Um estudo a apresentar esta quinta-feira em Coimbra conclui que é fundamental investir em ações de sensibilização, formação e numa prática diária desde a infância para desconstruir os estereótipos de género nas escolhas profissionais.
O “Estudo sobre os estereótipos de género nas escolhas profissionais”, com 155 páginas, foi realizado no âmbito do Projeto Igual Pro – As Profissões não têm género e tem como “objetivo principal combater a segregação sexual nas escolhas educativas e vocacionais de raparigas e rapazes e a consequente segregação das escolhas profissionais” e “desconstruir os estereótipos de género associados às respetivas áreas de estudo e profissões, com especial enfoque nas áreas de formação em que se verifique uma efetiva segregação entre raparigas e rapazes”.
Realizado entre maio de 2021 e dezembro de 2022 junto dos formadores e dos jovens que frequentavam os cursos profissionais dos centros de formação dos parceiros do projeto, o estudo conclui que tanto uns como outros referem a existência de estereótipos de género que influenciam, quer a escolha das áreas de formação profissional, quer as vivências no local de trabalho.
Entre as várias recomendações, os autores do estudo sugerem “levar a cabo formações transformadoras de normas de género que promovam uma visão abrangente da igualdade de género e a alteração de atitudes e comportamentos, por forma a parar a transmissão intra e inter geracional de estereótipos”.
Sugerem igualmente a realização de “um estudo de investigação sobre o ensino profissional para aferir de que forma as medidas e estratégias com vista à promoção da igualdade de género, estabelecidas a nível nacional e internacional, estão a ser implementadas nas escolas profissionais em Portugal”.
Disponibilizar formação específica sobre igualdade de género ao pessoal docente do ensino profissional, para que estes tenham mais ferramentas para implementar esta temática junto dos formandos e coordenar uma estratégia com cobertura territorial ampla, estabelecendo parcerias com entidades externas para a organização e dinamização de sessões e/ou eventos em escolas de ensino profissional sobre a igualdade de género na formação e em contexto laboral são outras recomendações.
O estudo defende também a utilização de uma “linguagem inclusiva, de uma forma transversal, em todos os currículos do ensino profissional” e “repensar os conceitos utilizados para definir os diferentes tipos de ensino, no sentido de não contribuir para a perpetuação de estereótipos associados, depreciativamente, ao ensino profissional”.
O trabalho recomenda ainda a criação de mecanismos de denúncia e a investigação de casos de assédio sexual e moral, quer em contextos de formação profissional quer em contexto laboral, insistindo neste último ponto que “a prevenção de possíveis situações de assédio sexual e moral deve ser reforçada, tanto através de códigos de conduta, como através de ações de formação e sensibilização e da criação de mecanismos internos das entidades formadoras e empregadoras que monitorizem e detetem atempadamente situações desta índole”.
Desenvolver investigação no que diz respeito à igualdade de oportunidades ao nível da formação profissional, do acesso ao mercado de trabalho e da progressão na carreira, são outras das sugestões.
Os autores sugerem ainda analisar as diferenças entre os meios rural e urbano (litoral e interior) em Portugal, no que se refere à educação recebida, aos preconceitos transmitidos, às perceções do corpo docente sobre a Igualdade de Género e às ofertas/oportunidades existentes (como, por exemplo, os desafios que se verificam em relação à diversidade das mesmas no interior do país).
A este propósito, o trabalho destaca que os centros de formação profissional do interior de Portugal “partilharam um maior nível de consciencialização de outras realidades e necessidades, comparativamente aos Centros de Formação das áreas metropolitanas”.
“Por último, mas não menos importante”, defendem, é importante “incluir, em investigações futuras, não só outras identidades de género como também as questões da orientação sexual, no sentido de uma maior abrangência e compreensão profunda, dado serem aspetos que poderão levantar barreiras à contratação por parte das entidades patronais”.
O Projeto Igual Pro – As Profissões não têm género é financiado pelo Programa Conciliação e Igualdade de Género Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu 2014-2021 (MFEEE 2014-2021).