Portugal regista, no conjunto de 11 países, a maior prevalência de insuficiência cardíaca em adultos, indica um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), esta segunda-feira divulgado, que alerta para a importância do diagnóstico precoce destas doenças.

De acordo com dados remetidos à agência Lusa, Portugal regista uma taxa superior de prevalência de insuficiência cardíaca face à registada em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia, Suíça, Canadá e Israel.

Estes dados constam do estudo CardioRenal and Metabolic disease (CaReMe) Heart Failure — em português “Doença Cardiorrenal e Metabólica (CaReMe) Insuficiência Cardíaca” — no qual participou o investigador da FMUP e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Tiago Taveira-Gomes, em colaboração com Cristina Gavina, professora da FMUP e cardiologista da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM).

O estudo foi realizado com o objetivo de conhecer a prevalência, as principais doenças e os custos associados à insuficiência cardíaca em 11 países e foram analisados dados clínicos eletrónicos de mais de 600 mil pessoas com diagnóstico de insuficiência cardíaca, numa população superior a 32 milhões de adultos.

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Os custos por doente foram analisados por um período de cinco anos e os resultados indicam que a insuficiência cardíaca afeta, em média, 2% da população.

Mas os autores avisam, conforme se lê no resumo do estudo enviado à Lusa, que “há muitos casos por diagnosticar e que, por isso, a prevalência deverá ser superior”.

Portugal regista a maior prevalência (2,9%), enquanto o Reino Unido a menor (1,4%).

A idade dos doentes era, em média, de 75 anos, acima da idade média dos doentes incluídos em estudos anteriores e quase metade dos doentes também tinha doença cardíaca isquémica e um terço tinha diabetes.

Cerca de 50% tinha doença renal crónica em fases mais avançadas.

Outra das conclusões aponta para taxas elevadas de descompensação da insuficiência cardíaca e também para um elevado risco de complicações cardiorrenais (19,3 complicações em cada 100 doentes) e de morte.

Neste estudo, 13% dos doentes morreram ao fim de um ano.

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É também descrito que a maior taxa de hospitalizações está relacionada com a presença de insuficiência cardíaca e doença renal crónica.

Os investigadores alertam, por isso, que é crucial detetar precocemente problemas renais em doentes que sofrem de insuficiência cardíaca.

Em relação aos custos hospitalares, a maior parte é atribuída a hospitalizações por problemas cardíacos e renais, o que, para os autores mostra “a necessidade de aumentar a prevenção e a monitorização cardiorrenal nestes doentes”.

Estima-se que a insuficiência cardíaca afete 64 milhões de pessoas em todo o mundo.

“Espera-se que os novos casos aumentem devido ao envelhecimento das populações e à melhoria dos exames de diagnóstico. Em termos de despesa, a Europa e os Estados Unidos gastam, cada um, 1% a 2% do seu orçamento anual na área da saúde com a insuficiência cardíaca”, descrevem os autores.

Este estudo internacional utilizou doentes seguidos em unidades de saúde de vários países, uma metodologia diferente da frequentemente utilizada em estudos anteriores.

“Até à data, poucos estudos multinacionais haviam abordado o peso desta doença a partir de dados dos registos de saúde nacionais. Os estudos realizados descrevem frequentemente grupos de doentes muito selecionados, que não são representativos dos doentes de hoje”, explica Tiago Taveira-Gomes, citado no comunicado da FMUP.

Este estudo, que contou com o apoio da AstraZeneca, foi publicado na revista científica Heart, da British Medical Journals.