“Interdito a Cães e Italianos”

O francês Alain Ughetto recorreu à técnica da animação de volumes, artesanal e muito trabalhosa, mas visualmente recompensadora, para contar aqui a história da sua família de camponeses, oriunda do Piemonte, na Itália, e que acabaria por se instalar em França nos anos 30 do século XX. Há comédia mas também algumas tragédias nesta longa-metragem animada que é narrada por Cesira, a avó do realizador, o qual dialoga com ela e intervém diretamente no filme (ver o delicioso início, em que vemos as mãos de Ughetto a instalar o cenário, e os objetos e materiais que as personagens irão manejar e transfigurar). “Interdito a Cães e Italianos” celebra as raízes, a família e a sua memória e tradições, é inventivo na forma e justo no tom, e por isso até lhe perdoamos a vulgata esquerdista que se manifesta a certa altura.

“Margot”

Documentário de Catarina Alves Costa sobre a pianista e etnomusicóloga alemã Margot Dias (1908-2001), mulher do etnólogo português Jorge Dias. Entre 1957 e 1961, o casal participou em quatro missões etnográficas estatais ao Norte de Moçambique, onde Margot se dedicou a estudar a cultura Maconde, saindo de lá com muitas horas de filmagens e gravações de cerimónias, rituais, música e contadores de histórias, entre outros. A realizadora assenta este filme numa entrevista que fez em 1996 a Margot Dias e utiliza fotografias e imagens feitas por ela nessa altura, mostrando como a experiência a tocou profundamente para o resto da vida. “Margot” estreia em simultâneo no Cinema Ideal com “Dancing Pina”, de  Florian Heinzen-Ziob, que explora o legado deixado por Pina Bausch numa nova geração de bailarinos.

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“Toda a Beleza e a Carnificina”

A oscarizada realizadora americana Laura Poitras, autora de documentários como “My Country, My Country” e “Citizenfour”, ganhou o Festival de Veneza com “Toda a Beleza e Carnificina”, que se foca na vida e na arte da fotógrafa e ativista Nan Goldin, e também no seu combate para responsabilizar a farmacêutica Purdue Pharma, propriedade da família Sackler e produtora do analgésico OxyContin, pela devastadora crise dos opioides nos EUA, bem como os museus e instituições artísticas nos EUA e noutros países que receberam apoio financeiro daquela. Goldin, ela mesma uma antiga toxicodependente, criou para o efeito um grupo baptizado Perscription Addiction Intervention Now (P.A.I.N).

“Emily”

Neste filme que marca a estreia como realizadora da atriz australiana Frances O ‘Connor, Emma Mackey sucede, no papel de Emily Brontë, a autora do clássico O Monte dos Vendavais, a Ida Lupino, que a personificou em “Dedicação” (1947), de Curtis Bernhardt, e à francesa Isabelle Adjani em “As Irmãs Brontë” (1979), de André Téchiné. O’Connor oscila entre um esforço de autenticidade na localização da história, na recriação da época, na caracterização das personagens e da relação especial entre as três irmãs Brontë, e o seu único irmão, Branwell, e uma interpretação pessoal do mundo interior, da vida emocional e da psicologia de Emily Brontë. “Emily” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.