho, Bronny, na mesma equipa em 2024/25. Ou seja, quem escolher o jovem recebe o pai como “oferta”…