Uma visita à Suíça é sempre uma visita à Suíça mas até mesmo uma visita à Suíça pode ser mais do que uma visita à Suíça. Depois do estágio de uma semana realizado em Inglaterra com um total de 34 elementos (com o jovem guarda-redes André Gomes ainda a recuperar de lesão grave no ombro), a comitiva do Benfica fez uma espécie de “escala técnica” por terras helvéticas para defrontar o Basileia em mais um jogo particular de preparação antes do regresso à Lisboa. A multidão em torno da equipa foi muita como sempre, a multidão em torno da equipa foi ainda mais do que é normal entre a exposição da taça de campeão nacional na Casa do Benfica de Genebra, Lausanne e Romont. Entre a romaria do costume, havia uma euforia extra. E havia até uma expetativa por parte da organização do jogo de haver mais adeptos encarnados nas bancadas.

Um Neres que não quer ser David perante o Golias Di María: Benfica vence Southampton no primeiro teste da pré-temporada

Apesar do atraso de hora e meia em relação à hora inicialmente marcada de chegada à Suíça, a comitiva do Benfica foi recebida à porta do hotel onde pernoitou este sábado por vários adeptos que aproveitaram para tirar fotografias e pedir autógrafos aos jogadores. Se a última temporada correu da melhor forma, com a conquista do Campeonato após quatro anos de jejum e nova ida aos quartos da Liga dos Campeões, a atual, mesmo tendo apenas um particular com vitória, como que redobrou a confiança que se vive entre a massa adepta encarnada, com a chegada de nomes como Di María e Kökçü a promover ainda mais esse estado.

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O argentino era uma das principais curiosidades na partida com o quinto classificado da última Liga suíça (e que chegou às meias-finais da Liga Conferência, perdendo no final do prolongamento com a Fiorentina), sem que se soubesse ao certo se poderia ou não ser utilizado pela primeira vez por Roger Schmidt. Até a exibição a dar nas vistas de David Neres no teste com o Southampton colocou a conversa a ir parar ao campeão do mundo e à possibilidade de poder jogar nas costas do avançado e não descaído sobre as alas, por forma a deixar essa posição para o brasileiro quando for necessário mais capacidade de desequilíbrio ou para João Mário ou Aursnes quando o jogo pedir outro equilíbrio com e sem bola. Opções não faltam num plantel que a meio de julho aguarda apenas a entrada de um guarda-redes (Bento) e fica “tecnicamente” fechado.

Perante tudo isso, Roger Schmidt não teve dúvidas e voltou à fórmula da última temporada, apostando no onze que seria o mais próximo se a equipa tivesse de fazer agora o primeiro encontro oficial: Vlachodimos na baliza; uma linha defensiva com Bah, António Silva, Morato (Otamendi continua a recuperar de uma lesão contraída no último jogo pela Argentina) e Jurásek; Florentino Luís a formar dupla com Kökçu no meio-campo; Di María, Rafa e João Mário no apoio ao recuperado Gonçalo Ramos. Com isso ficaram de início no banco nomes como Aursnes, João Neves, Chiquinho ou David Neres. Até o facto de haver camisolas oficiais de jogo (o que não aconteceu com o Southampton) ajudava a levar o segundo teste mais a sério. No final, o resultado dificilmente poderia ter sido melhor. E os muitos emigrantes nacionais na Suíça tiveram um pouco de Portugal com algum calor, muito futebol e demasiado Di María, ou Magia, ao longo de 45 minutos.

Com o St. Jakob Park a ser quase uma mini Luz perante o audível apoio de milhares de adeptos (falava-se num número a rondar os 15 mil), o Benfica começou melhor, a jogar instalado no meio-campo contrário e a sair em velocidade sempre que possível com Rafa a ser a principal referência quando conseguia receber, virar e partir para a jogada individual. Foi assim que ganhou um livre em situação perigosa que Kökçü atirou para a barreira (7′), foi assim que serviu Gonçalo Ramos numa diagonal que apanhou o avançado em fora de jogo (9′). Burger, com um cabeceamento na área para defesa de Vlachodimos, deixou um sinal de resposta mas eram os encarnados que mantinham o controlo da partida, tendo mais um remate com perigo de novo por Kökçü numa segunda bola que veio da área após mais uma subida com cruzamento de Jurásek (17′).

Faltava aparecer mais Di María, que já tinha sido “virado” três vezes pelo lateral Calafiori e andava com um olhar a pedir uma “vingança” que foi servida em dose dupla: primeiro, na sequência de uma recuperação de bola em zona adiantada de Bah quando Calafiori tentou inventar na zona onde não se deve facilitar, o ala argentino apareceu na área sozinho aproveitando o arrastamento dos centrais por Gonçalo Ramos e só teve de encostar após assistência do dinamarquês (24′); depois, em mais uma jogada que nasceu de mais uma boa recuperação de Bah, os encarnados conseguiram a melhor combinação do primeiro tempo a passar por João Mário e Kökçü, a ter em Di María o toque que fez toda a diferença e a terminar com Gonçalo Ramos a desviar ao primeiro poste na área um cruzamento de Rafa (29′). A máquina estava a carburar mais a sério.

Houve alguns lances com muita nota artística à mistura que só não terminaram em oportunidades porque o último passe nem sempre entrou mas o intervalo chegaria com a vantagem ainda mais reforçada e com o melhor golo até aí construído por duas caras novas no plantel: Ángel Di María recebeu mais por dentro à direita (um movimento que faz muitas vezes para ser Bah a dar a profundidade pelo corredor), cruzou de pé esquerdo e Jurásek, de primeira, disparou um míssil sem hipóteses para Hitz (41′). A história da partida já estava escrita e Roger Schmidt ganhava outra margem para gerir as substituições como quisesse.

À semelhança do que tinha acontecido com o Southampton, o alemão deixou apenas Vlachodimos na baliza e rodou todos os jogadores de campo com a entrada de João Victor, Lucas Veríssimo, Tomás Araújo, Ristic, João Neves, Chiquinho, Aursnes (como capitão), Schjelderup, David Neres e Tengstedt. E à semelhança do que tinha acontecido com o Southampton, o ritmo foi mais baixo, houve menos intensidade mas nem por isso o domínio dos encarnados abrandou, com David Neres a falhar a primeira grande oportunidade com um remate por cima após assistência de Schjelderup (56′), norueguês que ameaçou também o golo de seguida com um tiro ao lado (60′). Tengstedt, após uma jogada de envolvimento na esquerda entre Aursnes e Ristic, ficou também perto do 4-0 (68′) mas os minutos foram passando sem golos e com muita festa nas bancadas.

Ainda haveria um momento de maior tensão a 15 minutos do final, no seguimento de mais uma entrada dura de Calafiori sobre Schjelderup que levou João Victor a fazer corpo ao lateral dos suíços e alguns adeptos dos encarnados a não perdoarem a atitude com o arremesso de água e copos ao jogador mas tudo acabou por ser sanado e a partida chegou ao fim com cânticos de “Benfica campeão” a pedir o 39.º título, em mais uma injeção de moral para a nova época por aquilo que a equipa já conseguiu fazer em campo mas também, ou sobretudo neste caso em Basileia, por aquilo que os adeptos mostram no apoio à equipa, algo que nem mesmo o golo de consolação da formação visitada por Onyegbule na área conseguiu travar (82′).