A conversa tinha sido gravada há algumas semanas, a entrevista passou agora para um total de 48 países em África através do canal sul-africano Super Sport. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, explicou alguns dos pontos que considera fundamentais para o sucesso num percurso com mais de 40 anos na liderança dos azuis e brancos e, a esse propósito, falou pela primeira vez não só do caminho ainda antes de chegar a número 1 dos dragões mas também do futuro, assumindo uma possível recandidatura nas eleições de 2024.

“Não faço ideia se me recandidato. Hoje, se tivesse que decidir, talvez me candidatasse. Mas ainda falta mais de um ano. Num ano acontece tanta coisa…temos de pensar em muitos fatores, no interesse do clube. Não fugirei à responsabilidade, se entender que sou necessário, mas um ano, no futebol, é muito tempo”, referiu, antes de voltar a reforçar que não se sente o único capaz de comandar o clube. “Há muita gente boa, o clube não é uma monarquia. Se não me candidatar, não vou interferir numa possível luta eleitoral. Apoiar este ou aquele, votar neste ou contra aquele. Naturalmente, exercerei o meu direito de voto mas quando votar ninguém saberá em quem. Estar a tomar a parte de alguém seria ajudar a dividir o clube. Os sócios é que têm de escolher. Têm-me escolhido a mim. Se eu não for candidato, têm de escolher outro. Apoiarei o que for eleito, mas até lá, não terei qualquer ação na campanha eleitoral”, salientou.

“O que me falta ainda fazer? O que me falta e vamos fazer é o centro de estágio. O Olival é um centro de treinos. Quando fizemos aquilo, a Câmara Municipal de Gaia, na altura com Luís Filipe Menezes, tomou o compromisso de fazer um hotel para os estágios mas nunca foi possível concretizar. Hoje temos em mãos um projeto que está já em aprovação. Foi feito o plano geral pelo arquiteto Manuel Salgado, que foi quem fez o nosso estádio e o pavilhão. Se não estiver totalmente pronto quando sair, espero que, pelo menos, esteja em andamento”, recordou Pinto da Costa, que abordou também a importância dos ex-jogadores no futebol.

“Os antigos jogadores, e tive também o Fernando Gomes, são fundamentais. Acho que é importante o contributo de pessoas que conhecem o futebol por dentro, porque se reparar nas televisões há programas que teoricamente são sobre futebol mas não se discute nada sobre isso. E as únicas pessoas que realmente acrescentam alguma coisa para o futebol são os antigos jogadores. É o Octávio, o Rodolfo Reis, o Calado, o Jorge Amaral… São vários que falam de futebol, os outros são postos ali para defender o Benfica, como se isto fosse uma guerra ou estivéssemos num tribunal permanente a discutir. Não faz sentido”, disse.

Pinto da Costa abordou ainda o “centralismo” que considera que “piorou e que é cada vez mais escandaloso”. “A minha luta não é do Norte, é do país contra o centralismo de Lisboa. Está cada vez pior. Acho que todos os nossos governantes juraram falso, a começar pelo nosso Presidente da República. Quando tomam posse, juram cumprir a Constituição, que diz que tem de haver regionalização. Eles são os maiores opositores a que ela se faça ou se discuta, a começar pelo Presidente da República. Se hoje a regionalização está fechada à chave na gaveta, o grande responsável é o Presidente”, referiu Pinto da Costa a esse propósito, que assumiu ter recebido convites “para vários cargos políticos”. “Se saísse do FC Porto não era bom para o clube e não havia quem estivesse disponível para assumir o lugar. O único cargo que poderia motivar-me era na Câmara do Porto, como presidente ou vereador, porque há muito por fazer no Porto”, destacou o líder portista.

“Portugal ainda não bateu no fundo, embora lamente que haja tanta gente a viver com tantas dificuldades. Já tive mais esperança em Portugal. O País está tão mal, cheio de impostos, a saúde está pior, há falta de habitação… Quando bater no fundo, há de aparecer alguém que veja que quem pode defender as causas dos seus habitantes são as regiões, porque conhecem os problemas e as dificuldades. Um senhor num gabinete em Lisboa não pode decidir o que quer que seja de Bragança ou Vila Real”, frisou Pinto da Costa, que salientou contribuir “com o que pode” para a instituição de apoio aos sem-abrigo do Porto onde há casos de “pessoas que já viveram bem e, hoje em dia, só almoçam porque a instituição serve almoços gratuitos”.

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