O BE considerou esta quarta-feira que o objetivo do Governo de aumentar o número de bolsas de doutoramento para investigadores científicos que façam o seu trabalho em empresas levanta preocupações sobre a “submissão da política científica a interesses privados”.

Alegadamente, o Governo pretende estimular a integração de doutorados nas empresas, na administração pública e no setor social. A proposta de alocação de metade das bolsas ao ambiente não académico levanta desde logo uma preocupação sobre a submissão da política científica a interesses privados imediatistas, os quais irão sobrepor-se às linhas de investigação que não dão lucro imediato”, criticam os bloquistas.

Numa pergunta endereçada esta quarta-feira à ministra da Ciência e Ensino Superior, e divulgada à comunicação social, o BE afirma que o aumento da oferta “criou também uma injustiça relativa” porque “acabaram por ficar sem financiamento muitas candidaturas mais bem classificadas que se candidataram às bolsas de doutoramento no seu contexto científico normal, o académico”.

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Entre as questões colocadas ao Governo, o BE quer saber como avalia o que classificou como “frustração dos objetivos do Governo em termos de bolsas em empresas e as injustiças relativas criadas pela vontade de apostar nesse modelo”.

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A deputada Isabel Pires, que assina o documento quer também saber se o ministério “está disponível para promover, através de reforço orçamental da Fundação para a Ciência e Tecnologia, o alargamento do número de bolsas atribuídas de forma a corrigir estas desigualdades“.

Os bloquistas perguntam ainda à ministra se o Governo “pondera rever os objetivos de colocar metade das bolsas de doutoramento em contexto não académico“.

O BE defende igualmente que “este modelo de bolsas de doutoramento não é um problema isolado, faz parte de um quadro mais vasto”.

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O financiamento de bolsas de doutoramento em empresas enquadra-se numa política orçamental que também não assegura a contratação dos investigadores já doutorados (e precários de longa data) como investigadores de carreira”, critica, acusando o Governo de “desviar o dinheiro da FCT para outros fins, seja a contratação de docentes, seja a colocação de bolseiros de doutoramento em empresas privadas”.

No final do ano passado, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior estipulou como objetivo do Governo que, até 2027, as bolsas de doutoramento em ambiente não académico representem pelo menos 50% do total de novas bolsas atribuídas.

Em 31 de março, a FCT abriu o concurso relativo a este ano, prevendo um total de 1.450, das quais 400 em entidades não-académicas ou não científicas, como empresas.

No final de julho, foi divulgada a aprovação de financiamento de 300 novas bolsas de doutoramento para investigadores em meio não académico, nomeadamente empresas.