“Anatomie d’Une Chute”, de Justine Triet, venceu a Palma de Ouro da 76ª edição do Festival de Cinema de Cannes. O filme da realizadora francesa sobre a história de uma mulher acusada do homicídio do marido que prende a audiência no processo (duvidando sobre a culpa ou inocência da personagem) era um dos favoritos e foi o grande vencedor da cerimónia que aconteceu este sábado.

“É o filme mais intimo que já escrevi”, disse Triet em palco, num discurso em que dedicou o prémio a “todas as realizadoras e realizadores e a todos aqueles que não conseguem fazer filmes hoje”.

É apenas a terceira vez na história que a Palme d’Or é entregue a uma mulher realizadora. Primeiro foi à neozelandesa Jane Campion, em 1993, com “O Piano”. A segunda vez aconteceu há dois anos, com a francesa Julia Ducournau a conquistar o prémio com “Titane”.

O júri da competição do Festival de Cannes este ano foi presidido pelo realizador sueco Ruben Östlund (“Triângulo da Tristeza”, “O Quadrado”), que liderou uma equipa de oito jurados: Julia Ducournau, Atiq Rahimi, Damian Szifron, Rungano Nyoni, Maryam Touzani, Paul Dano, Denis Ménochet e Brie Larson.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Grande Prémio do festival foi para “The Zone of Interest”, de Jonathan Glazer, filme sobre o holocausto com base no livro do escritor britânico Martin Amis (que morreu na semana passada). “Zona de interesse” era o nome utilizado pelos nazis para designar a área de 40 quilómetros quadrados que rodeava o campo de concentração de Auschwitz. No ano passado, o Grande Prémio do festival foi dividido por “Close”, de Lukas Dhont, e “Stars at Noon”, de Claire Denis.

Abaixo o restante palmarés:

Prémio do Júri – “Fallen Leaves”, de Aki Kaurismaki

Melhor Interpretação Masculina – Koji Yakusho, por “Perfect Days”, de Wim Wenders​

Melhor Interpretação Feminina – “Merve Dizdar”, por Les Herbes Sèches, de Nuri Bilge Ceylan

Melhor Realização – Tran Anh Hung, por “La Passion de Doudin Bouffant”

Melhor Argumento – Yuji Sakamoto, por “Monster”, de Hirokazu Kore-eda

Cineasta acusa governo francês de “mercantilização da cultura”

No palco, a realizadora Justine Triet utilizou o tempo do discurso de vitória para recordar as manifestações em França contra o aumento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos. “O país foi atravessado por um protesto histórico extremamente poderoso e unânime contra a reforma das pensões”, disse sobre o movimento que descreveu como “chocantemente negado”.

A cineasta que venceu o prémio máximo do certame denunciou aquilo que considera ser uma “mercantilização da cultura que o Governo neoliberal defende” e acusou o executivo de Emmanuel Macron de promover um sistema de financiamento do cinema complexo, sujeitando a indústria a um “esquema de poder dominador”.

Pouco tempo depois, a ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, reagiu às acusações. “Estou espantada com o discurso injusto”, escreveu no Twitter. “Este filme não teria sido possível sem o nosso modelo francês de financiamento cinematográfico, que permite uma diversidade única no mundo. Não nos esqueçamos disso”, acrescentou.

Notícia atualizada às 22h59 para incluir o discurso da realizadora e as declarações da ministra da cultura francesa.