O candidato progressista Pita Limjaroenrat, vencedor das legislativas de 14 de maio na Tailândia, anunciou este sábado que retirará a candidatura a primeiro-ministro se perder a votação prevista para quarta-feira no Parlamento, após um primeiro revés na quinta-feira passada.

“Estou disposto a dar uma oportunidade à Tailândia, deixando que seja o partido que ficou em segundo lugar em termos de votos […] a formar a coligação”, disse o líder do movimento Move Forward (Avançar), de 42 anos.

O deputado precisa do apoio de cerca de 50 senadores (de um total de 250) nomeados pelo exército para conseguir a maioria necessária, um cenário considerado improvável pelos especialistas, para quem “é evidente” que Limjaroenrat “não tem qualquer hipótese real de formar governo”.

“Mas não vamos desistir. E peço a todos que lutem até ao fim”, insistiu o candidato do Avançar, partido apoiado maioritariamente pela geração tailandesa mais jovem e que derrotou nas urnas os dirigentes apoiados pelo exército, no poder desde o golpe de Estado de 2014.

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Para tal, o partido Avançar teve na base um programa que se apoiou nas manifestações pró-democracia de 2020.

Segundo os analistas, uma nova derrota poderá desencadear manifestações em grande escala, que são uma ocorrência regular no reino.

Mas Limjaroenrat, embora apoiado por uma coligação maioritária na Assembleia Nacional, continua bloqueado às portas do poder, devido à oposição de senadores que consideram o seu perfil demasiado radical.

A segunda maior força no Parlamento, o poderoso partido da oposição Pheu Thai, associado ao antigo primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra, reiterou na sexta-feira que continuaria a respeitar o acordo de coligação.

A segunda maior economia do Sudeste Asiático, mergulhada num ciclo de violência política há mais de 20 anos, está a viver uma nova onda de tensão entre as elites militares conservadoras no poder e as gerações mais jovens, desejosas de mudança.

Os eleitores tailandeses votaram a favor do programa do movimento progressista para virar a página de quase uma década de regime militar, em que as liberdades fundamentais foram reduzidas.

Mas o sistema fechado dos militares tende a diluir o âmbito da mudança prevista e mesmo a excluir do próximo governo o partido vencedor, considerado demasiado radical em questões ligadas à monarquia.

O deputado apelou aos seus apoiantes para que sejam “criativos” no sentido de convencerem os senadores a apoiá-lo.

“Sozinho, não consigo mudar a opinião dos senadores. Por isso, peço a todos que ajudem nesta missão”, disse numa mensagem de vídeo publicada nas redes sociais.

No caso de novo fracasso, garantiu que apoiaria um candidato das fileiras do Pheu Thai, que ficou em segundo lugar nas eleições legislativas e faz parte do mesmo bloco pró-democracia que quer desalojar os generais do poder.

Dois nomes estão a surgir do lado do Pheu Thai, que na sexta-feira negou qualquer desejo de seguir o seu próprio caminho: Paetongtarn Shinawatra, a filha do exilado ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, e o empresário Srettha Thavisin.

O projeto emblemático do Avançar para reformar a lei de lesa-majestade, uma das mais rigorosas do mundo, foi alvo de críticas por parte dos senadores, que também apontam o dedo aos problemas legais do deputado.

Limjaorenrat está a ser julgado em dois casos distintos, que ameaçam desqualificá-lo e, quarta-feira, o presidente da comissão eleitoral recomendou a suspensão das suas funções parlamentares devido às ações que detinha num canal de televisão na altura da campanha, em violação da lei, algo que o candidato rejeita.

Num outro caso, o Tribunal Constitucional declarou admissível a queixa de um advogado que acusava Limjaorenrat e o Avançar de pretenderem derrubar a monarquia.