Os ciganos portugueses dizem estar dispostos a lutar até o Governo criar uma comissão ou uma agência específica para o tema das comunidades ciganas, receando ficar esquecidos numa estrutura como a futura Agência Portuguesa para Minorias, Migrações e Asilo (APMMA).
Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente da associação Letras Nómadas, uma das mais antigas associações de pessoas ciganas do país, disse que têm havido reuniões regulares entre a ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamentares e as associações ciganas, em que têm sido transmitidas as preocupações pelo facto de as questões relativas às comunidades ciganas passarem à estar integradas na APMMA, que irá substituir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e o Alto Comissariado para as Migrações (ACM).
“Estamos um bocadinho preocupados e vamos continuar a lutar até que o Governo, de uma vez por todas, tenha a coragem de assumir que é necessário ter uma comissão, uma agência só para o tema das comunidades ciganas“, afirmou Bruno Gonçalves.
Segundo o responsável, o receio das pessoas ciganas é que numa “agência tão grande” o tema fique esquecido ou deixe de ter a relevância que tem tido até agora.
“Continuamos a sentir que estar numa agência tão grande, depois da extinção do SEF, além de reduzir a nossa cidadania, continuamos a ser integrados com refugiados e com imigrantes“, apontou, lembrando que os ciganos são portugueses.
Caso não seja possível a constituição de uma entidade autónoma, Bruno Gonçalves pede que seja criado “um departamento maior” dentro da APMMA, de modo a terem uma relevância maior do que a que tinham dentro do ACM, onde havia “apenas um núcleo com quatro ou cinco pessoas”.
“Queremos mais recursos financeiros para que possamos implementar medidas que tenham impacto no dia-a-dia das pessoas”, defendeu.
De acordo com Bruno Gonçalves, tem havido um “bom diálogo” com o Governo, mas ainda não conseguiram “essa vitória”, a de ter uma agência específica para as comunidades ciganas, que disse acreditar ser possível concretizar, lembrando que no passado já se cometeram vários erros sobre os ciganos, nomeadamente o serem identificados como uma minoria.
“Acredito que com o diálogo que temos vindo a ter com o Governo as coisas possam vir a mudar, acreditamos que sim, continuamos com esperança“, apontou o vice-presidente da Letras Nómadas, não disfarçando igualmente os receios de as questões que afetam os ciganos deixarem de ser tão relevantes.
Bruno Gonçalves adiantou também que, a par desta questão, “a principal preocupação” continua a ser a Estratégia Nacional para as Comunidades Ciganas, acrescentando que tem a informação de que até ao final de 2023 haverá um novo documento.
Para Bruno Gonçalves, é necessário uma estratégia que “seja muito mais ambiciosa”, uma vez que a atual, que se mantém em vigor, “rapidamente atingiu as suas metas”.
Sobre esta matéria, o responsável defendeu que as várias associações ciganas têm feito trabalho e têm estado “bastante ativos neste processo”, pelo que pede que o Governo tenha esse reconhecimento.