A Austrália vai banir a utilização de cigarros eletrónicos para efeitos recreativos, passando este tipo de produtos a estar disponível  apenas em farmácias e sujeitos a receita médica, estando prevista uma redução na variedade de sabores e alterações nas embalagens.

Os cigarros eletrónicos, também designados por “vapes“, estão a criar uma nova geração de cidadãos viciados em nicotina, explicou o ministro da Saúde da Austrália, Mark Butler, segundo a BBC. “Assim como fez com o hábito de fumar“, explicou o ministro, “a ‘grande tabaqueira’ criou outro produto aditivo, envolto numa embalagem brilhante e com sabores doces acrescentados para criar uma nova geração de viciados em nicotina.” O discurso foi feito esta terça-feira, durante o anúncio de várias medidas para combater aquilo que definiu como problema de saúde pública.

Ao contrário dos cigarros convencionais, os cigarros eletrónicos não contêm tabaco, mas sim um líquido misturado com nicotina que pode ter vários sabores e que é depois aquecido para que o seu vapor seja inalado pelos utilizadores. Para os especialistas na área da saúde, estes aparelhos não estão isentos de risco e é ainda incerto o impacto que têm na saúde dos consumidores a longo prazo.

O vaping foi vendido aos governos e comunidades em todo o mundo como um produto terapêutico para ajudar fumadores de longo prazo a desistir [de fumar]”, afirmou o ministro, segundo a CNN. “Não foram vendidos como produtos recreativos e não foram criados em especial as nossas crianças. Mas foi nisso que se tornaram, no maior buraco negro da história da Austrália.”

Na Austrália, um em cada seis jovens entre os 14 e os 17 anos fumam cigarro eletrónico e um quarto das pessoas entre os 18 e os 24 anos utiliza estes produtos. Já pelos 50 anos, apenas um em cada 70 indivíduos fuma através de um cigarro eletrónico. O ministro da Saúde explicou que os produtos de vaping estão a ser desenvolvidos especificamente para os jovens e que isso faz com que estejam estão vezes disponíveis “perto dos chupa-chupa e das barras de chocolate” nas lojas de conveniência.

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De entre as novas medidas a ser implementadas na Austrália estão a obrigatoriedade de apresentar receita médica para adquirir cigarros eletrónicos e a adoção de embalagens semelhantes àquelas utilizadas para guardar os medicamentos. Além disso, serão impostas restrições no tipo de sabores, cores e concentração de nicotina que os produtos poderão ter. Mark Butler ressalvou que será facilitado o acesso a receita médica para a utilização dos cigarros eletrónicos com fins terapêuticos.

Chega de haver sabor a pastilha elástica, unicórnios cor de rosa e vapes disfarçados de marcadores para as crianças esconderem nos seus estojos”, afirmou o ministro da Saúde.

À CNN, Wayne Hall, professor na Universidade de Queensland, aprovou a proibição, considerando que é um meio de impedir os mais jovens de continuarem presos neste problema de saúde pública. O catedrático alertou, porém, para a necessidade de aumentar os esforços para assegurar que os fumadores possam adquirir facilmente produtos de vaping aprovados.

Em reação, o líder do Partido Nacional, David Littleproud, considera que as medidas na Austrália devem assemelhar-se às políticas adotas na Nova Zelândia, através da regulação dos vapes de nicotina, de forma semelhante à que existe nos cigarros convencionais.

Em Portugal, a DGS desaconselhou, em 2019, o uso de cigarros eletrónicos, por falta de dados que apontem para um risco de saúde inferior ao uso de cigarros convencionais. À data, vários estudos apontavam para problemas de saúde graves relacionados com o consumo de cigarros eletrónicos.

Afinal, o que diz (mesmo) a ciência sobre os cigarros eletrónicos? Os dois lados da controvérsia analisados à lupa

Um estudo publicado no American Journal of Physiology afirmava que “a exposição aguda a cigarros eletrónicos causa inflamação” e problemas relacionados com o endotélio em indivíduos jovens, saudáveis e não fumadores. O endotélio é uma camada que reveste a parede interna de todos os vasos sanguíneos, e importante para regular a pressão arterial. Outros estudos apontavam para complicações como a asma, a doença pulmonar obstrutiva crónica e a inflamação, além do aumento do risco de contrair cancro.