A 1 de outubro de 2017 o PSD quase perdeu as eleições para a Junta de Freguesia do Areeiro depois de a lista encabeçada por Ofélia Janeiro ficar a 100 votos do adversário Fernando Braancamp. Esta foi uma das freguesias lisboetas em que o PS alegadamente preferiu ir a votos com uma candidatura fraca, com o objetivo de permitir ao adversário segurar o lugar em troca de aprovações de orçamentos municipais futuros. As alegações do Ministério Público reveladas pela TVI/CNN Portugal apanham a militante do Livre de surpresa, que garante ao Observador não fazer ideia de “como é que as coisas foram cozinhadas”, mas com a certeza de que os planos “iam saindo furados”.

“Surpresa” é também a palavra usada por Sofia Cordeiro para descrever o momento em que soube dos factos que fazem dela um peão no meio de um acordo entre os dois maiores partidos portugueses: “Nunca fui chamada para ser ouvida e nunca tive qualquer tipo de informação que confirme ou desminta estes dados”. A candidata apoiada pelo Partido Socialista e o Livre fez na freguesia da Estrela um resultado pior do que o PS tinha feito nas autárquicas anteriores, quatro anos antes. Perdeu dois mandatos e 454 votos, ainda assim um resultado que considera bom tendo em conta o “tecido social da freguesia que favorece os votos à direita”.

O Livre escolhe os candidatos que leva às diferentes eleições através de eleições primárias abertas e foi dessa forma que Ofélia Janeiro e Sofia Cordeiro foram escolhidas. Quando as primárias se realizaram ainda não havia acordo de coligação com o PS para Lisboa e por isso o plano A era assumirem a liderança das listas para o partido concorrer sozinho.

Ambas desconhecem o caminho que foi feito até ao momento em que foram escolhidas para lideraram as listas às freguesias da Estrela e do Areeiro. Ofélia Janeiro explica que “havia uma comissão”, mas não se lembra de quem a constituía. Sofia Cordeiro também não consegue acrescentar detalhes fazendo apenas referência à necessidade de concentrar esforços nas juntas lideradas pela direita: “Não fazia sentido apresentar uma candidatura para substituir um presidente do PS em funções”.

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Em entrevista à Rádio Observador, Rui Tavares entra em maior detalhe, explicando que foi o próprio Livre que quis encabeçar a corrida a juntas de freguesia “detidas pela direita”, mesmo sabendo que eram mais “difíceis” de conquistar. Em cima da mesa também terá estado uma candidatura liderada por um membro do Livre em Carnide, mas acabou recusada porque Rui Tavares achava que o PCP estava “a fazer um bom trabalho”. A convergência à esquerda sempre presente nos discursos do partido é puxada várias vezes para a conversa pelas duas candidatas, mas também pelo líder do Livre que volta a falar no resultado de Ofélia Janeiro como o mais próximo que a esquerda alguma vez esteve de derrotar Fernando Braancamp no Areeiro.

Tranquilas com as alegações que vieram a público esta semana, as duas candidatas autárquicas criticam o foco da investigação nas freguesias em que os resultados não foram positivos. “A narrativa não cola” se olharmos para os resultados das Avenidas Novas, em que o PS ganhou e tirou o poder ao PSD, diz Sofia Cordeiro.

Recuando seis anos, nem uma nem outra têm razões de queixa do apoio dado pelo Partido Socialista, em particular do comprometimento assumido por Fernando Medina. Ofélia Janeiro fala em “algumas ações de campanha”, lembrando em particular a “descida da Guerra Junqueiro” que contou com o então presidente da autarquia lisboeta e que viria a ser reeleito nessas eleições. Também Sofia Cordeiro refere “várias ações de campanha” com a presença de Medina em que se sentiu “muito apoiada”, apoio que também surgiu de outros quadrantes do PS nomeadamente a Juventude Socialista que foi “inexcedível”.