Uma imagem vale mais do que mil palavras. Logo a abrir, nos primeiros minutos daquele que era também o primeiro teste da pré-temporada, o Benfica estendia as suas zonas de pressão sem bola até à área contrária do Southampton. A qualidade de posse dos ingleses evitava perdas em zonas proibidas mas a forma como o avanço no terreno era feito também não augurava nada de particularmente famoso no último terço. Ou seja, aquilo que estava bem não mexeu. E essa era a primeira ilação a retirar entre as “diferenças na continuidade” do conjunto de Roger Schmidt, com outro contexto para trabalhar a pré-época que não teve em 2022.

Ao contrário do que aconteceu na última temporada, em que o técnico alemão optou sempre pela mesma equipa em todos os encontros de preparação tendo em vista a terceira pré-eliminatória e o playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, agora há outra margem para ir testando várias alternativas e desenhar aquele que será o plantel para 2023/24 entre um grupo de 34 elementos que terá de ser reduzido. Até o facto de haver camisolas de fato de treino e não equipamentos de jogo “esvaziava” o peso do teste com o Southampton em Inglaterra, antes da deslocação à Suíça no domingo para defrontar o Basileia. E dentro de todas essas experiências e a estreia de um dos três reforços até ao momento (Kökçü, a contratação mais cara de sempre do clube), foi um “repetente” que assumiu todo o protagonismo em 45 minutos: David Neres.

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Numa época em que terá outra luta por uma das quatro posições no ataque, logo à cabeça Ángel Di María, o brasileiro começou a época com um golo, um remate ao poste, várias situações de finalização e o andamento de quem quer voltar a mostrar serviço sem perder a ginga de quem joga como se ainda estivesse relaxado de férias. E se antes tinha sido notícia pelas piores razões, após o castigo de um jogo que o retira da Supertaça por “uma alegada provocação aos adversários” que levou o Benfica a anunciar recurso de uma decisão “que merece repúdio”, agora David Neres mostrou que também ele pode ser um “reforço” de peso tendo em conta uma segunda metade da última temporada em que começou algumas partidas a partir do banco.

Projetando aquilo que poderá ser a equipa tipo do Benfica na próxima temporada e as opções que ficaram no banco (ou na bancada, nos casos de Otamendi, Jurásek e Di María), o Benfica apresentou algumas mexidas com Samuel Soares como aposta inicial na baliza, João Victor a ser testado como lateral direito, Morato e Lucas Veríssimo em dupla como centrais e Musa na frente de ataque, sendo que Kökçü, ao lado de Chiquinho no meio-campo, foi o único reforço lançado de início. Assim, e de forma quase natural, acabaram por imperar as rotinas que vinham da última temporada. E foi daí que chegaram os lances de perigo.

Após um primeiro remate em jeito de Doyle descaído sobre a direita para defesa fácil de Samuel Soares (6′), numa iniciativa interessante de um Southampton também em reconstrução após descer ao Championship na última temporada, o Benfica assumiu de vez o comando do jogo e conseguiu três grandes oportunidades em menos de dez minutos: David Neres deixou a primeira ameaça com uma diagonal da direita para o meio que terminou com um remate de pé esquerdo ao poste (10′); o mesmo Neres inaugurou o marcador numa saída rápida conduzida pelo corredor central por Rafa antes da assistência para o remate de pé direito para o 1-0 (11′); e Petar Musa, no lugar de Gonçalo Ramos, surgiu sozinho na área na sequência de uma recuperação em zonas adiantadas do central Morato mas a tentativa foi travada pelo guarda-redes McCarthy (18′).

O trio de apoio a Musa, com Neres, Rafa e Aursnes, mantinha aquela dinâmica que tantas vezes conseguiu mostrar na última temporada e, à exceção de um remate rasteiro de Ward-Prowse que passou perto do poste da baliza de Samuel Soares (25′), foi o Benfica que continuou a dominar por completo a partida tendo como principal referência David Neres, que voltou a ficar perto do golo após dois lances com Rafa na jogada que McCarthy conseguiu travar (27′ e 33′). Ainda assim, e entre o festival do brasileiro a jogar ao melhor nível, acabou por ser outro esquerdino a entrar na ficha do primeiro teste dos encarnados na pré-temporada: após recuperar a bola pela esquerda em posição avançada, Ristic rematou cruzado para o 2-0 (45′). 

Todos os jogadores de campo saíram ao intervalo, incluindo o estreante Kökçü que teve uma primeira partida a mostrar toda a sua qualidade técnica individual entre a natural adaptação à ideia de jogo da equipa, e Roger Schmidt lançou no segundo tempo Bah, António Silva, Tomás Araújo, Rafael Rodrigues, Florentino Luís, João Neves, João Mário, Tiago Gouveia, Schjelderup e Tengstedt, com o jovem norueguês a dar o primeiro sinal de perigo num remate após movimento da esquerda para o meio (51′). Tengstedt, num toque artístico após assistência de João Mário, também tentou o golo (58′) mas os últimos 45 minutos do jogo tiveram menos velocidade, menos oportunidades e menos interesse, com Bazunu a tirar numa grande defesa o 3-0 a Schjelderup depois de mais um passe para toque final na baliza de João Mário (82′).