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Foi uma limpeza (literal) para umas, foi uma limpeza (quase à letra) para outras. Numa altura em que se fala do crescimento das seleções tipicamente mais frágeis no futebol feminino, com resultados que comprovaram isso na prática como o triunfo das Filipinas diante da Nova Zelândia, o empate da Jamaica frente à França e a igualdade da Nigéria com o Canadá, o grupo C posiciona-se num polo oposto onde, em condições normais, tudo deveria ficar definido logo na segunda jornada. O que faltava para isso? Mais uma vitória do Japão com a Costa Rica, mais um triunfo da Espanha com a Zâmbia. E o primeiro passo não demorou a ser dado.

Como é típicos de todas as equipas nipónicas, as imagens do balneário mais limpo e arrumado à saída do que quando entraram voltou a correr mundo, tendo ainda a palavra “Obrigado” escrita num quadro. Ainda assim, a maior limpeza tinha acontecido antes em campo. É certo que toda a turbulência em torno da Zâmbia teve efeitos práticos naquilo que a equipa conseguiu produzir, com os erros da linha defensiva no segundo a serem exemplo paradigmático disso mesmo, mas o Japão teve o maior mérito na goleada que até poderia ter outros números acima do 5-0. Não foi o resultado mais volumoso, não foi o encontro mais destacado, ficou como a melhor exibição coletiva na primeira jornada da fase de grupos que, em parte, teve agora continuidade.

Com quatro alterações em relação à goleada com as africanas, as nipónicas dominaram desde início e com meia hora que definiu o resultado tendo um ponto que fez toda a diferença: a capacidade com que, mantendo as variações rápidas e a circulação a passar por todas as jogadoras do meio-campo para a frente, conseguiu fazer com que a Costa Rica, com um bloco muito baixo quando perdia a bola, separava as suas linhas. Foi assim que começou a jogada do primeiro golo, com Tanaka a descer para receber entre linhas e a assistir a novidade Hikaru Naomoto o remate cruzado (25′). Logo de seguida, Aoba Fujino, que chegava como uma das grandes esperanças a este Mundial, “inventou” o 2-0 (27′). Ao intervalo, as contas estavam fechadas.

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Houve jogo na segunda parte, com várias oportunidades para as nipónicas, mas a intensidade e os motivos de interessa baixaram para um final que era o esperado. Assim, e depois das zonas de entrevistas rápidas e de várias fotografias que foram sendo feitas pelas jogadoras com adeptas nas bancadas, chegava a hora de voltar ao balneário, despachar tudo, arrumar o espaço de forma impecável, escrever “Arigato” no quadro e regressar ao hotel, onde pela primeira vez a seleção feminina tem aquilo que há duas décadas tem, um cozinheiro. E apesar de ter como prato especial o hambúrguer de bife, a seguir aos jogos é o momento de curry.

A pérola

  • A jogada do segundo golo foi mais uma amostra daquilo que Aoba Fujino consegue fazer no ataque do Japão: conseguiu ir recuperar uma bola que parecia perdida, rodou bem sobre a adversária, entrou na área à procura do passe atrasado para assistir, encontrou uma pequena nesga para colocar o remate entre o poste e Daniela Solera. Depois de um primeiro encontro onde viu dois golos anulados, a jovem jogadora conseguiu finalmente marcar e mostra que aos 19 anos já não é uma promessa – é uma certeza.

O joker

  • Após ter sido um dos grandes destaques do encontro frente à Zâmbia com dois golos à mistura, Hinata Miyazawa começou o encontro com a Costa Rica no banco e deu lugar a Hikaru Naomoto, jogadora de 29 anos que teve uma passagem pela Europa. A opção foi justificada ainda na primeira parte, com a avançada do Urawa Reds a marcar o golo inicial que desbloqueou toda a partida que parecia ser uma questão de tempo. Mais: Futoshi Ikeda tem mesmo muita qualidade no ataque para gerir…

A sentença

  • Com a esperada vitória frente à Costa Rica, o Japão tem a qualificação praticamente assegurada, sendo que para isso basta apenas que a Espanha não perca com a Zâmbia. Aliás, tudo aponta para que a última ronda entre as nipónicas e a Roja seja um jogo para definir quem fica em primeiro e em segundo do grupo. Já a Costa Rica terá uma última partida para tentar sair com uma vitória no Mundial.

A mentira

  • Muitas vezes as estatísticas são um espelho fiel daquilo que se passou em campo, outras vezes são uma realidade quase paralela em relação ao que se passou. O Japão terminou com muito mais remates e muito mais cantos do que a Costa Rica mas não teve assim uma diferença tão grande nos passes com sucesso, teve o mesmo tempo até recuperar a bola do que as Ticas (18 segundos) e só correu mais cinco quilómetros no total (115,5-110,4) mas a distância entre os conjuntos foi sempre tão grande que deixou a sensação de que se as nipónicas quisessem “apertar” um pouco mais poderiam chegar à goleada.