O investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2022 permitiu um retorno de 7,8 mil milhões de euros para a economia, graças ao impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade, conclui um estudo divulgado.
Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (Nova IMS) e que é esta segunda-feira apresentado no Centro Cultural de Belém (Lisboa), este retorno foi superior (mais 300 milhões) ao valor apurado em 2021 (7,5 mil milhões).
“Continuamos a ter um retorno muito significativo. Estimamos que o SNS, no ano 2022, por cada utilizador do sistema, tenha poupado 1,6 dias em absentismo e (…) o equivalente a 10 dias de trabalho em perda de produtividade”, explicou à Lusa o coordenador do estudo, Pedro Simões Coelho.
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De acordo com os dados do estudo, mais de metade dos portugueses faltou pelo menos um dia ao trabalho em 2022 por motivos de saúde e 6% faltaram mais de 20 dias. No entanto, a prestação de cuidados de saúde pelo SNS permitiu evitar uma ausência laboral equivalente a 1,6 dias, representando uma poupança de 700 milhões euros.
Os cuidados prestados no SNS permitiram ainda evitar 9,9 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 4,5 mil milhões de euros.
No total, somando o impacto no absentismo e na produtividade, o SNS permitiu uma poupança global de 5,2 mil milhões de euros por via dos salários.
Considerando o impacto da poupança por via dos salários e a relação entre produtividade/remuneração (valor referência do INE), o estudo conclui que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia de 7,8 mil milhões de euros.
Pedro Simões Coelho fala de uma “mudança significativa” em 2022 no equilíbrio do contributo que o SNS dá para o absentismo e para a produtividade e explica: “Nos anos de 2020 e 2021, o absentismo tinha sido muito significativo, provavelmente associado ao facto de serem anos de pandemia, e no ano 2022 há uma redução significativa do absentismo”.
“Já no caso da produtividade não é assim e o contributo do SNS até é superior ao dos anos anteriores”, acrescenta.
A este respeito, aponta ainda um outro fenómeno, relacionado com a mudança de paradigma trazida por uma diferente organização do trabalho após a pandemia: “Há muita gente que [agora] trabalha ou pode trabalhar em teletrabalho, o que significa que há muitas patologias que antes geravam absentismo e neste momento já não geram (…), porque as pessoas podem trabalhar em casa, mas podem continuar a ter algum impacto na perda de produtividade”.
“Até 2019, as pessoas que tinham uma infeção respiratória com alguma severidade, tinham de ficar três ou quatro dias em casa, até por uma questão de evitar o contágio aos colegas. Agora, ficam em casa, mas ficam a trabalhar. Pode haver uma quebra de produtividade, mas é uma situação completamente diferente”, acrescenta.
O trabalho, desenvolvido pela NOVA-IMS em colaboração com a AbbVie, Diário de Notícias e TSF, conclui que a atividade do sistema em 2022 subiu ligeiramente (2,2%), depois de um aumento significativo de 13,1% em 2021, o ano de recuperação da pandemia. Em 2020 este valor tinha caído 9,8%.
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O investigador aponta ainda dois outros “sinais positivos” nos dados recolhidos: a redução do deficit em 3% e da dívida vencida em 8%.