André Ventura, do Chega, e António Costa Silva, ministro da Economia, trocaram palavras azedas no Parlamento a propósito das demissões no IAPMEI, ANI e nas mudanças do próprio Ministério.

O presidente do Chega questionou por várias vezes Costa Silva sobre a demissão da presidente da ANI. Costa Silva já tinha dito que a Agência iria melhorar, não há insubstituíveis e pediu, na primeira resposta no debate desta tarde, que não se deixem iludir com as demissões.

Costa Silva pede que “não se deixem iludir pelas demissões” na ANI. “Vamos melhorar ainda mais” a agência

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Mas André Ventura insistiu em saber porque se demitiu Joana Mendonça, tendo concluído que Costa Silva não quis responder sobre as razões. Mas este foi o caso que levou a uma troca de palavras entre deputado e ministro.

Para André Ventura, lembrando as demissões na ANI, no IAPMEI e no Ministério, acusou: “O que está em curso não é demissões. É uma purga política conduzida pelo seu ministério e por si. O que está a acontecer com demissões no seu ministério? Porque é que está a afastar as pessoas?”

E à pergunta, Costa Silva devolveu a acusação. “Tem mais experienciaê de purgas políticas no seu partido do que eu”.

E voltou a pedir, desta vez a André Ventura, para que “não se deixe impressionar pela luzes dos holofotes de demissões e mudanças”. E cita Luís de Camões, “o príncipe dos poetas”, que “o mundo é feito de mudança e as mudanças vão melhorar as organizações”.

Nesta troca de palavras, Ventura retorquiu: “Eu não faço purgas políticas. Eu ganho eleições e é a quinta vez que ganho eleições ao contrário de si que nunca ganhou eleições”. Costa Silva voltou a considerar que “os casos e casinhos que lhe interessam têm muito pouco significado, é a espuma dos dias”, e reforçou que teve reuniões com Joana Mendonça. E foi nesta resposta que voltou a elogiar o seu secretário de Estado da Economia “extremamente meticuloso e competentes” — com um aparte para Ventura (à semelhança, aliás, das críticas que já tinha feito, numa audição anterior, a Mariana Mortágua) “às vezes quando fala parece que os outros não valem nada, que tem a verdade do mundo na sua cabeça. O senhor deputado não tem uma única ideia para a economia do país. Eu percebo porque se refugia nos casos e casinhos”.

“Retrógrada”, “totalitária” e “obcecada com coisas erradas”. Em audição no parlamento, Costa Silva irrita-se com Mariana Mortágua

Num tom diferente, Carlos Guimarães Pinto, da IL, voltou a questionar Costa Silva sobre as demissões em catadupa. “os senhores deputados acusam muitas vezes o Governo de estar fossilizado, de não fazer nada, e quando se faz mudanças cai o carmo e a trindade. A mudança é parte da visa As equipas estão em avaliação contínua. Queremos ter as melhores pessoas, nos melhores lugares, para os organismos funcionarem como deve ser”. E recorda as mudanças no Banco de Fomento que diz “ter hoje uma dinâmica completamente diferente”. Não quer dizer que quem esteve antes não fez o seu trabalho. “Muitas vezes instilam novas dinâmicas, novas reorganizações e novo foco naquilo que tem de ser respondido” e finaliza com um conselho “leia a teoria das organizações”. Mais à frente no debate, quando voltou a ter a palavra, Carlos Guimarães Pinto aproveitou para fazer também uma recomendação, para que Costa Silva leia a “teoria das relações humanas.”

Ventura dramatiza e diz que corta a mão se PS ganhar eleições. Costa Silva responde: “Vai ter mesmo de cortar provavelmente”

André Ventura aproveitou o momento de perguntas para recordar o caso de Rita Marques que iria para um grupo hoteleiro a quem tinha concedido o estatuto de utilidade turística. Tal como já tinha dito ao Público, Costa Silva informou os deputados agora que não foram encontradas irregularidades nessa atribuição.

Indícios não apontam para qualquer irregularidade na atribuição do estatuto de utilidade turística da WoW que lhe concedeu bónus fiscais

O presidente do Chega recordou também o caso de Alexandre Reis e a sua indemnização quando saiu da TAP. E foram dois casos apontado para falar das futuras eleições legislativas, recordando as palavras de Costa Silva sobre o que diz ser política de suspeição relativamente aos membros do Governo.

Costa Silva: “Fico muito triste com um país que tem uma cultura de suspeição generalizada sobre tudo e todos”

Costa Silva respondeu: “Eu penso que, se queremos construir país democrático e uma sociedade em que as pessoas se respeitem, não podemos ter uma cultura de suspeição. O século XXI exige um respeito absoluto pelas regras estado direito, basilar no funcionamento das democracias”. E lembrou as palavras de António Costa, em entrevista à RTP, em que o primeiro-ministro admitiu que o Governo se pôs a jeito e cometeu alguns erros. Costa Silva recorda essas palavras e acrescenta que o Governo vai corrigir. E deixou os elogios ao primeiro-ministro dizendo que o Governo tem uma liderança forte “e já o provou em múltiplas circunstâncias”. E recordou que, mesmo depois de um período pandémico, o PS conseguiu uma maioria absoluta. “É extraordinário” e perante os riscos de Ventura Costa Silva reforçou: “É absolutamente extraordinário do ponto de vista político. Temos de confiar nesta liderança.

A deixa para André Ventura afirmar que “ninguém sabe quem vai ganhar [as próximas eleições]”, mas “eu cortava esta mão (direita) apostando em “como o PS não ganha outra vez eleições”. Mostrando a mão, repetiu a frase: “A minha mão está em jogo, veremos no futuro quem tem razão”. Assim que Costa Silva tomou a palavra, chegou a resposta: “Penso que vai ter mesmo de a cortar, provavelmente.”