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Os problemas não eram os mesmos, as resoluções desses problemas também foram diametralmente opostas. Para Canadá e Nigéria, este Mundial de 2023 era sobretudo uma questão de contexto. Um contexto entre a batalha ganha e outra que continua no túnel sem luz à vista. Um contexto a projetar uma despedida de sonho e a desenhar novas chegadas sem meios. Um contexto de elevar a fasquia ou jogar com elevação sem fasquia. Num e noutro conjunto, havia dois nomes incontornáveis não só em termos internos mas também entre as figuras que marcam a prova na Austrália e na Nova Zelândia. No entanto, as condições eram diferentes.

Sem o Ferrari, foram à boleia de Foord e Sheva: Austrália vence Rep. Irlanda na estreia no Mundial perante mais de 75.000 espectadores

Olhando para o Canadá, havia até paralelismos entre aquilo que aconteceu com Lionel Messi e a Argentina no Qatar e aquilo que gostariam que acontecesse com Christine Sinclair e as canadianas. Ou seja, e depois de um grande título conseguido em Tóquio com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, as norte-americanas apostavam neste Mundial para fazer com que a jogadora que se confunde com o futebol do país entre as 300 internacionalizações, os 190 golos marcados e as 14 distinções como Jogadora do Ano saísse por uma porta grande. A primeira batalha, essa, já estava ganha com o princípio de acordo com a Federação para haver uma igualdade financeira entre seleção masculina e feminina. Sinclair, uma mulher de causas que só não gosta de falar da sua vida privada, ganhara mais uma luta. Aos 40 anos, este seria o início do fim em campo.

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Do outro lado, a Nigéria chegava a este Mundial sem ter o título habitual na Taça das Nações Africanas mas a ambicionar algo mais do que os oitavos que conseguiu em 2019 estando num grupo onde cruza com a anfitriã Austrália e com a competitiva Rep. Irlanda. Chegava mas esteve para não chegar: durante os três particulares realizados antes da prova, as jogadoras admitiram boicotar a fase final, num braço de ferro que acabou por ser travado para já apesar de haver dívidas enormes à equipa, entre os sete meses de atraso ao técnico Randy Waldrum aos dois anos sem o pagamento de qualquer prémio a algumas atletas. No meio da convulsão, o destaque recaía em Asisat Oshoala, avançada que leva quase um golo por encontro de média desde que chegou ao Barcelona no início de 2019 e que acaba de ganhar a segunda Champions com as catalãs.

Entre este duelo particular, a nigeriana acabou por sair a sorrir mesmo ficando em branco. E a “culpa” foi de Chiamaka Nnadozie, guarda-redes que já tinha sido a mais nova de sempre a manter a baliza a zero num jogo do Campeonato do Mundo (vitória por 2-0 em 2019 frente à Coreia do Sul) e que mostrou de novo ter uma habilidade especial para travar grandes penalidades, como acontecera na final dos Jogos Africanos de 2019 quando defendeu três tentativas no desempate frente aos Camarões. Agora, a “vítima” acabou por ser a própria Christine Sinclair. E com essa defesa nos minutos iniciais da segunda parte a Nigéria conseguiu assegurar um ponto no início deste Campeonato do Mundo, deixando para já tudo em aberto no grupo B.

A pérola

  • Sinclair tem uma relação especial com as grandes penalidades, como se viu nos últimos Jogos Olímpicos de Tóquio: após falhar no desempate nos quartos diante do Brasil, que terminou com vitória do Canadá por 5-4, ofereceu um castigo máximo a Jessie Fleming nas meias com os EUA e voltou a repetir o gesto na final com a Suécia. Agora, com a jovem avançada no banco, assumiu a conversão mas colocou Chiamaka Nnadozie como figura do encontro, com uma defesa providencial que segurou o nulo (50′).

O joker

  • A lateral esquerda Ashley Lawrence foi um dos grandes destaques na primeira parte e acabou o jogo como protagonista de uma situação grave, numa entrada de Deborah Abiodun que mereceu cartão vermelho direto aos 90+7′ após intervenção do VAR. No entanto, o período em que o domínio do Canadá se fez mais sentir foi no arranque do segundo tempo, coincidindo com a aposta em Cloé Lacasse ao intervalo para o lugar de Deanne Rose. Mais à direita, a antiga jogadora do Benfica que assinou agora pelo Arsenal tentou ser a grande desequilibradora na frente e esteve na jogada que deu depois a grande penalidade a Sinclair mas não conseguiu evitar o nulo no final da partida.

A sentença

  • A Austrália acabou por ser a principal beneficiada do empate sem golos, liderando com isso o grupo B de forma isolada com três pontos depois da vitória a abrir frente à Rep. Irlanda. Na próxima jornada, o Canadá terá pouca margem para não ganhar às irlandesas, que deixaram uma excelente imagem no jogo inaugural com as anfitriãs, ao passo que a Nigéria tentará no mínimo conseguir mais um ponto para depender apenas de si na última ronda da fase de grupos diante da Rep. Irlanda.

A mentira

  • Existe uma imagem das equipas africanas, masculinas e femininas, que aponta para grandes talentos, capazes de fazer magia em termos técnicos mas com défice de parte tática que condiciona depois uma maior progressão nas campanhas internacionais. Aquilo que a Nigéria mostrou foi diametralmente oposto. Há elementos como Asisat Oshoala que se tornam diferenciados quando conseguem ter bola mas a chave do nulo no arranque do Mundial foi a organização defensiva e a capacidade de anular os muitos pontos fortes do Canadá em termos ofensivos, em especial Christine Sinclair que além da grande penalidade teve apenas um remate com mais perigo na primeira parte que saiu por cima.