É o maior volume anual até à data. Portugal fechou o ano de 2022 com 321 pedidos de patentes junto do Instituto Europeu de Patentes (IEP). São mais 35 do que no ano anterior, quando se tinha estabelecido um novo recorde nacional. No relatório partilhado esta segunda-feira, o IEP Patent Index 2022, é explicado que a evolução portuguesa dos últimos dois anos “contrasta com a redução nos pedidos de patentes por país da União Europeia em 2022 (-0,5%)”.

O Norte continua a ser líder do ranking regional, com 36,2% do total de pedidos. Mas Lisboa destaca-se “com o crescimento mais forte (um aumento de 38,6%), contribuindo para 25,3% do número total de pedidos portugueses”. Ao Observador, Telmo Vilela, conselheiro principal e representante para os Assuntos Institucionais do Instituto Europeu de Patentes, afirma que é “difícil de estabelecer” um “nexo de causalidade” entre o destaque da capital portuguesa relativamente aos pedidos apresentados por empresas e inventores e a Fábrica dos Unicórnios que Carlos Moedas idealizou para fazer de Lisboa uma cidade de inovação.

Lisboa congrega algumas das mais importantes universidades, centros de investigação e empresas e, portanto, acaba por ser natural que existam números consideráveis de pedidos de patente”, acrescenta, considerando que serão os próximos anos que vão permitir “tirar conclusões mais objetivas” sobre se existe ou não uma relação entre a Fábrica dos Unicórnios e os pedidos de patentes.

Fazendo um balanço, Telmo Vilela acredita que os números registados em 2022 são “positivos para Portugal” e mostram que há “cada vez mais conhecimento e uma sensibilização maior das empresas, das universidades e dos centros de investigação portugueses em relação à importância de proteger as suas criações intelectuais através do sistema de patentes” — que conferem, no seu entender, “uma vantagem competitiva muito grande aos seus titulares”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tabela 3. Instituto Europeu de Patentes

O Norte continua a liderar o ranking regional

Em Portugal, a tecnologia informática foi a área com mais pedidos de patentes apresentados junto do Instituto Europeu de Patentes, seguida das tecnologias médicas e farmacêuticas (que ocupam, respetivamente, o segundo e o terceiro lugares). “O número de inovações portuguesas mais do que quintuplicou na área da comunicação digital, sendo esta a tecnologia com maior número de pedidos de patentes no IEP a nível mundial”, detalha o IEP Patent Index 2022.

Pelo segundo ano consecutivo é a startup Feedzai que ocupa o primeiro lugar da lista de requerentes portugueses, ‘ouro’ que divide com a Universidade de Aveiro. As faculdades e centros de investigação têm destaque no top 10, ocupando seis lugares na lista dos candidatos requerentes. Para o conselheiro principal e representante para os Assuntos Institucionais do Instituto Europeu de Patentes é “muito importante” para a economia nacional que comecem a aparecer “empresas neste ranking“, como a NovaDelta. “O facto de estarmos a aumentar o número de pedidos depositados por empresas [e não apenas universidades e centros de inovação], nomeadamente pequenas e médias empresas” é um indicador “muito positivo para o nosso país”.

Tabela 2. Instituto Europeu de Patentes

A FeedZai ocupa o primeiro lugar da lista de requerentes portugueses — dividindo o lugar com a Universidade de Aveiro

A nível global, a Huawei (que já tinha liderado em 2021) foi a principal requerente em 2022, seguida da LG (que sobe um lugar face a 2021) e da Qualcomm (que salta de sétimo para terceiro lugar). Os cinco principais países de origem dos pedidos de patentes são EUA, Alemanha, Japão, China e França. Em declarações ao Observador, através de videochamada, Telmo Vilela destaca que os “números da China têm vindo a aumentar exponencialmente”, tendo “duplicado o número de pedidos dos últimos cinco anos”. Além disso, o conselheiro do IEP acredita que Pequim “rapidamente se aproximará ainda mais do top dos requerentes”.

Tabela 4. Instituto Europeu de Patentes

Huawei foi a principal requerente de patentes em 2022

Em 2022, a Europa continuou a ser um “mercado bastante apetecível em termos de inovação tecnológica, em termos também de proteção do sistema de patentes”. Telmo Vilela revela que é “curioso” verificar que entre os pedidos depositados no Instituto Europeu de Patentes 44% advêm de Estados-membros, “o que significa que o restante vem de fora da Europa”.

Questionado sobre a possibilidade de a situação económica portuguesa contribuir para a diminuição de pedidos de patentes durante este ano, o conselheiro principal e representante para os Assuntos Institucionais do Instituto Europeu de Patentes recorda que, por norma, as crises podem ter “um pequeno impacto a nível dos pedidos de patente”, que “rapidamente é recuperado”. “A seguir a uma crise,  normalmente os pedidos tornam a crescer, a crescer consideravelmente, sobretudo quando são crises mais relacionadas com fatores económicos”, afirma, estimando que a tendência é que os números continuem “estáveis”.