O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, disse esta quarta-feira que as Euribor vão continuar a subir até setembro (12 meses) e novembro (3 e 6 meses), antecipando que a partir destas datas comecem a cair lentamente.
Esta trajetória vai continuar em alta“, referiu o governador do BdP no programa Grande Entrevista, esta quarta-feira na RTP3, precisando que a Euribor a 12 meses vai “continuar a subir até setembro deste ano” e a Euribor a 3 e 6 meses até novembro.
Algum alívio com as prestações do crédito à habitação fica, assim, adiado para o final do ano, com Mário Centeno a referir que “os futuros indicam que a partir destas datas, setembro para 12 meses e novembro para 3 e 6 meses, as taxas vão começar a cair, lentamente“.
Esta entrevista acontece no mesmo dia em que em Sintra, num debate no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), os governadores dos bancos centrais europeu, inglês, japonês e o presidente da Fed, dos EUA, alertaram para a persistência da inflação, dando indicação de potenciais novas subidas de juro.
É um mito que Portugal não cria emprego qualificado com salários mais altos
Durante a entrevista, Centeno disse é um “mito” que Portugal não cria emprego qualificado e com salários mais elevados, destacando os 112 mil emprego em áreas de comunicação, científica, consultoria e imobiliário criados desde 2019.
“Desde 2019 criámos 112 mil postos de trabalho em setores como comunicação, consultoria, setores científicos, imobiliário”, frisou, precisando que o salário médio destes novos empregos ronda os 1.800 euros.
Referindo que apesar de o turismo ser sempre apresentado como o grande motor da economia, os dados mostram que o emprego cresceu 35% naqueles setores (com o seu peso a passar de 10% para valores da ordem dos 14% a 15%), enquanto no mesmo período, ou seja, desde 2019, o turismo criou 44 mil postos de trabalho.
“Não é verdade que desde 2019 o emprego tenha crescido à custa de setores de salários baixos e à custa apenas do turismo”, precisou, salientando que a economia portuguesa atravessa uma lógica de “transição”, mas que este é um processo lento, que não consegue de repente responder às aspirações de todos os jovens qualificados.
Mário Centeno refutou ainda um outro mito, muitas vezes com eco fora de portas, relacionado com os créditos contraídos pelas famílias.
“Aquilo de se dizer que os portugueses viviam acima das suas possibilidades e que os portugueses não cumprem é falso. Não cola com a realidade. Os portugueses cumprem”, disse, sublinhando que as taxas de incumprimento “são muito baixas e neste momento não há nenhuma alteração face a esta realidade”.
Questionado sobre o facto de numa zona euro quase estagnada, Portugal se destacar pelo ritmo do crescimento da sua economia, Mário Centeno afirmou que a economia atravessa uma dinâmica que é nova, em que o número de empregos aumentou em um milhão no espaço de uma década e em que pela primeira vez os imigrantes que chegam ao país têm menos qualificações do que quem já cá reside.
Sobre se a folga orçamental deve ser usada para reduzir impostos e aumentar salários, referiu que a redução dos tributos deve também ser vista numa lógica de transição.
Sobre a vertente salarial, lembrou que os salários têm vindo a crescer e que do ponto de vista da decisão política não devem ser tomadas decisões que ponham em causa o curso do ciclo económico.
A prioridade deve ir para a redução da dívida, referiu, lembrando que apesar da forte redução desta em percentagem do PIB, “continua alta”, sendo aconselhável “manter a trajetória de redução sustentada”.
É necessário que reversão de preços da energia se reflita nos preços finais
Mário Centeno alertou ainda para a necessidade de a reversão dos preços da energia e dos alimentos ser refletida nos preços, para que a subida dos juros possa ‘pausar’.
“Se os mercados ficarem com essa margem — seja por forma salarial, seja por forma de margem de lucros — não vamos sentir a reversão desses choques e a política monetária não vai poder ‘pausar’”, referiu.
Mário Centeno sublinhou o objetivo do Banco Central Europeu (BCE) de trazer a inflação para o patamar dos 2%, afirmando que existem “todas as condições para que isso aconteça”.
Neste contexto, referiu que os preços da energia registam quedas superiores a 60% – tendo já revertido o choque da subida – e que nos mercados internacionais os preços dos alimentos estão a cair entre 30% e 30%, sublinhado “ser importantíssimo que a reversão dos choques se faça sentir no preço aos consumidores.
Se tal não acontecer, avisou “vamos sofrer as consequências desse falhanço que seria não refletir nos preços a reversão dos choques [dos preços da energia e alimentos]”. O responsável do supervisor considerou, no entanto, que se está a chegar “ao momento em que a política monetária da área do euro poderá ‘pausar’”, referindo que os dados mais recentes confirma que a inflação está a cair de forma sustentada, havendo condições para que em 2025 se atinja o objetivo dos 2% de inflação. “Mas para que este trajeto se confirme, temos de estar alerta”, disse.