A Caixa Geral de Depósitos aumentou os lucros anuais para 843 milhões de euros, um valor que compara com os resultados de 583 milhões de euros no ano anterior – é um aumento de cerca de 45%. O banco público deverá conseguir pagar um dividendo de 352 milhões de euros ao acionista (Estado), sujeito a aprovações por parte dos supervisores – mas a este dividendo irá somar-se um pagamento adicional pago “em espécie”, com a entrega ao Estado do edifício-sede em Lisboa.

Os resultados foram comunicados esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e foram apresentados em conferência de imprensa com a administração da Caixa, liderada por Paulo Macedo. O presidente da comissão executiva do banco público destacou que o banco, após pagar este dividendo (estimado) superior a 350 milhões, terá pago mais de 2.500 milhões de euros de reembolsos acumulados aos contribuintes e investidores que participaram no esforço de recapitalização pública (que teve uma componente privada).

Maria João Carioca, administradora com o pelouro financeiro, confirmou que poderá haver um dividendo adicional pago ao Estado será “em espécie”, através da entrega do edifício-sede em Lisboa para onde se vão transferir ministérios e funções do Governo.

Não temos ainda um valor“, porém, afirmou a administradora, não esclarecendo a valorização que irá ser feita neste negócio que envolve o edifício que é do Fundo de Pensões da CGD. Há alguma semanas, fonte do Governo disse à SIC que este pagamento em espécie estaria avaliado entre 280 e 300 milhões de euros e que seria parte do dividendo total, mas o banco esclarece que será um dividendo que acresce aos 352 milhões pagos regularmente.

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Este resultado, de acordo com a política de dividendos, corresponde ao maior dividendo da história da Caixa, no valor de 352 milhões de euros, continuando a contribuir para uma melhor remuneração do capital investido e a devolução aos contribuintes do esforço tido no âmbito do processo de recapitalização”, afirma o banco público.

Paulo Macedo recusou, porém, que seja provável que o valor da sede chegue aos 300 milhões de euros – “só por sorte” o valor chegará aí. “Será preciso avaliar o edifício, vai haver várias avaliações e depois tem de haver acordo e o valor será determinado”. O banqueiro diz que está à procura de um espaço para a sede de cerca de 30 mil metros quadrados, um terço do atual. Até janeiro de 2026 a Caixa deverá sair do edifício-sede.

O banqueiro, que foi referido como um nome possível para uma futura liderança executiva da TAP, disse, questionado pelo Observador na conferência de imprensa: “Quanto a voar não tenho nada marcado, não tenho nenhum convite, tenho aqui um mandato para cumprir e portanto é nisso que estou focado“.

“Situação perfeitamente controlada” no crédito à habitação

Paulo Macedo partilhou alguns números que ilustram o que, para o banqueiro, é uma “situação perfeitamente controlada” no crédito à habitação, mesmo com o súbito aumento das taxas de juro na zona euro. Os “números são bastante menores do que se poderia pensar”, disse Paulo Macedo, comentando que foram ou estão a ser renegociados cerca de 3.600 créditos, que inclui cerca de 2.000 que renegociaram os créditos até antes da entrada em vigor do decreto-lei apresentado pelo Governo em novembro.

O banqueiro explicou que foram aplicadas medidas como extensões de prazos, alterações de indexantes – e houve mais de 500 casos que houve alteração do “spread“. “Temos um conjunto de famílias que precisa da reestruturação e onde a taxa de esforço foi ultrapassada – e aí, naturalmente, foi renegociado” mas “temos clientes que mesmo ultrapassando as taxas de esforço não recorrem à renegociação, quer porque têm poupanças, quer porque têm outros rendimentos, quer património”.

Renegociações são “números que são bastante menores do que se poderia pensar”, diz Paulo Macedo.

Na Caixa, e na própria banca portuguesa, temos “números que são bastante menores do que se poderia pensar” e uma “situação perfeitamente controlada, com dificuldades claras em algumas famílias pontualmente, e outras famílias que mesmo estando em condições de beneficiar do decreto-lei não o está a fazer”.

Como vai evoluir a situação daqui para a frente? “Isso depende de fatores como poupança, do nível do emprego, do nível das taxas de juro” mas, pelo menos até ao momento, “não tivemos, felizmente, um grande afluxo dos clientes aos bancos“, afirmou Paulo Macedo.

“Caixa não sente que tenha comissões altas, pelo contrário”

O banco público reconhece que a “evolução das taxas de referência do BCE proporcionaram uma subida da margem financeira” de 44%. Este é o indicador que representa, em termos simples, a diferença entre aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos, BCE, etc.) e os juros que cobra nos empréstimos que concede. Esse saldo atingiu os 429 milhões de euros.

A Caixa ganhou, também, 606 milhões de euros em comissões e serviços, um aumento de quase 8% em relação à cobrança de comissões em 2021 – Maria João Carioca, administradora com o pelouro financeiro, sublinhou que este crescimento é inferior ao aumento global dos resultados (8% versus 45%) e que não se deve a mudanças relevantes no preçário mas, sim, a “maior transacionalidade” com clientes num ano em que não houve o impacto da pandemia que tinha havido em 2021.

Paulo Macedo garantiu que “a Caixa não sente que tenha comissões altas, pelo contrário” e sublinhou que, por não terem sido atualizadas as comissões à inflação, isso significa que há uma descida do valor real do comissionamento.

Se foi notícia que, entre as comissões que os bancos cobram estão, por vezes, algumas dezenas de euros para tirar uma fotocópia, Paulo Macedo diz que “nenhum banco quer tirar fotocópias para ganhar dinheiro, quer é ter os colaboradores disponíveis para quem quer tratar do seu crédito à habitação”.

Paulo Macedo diz que entre as comissões cuja cobrança mais aumentou estão comissões por uso de cartões (o que é “normal” se o consumo aumentou em 2022), comissões por seguros e por gestão de fundos de investimento, como são cobradas em todo o mundo, referiu o banqueiro.

Maria João Carioca, administradora financeira, confirmou que parte do dividendo será pago através da entrega do edifício-sede em Lisboa ao Estado.

O banco fechou 2022 com 515 agências em Portugal, menos do que as 542 que havia no final de 2021. Houve, também, uma redução de funcionários que fez com que o quadro diminuísse de 6.117 para 5.837 pessoas.

Os resultados da atividade internacional contribuíram com 193 milhões de euros para o resultado líquido da Caixa (grupo), um crescimento de 44% face a 2021 – “o maior resultado de sempre das entidades internacionais detidas”.