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"Swarm": a astúcia de Donald Glover e o brilho de Dominique Fishback

Este artigo tem mais de 1 ano

Sem paninhos quentes, “Swarm” avisa que não há coincidências. Até onde vai a obsessão por uma estrela pop? Um espectáculo que pode ser de horror e que se conta em sete episódios na Prime Video.

Dominique Fishback interpreta Dre, uma fã obcecada com Ni'Jah, artista ficcional que podemos associar à realidade de Beyoncé
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Dominique Fishback interpreta Dre, uma fã obcecada com Ni'Jah, artista ficcional que podemos associar à realidade de Beyoncé

Dominique Fishback interpreta Dre, uma fã obcecada com Ni'Jah, artista ficcional que podemos associar à realidade de Beyoncé

Uma das grandes estreias da HBO Max para este ano é a série “The Idol”, criada por Sam Levinson (“Euphoria” e “Irma Vep”) e Abel Tesfaye, ou The Weeknd. Ou se calhar já não vai ser, porque de repente ficou envolvida num imbróglio de mudanças de realizadores, novas filmagens e tudo o que isso implica e a coisa complicou-se. “The Idol” seria – e o condicional justifica-se pela confusão instalada, parece que já não será aquilo que prometeu – uma crítica à idolatria contemporânea, a partir de uma personagem, Jocelyn, Lily-Rose Depp (filha do Depp que está a pensar e de Vanessa Paradis), e a sua entrada num culto, liderado por The Weeknd. Tinha tudo para ser pertinente. Só que Donald Glover chegou-se à frente e no início de fevereiro foi anunciada a iminente estreia da sua nova série, “Swarm”, cujos sete episódios chegam de uma assentada nesta sexta-feira à Prime Video.

Porque é que “The Idol” importa nesta história? Porque Donald Glover acabou de lhe tirar toda a relevância com “Swarm”. Glover tem qualidades que fazem falta à televisão atual — ou à indústria do streaming. Tem coragem de correr riscos: não riscos de falhar as audiências, mas de fazer prosperar a realidade na ficção. Quando começa o primeiro episódio – aliás, qualquer um dos episódios – surge uma advertência de que a série é baseada na realidade e qualquer semelhança não é coincidência. Dito isto, Ni’Jah é uma espécie de Beyoncé, uma pop star que é a luz da protagonista, Dre (Dominique Fishback), e da amiga Marissa, interpretada por Chloe Bailey (ou Chlöe, do duo Chloe x Halle, curiosamente abençoada por Beyoncé).

[o trailer de “Swarm”:]

Foi assim com a série anterior de Glover, “Atlanta”. Começou discreta, com a premissa de “jovem à procura de rumo” e cedo se percebeu que estava ali para outra coisa, fosse para falar sem meias medidas sobre o racismo na sociedade norte-americana, sobre os vícios de fama na cultura de massas ou de nos atacar a nós, enquanto consumidores de cultura popular, através de um episódio absolutamente bizarro – e brilhante – com uma espécie de Michael Jackson no centro (se tem curiosidade, é o sexto episódio da segunda temporada). Acresce que não está só na indústria da televisão e cinema, Donald Glover é também Childish Gambino e agita as águas com a música que vai fazendo.

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“Swarm” começa com uma vantagem enorme sobre “Atlanta”: não precisa de fazer a cama, entra a matar. Criada juntamente com Janine Nabers (que colaborou com Glover em “Atlanta”), em “Swarm” ambos conhecem bem o que funciona, não funciona e como ir por atalhos. Melhor, por caminhos diretos, essenciais. Ajuda terem encontrado em Dominique Fishback a atriz ideal para o papel de protagonista. Fishback deu muito nas vistas em “The Deuce” e aqui tem um desempenho engenhoso, mordaz. Dre apresenta-se ao espectador como uma fã obcecada por Ni’Jah, pouco parece existir para lá disso. Numa das primeiras cenas aparece a comprar bilhetes caríssimos – com dinheiro que não tem – para um concerto da cantora, para ela e para Marissa, como prenda de aniversário.

O twist, por assim dizer, nasce na obsessão da fã pela estrela e de como Glover e Nabers rejeitam copiar formas de culto de celebridade. A devoção de Dre por Ni’Jah tem várias camadas e quase todas fogem a lugares-comuns. Desde cedo que se percebe que a ligação não vive só do presente, é também uma ligação ao passado. Dre e Marissa cresceram juntas e foram muito influenciadas pela cantora quando eram adolescentes e essa memória, o passado, a ligação, o tipo de devoção, existe como âncora para Dre recusar-se a entrar na vida adulta. Como se ao querer manter um tipo de fanatismo, de ideal, não tivesse de crescer e conseguisse estar num local onde foi feliz.

Curta e dura, “Swarm” cheira a coisa nova – sem o ser – num universo cada vez mais mastigado

Se isso é tangível na apresentação da personagem, reforça-se com a morte de Marissa no primeiro episódio. É aqui que “Swarm” se transforma, de espécie de comédia negra à volta do fanatismo, para série de terror, com Dre a manter um idealismo da relação que perdeu com a amiga ao começar a assassinar os que julga serem responsáveis pela sua morte e, noutro nível, pessoas que dizem mal de Ni’Jah nas redes sociais.

Dre faz tudo para atingir os seus objetivos. Atravessa os Estados Unidos para perseguir alguém, vivendo obcecada com o pedestal onde colocou Ni’Jah: Dre não vive com a intenção de conhecer a estrela, mas na obrigação de a proteger, enquanto mantém vivo um casulo de memórias. “Swarm” destabiliza, revolta, é inconveniente e apropriado para o consumo de massas contemporâneo: como critica o bipolarismo nas redes sociais e ataca a vulnerabilidade que a tecnologia – e o capitalismo tardio – criou em haver uma obrigação de defender ídolos e marcas.

“Swarm” existe num extremo e usa a linguagem visual para se mostrar relevante e contemporâneo. Glover aprendeu com “Atlanta” em como andar na corda bamba entre crítica e o entretenimento, entre o humor e o terror. Convivem bem e fluem no diálogo entre géneros: os apontamentos sonoros de filmes de terror, recorrentes, e usados como separadores para “algo se passa na cabeça de Dre” têm tanto de básico (num registo humorístico) com funcionais para a tensão de “Swarm”.

Curta e dura, “Swarm” cheira a coisa nova – sem o ser – num universo cada vez mais mastigado. Talvez seja a vontade de Donald Glover e Janine Nabers em tocarem no contemporâneo sem meias medidas, colocando o presente enquanto consequência ou porque tudo parece real quando se ataca alguém com um haltere sem aviso e num contexto pouco convidativo a tal ação. “Inesperado” é uma palavra que ocorre várias vezes durante o visionamento dos episódios de “Swarm”. E inesperado é também encontrar uma série assim neste presente.

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