Pogacar e Vingegaard têm alternado entre si os momentos de ascendência sem nenhum conseguir um verdadeiro domínio sobre o outro. Inclusivamente, as equipas de ambos, a UAE Emirates e a Jumbo-Visma, têm dividido o protagonismo uma com a outra. Pois bem, em dia de contrarrelógio, os dois candidatos a chegarem de amarelo a Paris estavam entregues a si mesmos e à ditadura do tempo. Para os fotógrafos, era uma oportunidade de obterem uma imagem a solo de cada um dos corredores já que tem sido difícil descolá-los.

Separados por apenas 10 segundos, diferença que até podia ser mais pequena não fossem as bonificações que contribuíram para a vantagem do dinamarquês, Vingegaard e Pogacar tinham uma oportunidade para marcarem uma diferença significativa um para o outro numa altura em que, na entrada para a terceira semana do Tour, após o segundo dia de descanso, restam apenas duas etapas de montanha.

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Depois de um fim de semana desgastante, a configuração do top 10 começa a ficar cada vez mais definida. No entanto, ainda há muito por decidir, especialmente ao nível do terceiro lugar, com Carlos Rodríguez (INEOS Grenadiers), Adam Yates  (UAE Emirates) e Jai Hindley (BORA-hansgrohe) a serem os melhor colocados para ficarem no último lugar do pódio.

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O contrarrelógio da etapa 16, o único da Volta a França deste ano, continha uma ligeira subida de segunda categoria na fase final do 22,4 quilómetros que podia dificultar a tarefa dos ciclistas. Olhando à edição do ano passado do Tour, que teve duas etapas deste tipo, não se podia retirar nenhuma leitura que indiciasse o resultado final, pois até aí Vingegaard foi melhor no primeiro contrarrelógio e Pogacar no segundo.

“Antes do Tour, teria assinado para estar nesta situação nesta fase. Este ano sinto-me mais controlado do que nos dois anteriores. Desta vez, não vou atirar todas as bombas ao mesmo tempo, mas uma por uma”, disse Pogacar antevendo um contrarrelógio onde se vão registar diferenças. “É um contrarrelógio curto, mas gosto disso. É difícil encontrar o ritmo e quando há muitas mudanças de velocidade”, descreveu Vingegaard em relação ao perfil da etapa.

Michael Morkov (Soudal Quick-Step) foi o primeiro a sair para a estrada. Seguiram-se uma série de situações inusitadas, nomeadamente quedas logo na primeira curva e atrasos na chegada à rampa de partida. No início da subida, o norueguês Soren Waerenskjold (Uno-X Pro Cycling Team ) trocou a habitual bicicleta de contrarrelógio por uma bicicleta tradicional, não tirando propriamente partido disso, dando o mote para que vários outros corredores optassem pela mesma estratégia.

Os sprinters, mais atrasado na classificação geral, foram os primeiros a iniciar a prova. Os primeiros tempos roçaram os 40 minutos, descendo progressivamente. Remi Cavagna (35′ 42”) elevou muito a fasquia. “Fiz uma boa corrida. Lutei um pouco no topo da subida de Domancy, onde perdi cerca de vinte segundos, mas terminei com força. Estou satisfeito com meu contrarrelógio, embora o percurso não me tenha agradado muito”, disse Cavagna ainda com o resto dos corredores na estrada. “O meu tempo será batido por quase um minuto pelos favoritos. Espero um top 10 ou 15, mas não vou chegar ao top 5. Para a vitória, acredito em Pogacar”.

Os portugueses ainda em prova iam concluindo o percurso sem ameaçarem o primeiro lugar. Entre os atletas nacionais, Rui Costa foi o melhor, demorando mais 56 segundos que Cavagna. Por sua vez, Nélson Oliveira atrasou-se 3′ 22″ face ao tempo de referência até então.

A subida de Domancy tinha disponíveis cinco pontos para a camisola da montanha. Na sexta-feira, Neilson Powless (EF Education-EasyPost) perdeu a liderança da classificação dos trepadores, sendo Giulio Ciccone (Lidl-Trek) a estar vestido às pintas no contrarrelógio. Nessa luta particular, Powless demorou 7’24” entre o segundo e o terceiro ponto de deteção parcial, mais 40 segundos do que Ciccone que se isolou na liderança da tabela onde os dois ciclistas estavam empatados.

Entretanto, Mauro Gianetti, diretor da UAE Emirates anunciou que Pogacar ia adotar a estratégia de trocar de bicicleta antes da subida. “Fizemos os nossos testes e, no final, percebemos que mudar a bicicleta leva algum tempo, mas traz algum benefício”.

Stefan Küng (Groupama-FDJ), um dos especialistas em contarrelógio falhou o assalto à liderança por 52 segundos. Seguiu-se Wout van Aert (Jumbo-Visma) que foi o responsável por destronar Cavagna com um registo de 35′ 27”.

Aos poucos, os homens da geral começaram a tentar mostrar o que valiam. Vingegaard vinha a ganhar bastante tempo a Pogacar. Restava saber se o esforço inicial do dinamarquês não se faria sentir na parte final. Não aconteceu. A cada metro percorrido, mais Vingegaard ganhava tempo, quase alcançando o esloveno na estrada. Pogacar chegou com mais de um minuto de vantagem para Wout van Aert, mas isso não foi suficiente para bater o resultado fenomenal obtido pelo camisola amarela que terminou os 22,4 quilómetros em 32′ 36″. O ciclista da UAE Emirates demorou mais 1′ 38” que soma aos 10 segundos que já tinha de desvantagem. Pello Bilbao (Bahrain Victorious), Simon Yates (Team Jayco-AlUla) e Adam Yates (UAE Emirates) terminaram dentro do top 10, consolidando a posição na classificação geral em que este último nome subiu a terceiro.