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Já foram a finais de Mundiais, de Jogos Olímpicos e de Europeus, entretanto perderam com o tempo as primeiras carruagens do topo do futebol feminino, procuravam agora um caminho de redenção na Austrália e na Nova Zelândia. Problema? Entravam no grupo da Inglaterra, à partida uma favorita teórica na passagem aos oitavos depois do título de campeã europeia. Era por isso que, mesmo sendo apenas o primeiro jogo da fase de grupos do Mundial, ganhava contornos quase decisivos caso um dos conjuntos conseguisse vencer. E essa ideia acabou por refletir-se naquilo que foi o encontro em Perth, com tanto ou mais receio de não sofrer do que propriamente vontade de marcar à exceção de raros períodos com o jogo mais partido.

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A Dinamarca, uma das equipas mais camaleónicas deste Mundial em termos táticos, regressava à fase final de um Mundial 16 anos depois e com uma série de resultados que prometiam, nomeadamente as vitórias com Noruega, Japão e Suécia em particulares que deixavam a ideia de que Pernille Harder (avançada que se tornou em 2020 a maior transferência no futebol feminino quando chegou ao Chelsea e que acaba de assinar contrato com o Bayern) e companhia poderiam sonhar com algo mais do que um mero retorno aos grandes palcos depois da final perdida do Europeu em 2017 – que “rejuvenesceu” o feminino no país.

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Já a China, que desde 1999 não consegue passar dos quartos em Mundiais e Jogos Olímpicos, ganhou a sua nova “alma” na última Taça da Ásia com vitórias frente a Vietname, Japão e Coreia do Sul que quebraram um jejum de títulos de 16 anos. Com a figura mais importante do futebol feminino chinês no comando da equipa (Shui Qingxia, medalha de prata olímpica e vencedora em cinco ocasiões da Taça da Ásia), as Rosas de Aço apostavam num regresso aos bons tempos em que chegaram às meias em 1995 e à final em 1999.

A primeira parte refletiu esse peso da responsabilidade nos dois conjuntos, com Zhang Linyan a ter um dos poucos remates com perigo logo aos oito minutos para defesa de Lene Christensen. A China estava melhor no encontro mas nem por isso a Dinamarca perdia o controlo dos acontecimentos, deixando tudo em aberto para uma segunda parte onde a formação europeia foi ganhando maior expressividade em termos ofensivos, ficando muito perto de marcar num desvio de Wang Shanshan após livre que por pouco não deu autogolo (75′) e num remate de Brunn que saiu perto da trave (82′) antes do momento que definiu a partida, num canto longo desviado de cabeça por Amalie Vangsgaard, que entrara cinco minutos antes (90′).

A pérola

  • Sem grandes destaques individuais ao longo de 90 minutos, Amalie Vangsgaard, gigante que pertence ao PSG, entrou para fazer a diferença, desviando de cabeça após canto para o único golo da partida. Após ter começado a carreira no Fortuna Hjörring, a avançada deixou o futebol durante mais de dois anos (na altura em que a Dinamarca estava no seu ponto alto em termos de seleção com a final do Europeu de 2017) por ter perdido o prazer pelo jogo que a fez começar a jogar futebol com o irmão aos quatro anos, voltou no BSF, passou por Nordsjaelland e Linköping e chegou no início do ano ao PSG.

O joker

  • Zhang Linyan tem apenas 22 anos, veio para o futebol europeu no ano passado via Grasshoppers por empréstimo da Universidade de Wuhan depois de ganhar a Taça da Ásia (e merecer os parabéns pela exibição de David Beckham) e voltou a mostrar que em breve chegará a outros palcos apesar da baixa estatura e do corpo franzino pela capacidade com que consegue desequilibrar no último terço. Foi a partir do momento em que Zhang quebrou em termos físicos que as chinesas caíram na partida.

A sentença

  • Em caso de empate, a beneficiada do dia acabaria por ser a principal desilusão do dia, a Inglaterra. Expliquemos: apesar da vitória pela margem mínima frente ao Haiti, as campeãs europeias fizeram um encontro pouco convincente mas passariam a liderar o grupo D de forma isolada, antes de defrontarem na próxima jornada a Dinamarca e na última ronda a China. Todavia, o golo tardio das nórdicas mudou as contas, com o próximo encontro a apurar não só o primeiro lugar mas um possível apuramento.

A mentira

  • Pode um jogo sem golos ou com poucos golos ser interessante? Para alguns, não. Para outros, sim. Neste caso, havia alguns condimentos que poderiam ter alterado a receita final, nomeadamente a projeção das laterais das duas equipas que foi sempre escasso ou nula, mas o 1-0 entre Dinamarca e China teve momentos interessantes, grande organização e maturidade táticas e pormenores individuais de encher o olho que não deixariam de ser um facto mesmo que a partida tivesse terminada com um nulo.