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Keira Walsh deu uma lição a todos: um diagnóstico superficial realizado a partir de um esgar de dor não substitui a exatidão de um bom exame médico. A responsabilidade da precipitação ficou a cabo da contumácia das lesões nos ligamentos cruzados anteriores que tantas jogadoras têm sofrido. A centrocampista do FC Barcelona tinha abandonado o relvado, no jogo contra a Dinamarca, na fase de grupos do Mundial, agarrada ao joelho, temendo-se que ficasse automaticamente arredada da competição.

Dias depois, quando a Inglaterra voltou a entrar em campo, frente à China, a selecionadora, Sarina Wiegman, disse que não se tratava de uma lesão igual às que já tinham feito as Lionesses perderem LeahWilliamson, BethMead e FranKirby antes da competição. No entanto, a treinadora de nacionalidade neerlandesa recusou-se a comentar qual o tipo de lesão que afetou Keira Walsh e se a atleta poderia voltar a jogar no Mundial

A resposta chegaria frente à Nigéria nos oitavos de final, em Brisbane. Sensivelmente à mesma latitude de Georgia Stanway, a presença de Walsh era a encarnação da resistência contra o maior assombro do futebol feminino, muito embora isto faça parecer que as atletas têm algum tipo do controlo sobre este tipo de lesões, quando, na verdade, estão entregues a um balanceamento entre a sorte e o azar.

“É claro que aquele momento no jogo contra a Dinamarca foi muito difícil, mas, depois das avaliações, sabíamos o que estava a acontecer. Também dissemos para não fazerem suposições”, explicou Sarina Wiegman antes do jogo com a Nigéria. Percebia-se que havia luz verde para que Walsh fosse reintegrada, não era tão expectável que regressasse ao onze inicial nos oitavos de final.

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Lauren James foi ao Mundial promover o negócio de família: Inglaterra vence Dinamarca e fica muito perto dos oitavos

De novo na máxima força, a Inglaterra, campeã da Europa e campeã Intercontinental, começava a reunir cada vez mais possibilidades de conquistar o mundo. Alemanha, Brasil e Estados Unidos perderam-se no caminho para esse trono. Japão, Espanha, Suécia e Países Baixos nunca se vão encontrar com as Lionesses até à final por estarem do lado oposto do quadro competitivo. Antes do Mundial começar, podia ser ousado dizer que tudo o que não fosse chegar à final seria uma desilusão para a Inglaterra, mas, nesta fase, é inevitável um juízo desse teor.

De modo a ofuscar a ambição inglesa, Ashleigh Plumptre escreveu na barra que a Nigéria não ia facilitar a vida à Inglaterra. Christy Ucheibe, jogadora do Benfica, na sequência de um canto, colocou Alessia Russo a fazer um corte, perto da linha de baliza, com uma parte do corpo que as Lionesses iam, com os sustos sofridos, percebendo que era necessário usar: a cabeça.

A própria Alessia Russo, que havia sido fundamental na defesa, causou turbulência no ataque inglês, agitando o encontro com um remate que surgiu de um roubo de bola. A defesa da guarda-redes nigeriana, Chiamaka Nnadozie, foi apertada, mas não tanto como o sentimento que viveu quando já estava frente a frente com Georgia Stanway e a árbitra voltou atrás com a decisão de assinalar grande penalidade a favor da Inglaterra.

A Nigéria foi ao balneário para se voltar a soltar das amarras. Uchenna Kanu acertou de novo na barra. A seleção africana começava a descascar a tinta branca dos postes e teve largos minutos de posse ainda que, em organização ofensiva, não tenha sido propriamente fácil criar oportunidades. O selecionador norte-americano da Nigéria, Randy Waldrum, lançou entretanto Asisat Oshoala que valeu 27 golos aos FC Barcelona esta temporada.

O ar começou a ficar contaminado com aquele ambiente típico dos jogos a eliminar que estão empatados perto do fim. A Nigéria arriscava mais para tentar evitar o prolongamento. Ainda assim, num canto, situação que tantas vezes decide jogos enferrujados, Rachel Daly obrigou Chiamaka Nnadozie a nova intervenção de relevo.

A cinco minutos do final do tempo regulamentar, a nódoa caiu no melhor pano. Lauren James, o maior destaque individual do Mundial, pisou propositadamente Michelle Alozie. A árbitra considerou que a inglesa de 21 anos agrediu a adversária e mostrou o cartão vermelho. O rácio passou a ser de 10 para 11 em jogadoras, mas, no resultado, o 0-0 transpirava equilíbrio.

Seguiu-se um prolongamento muito pouco interessante. A Inglaterra tinha o mérito de esconder a inferioridade numérica. Nas grandes penalidades, não havia mesmo hipótese dessa desvantagem se fazer notar. Depois da Nigéria ter falhado duas conversões e da Inglaterra apenas ter errado o alvo por uma vez, a decisão estava no pés de Chloe Kelly, jogadora que marcou o golo da vitória no Europeu e na Finalíssima e que, nesta partida, entrou apenas aos 88 minutos. Com um remate forte, colocou a Inglaterra nos quartos de final.

A pérola

  • É talvez a jogadora mais sacrificada taticamente na Inglaterra. Rachel Daly fez todo o corredor esquerdo no 3x5x2 inglês. Em ataque organizado, ofereceu largura à posse das Lionesses, optando por realizar ligações interiores em vez de verticalizar o jogo, uma vez que recorre preferencialmente ao pé direito. Sempre que o ataque se desenrolava no flanco oposto, a jogadora do Aston Villa juntava-se à área para ser mais uma opção a captar cruzamentos.

O joker

  • Não podia deixar que o dia do seu adversário fosse marcado por uma má exibição. Lauren Hemp torna muitas vezes o sistema tático da Inglaterra num 3x6x1 com as movimentações que realiza e que fazem dela mais um elemento do meio-campo e não tanto uma atacante.

A sentença

  • A Nigéria ficou muito perto de igualar a melhor prestação de sempre num Mundial. No entanto, as grandes penalidades acabaram por deixar um rasto de desilusão na equipa africana. A Inglaterra avança para os quartos de final, onde vai defrontar a equipa vencedora do Colômbia-Jamaica.

A mentira

  • Tornar audíveis as decisões das árbitras após a consulta do VAR é inútil caso as juízas não expliquem o motivo da decisão. Dizer meramente que se reverte uma decisão não acrescenta nada ao que já acontecia antes deste Mundial, pois essa informação vinha sendo facultada por grafismos televisivos. Este Inglaterra-Nigéria foi um bom exemplo desta má prática que não é inédita no Campeonato do Mundo organizado pela Austrália e pela Nova Zelândia. A árbitra do encontro, Melissa Borjas, foi chamada pelo VAR para analisar as imagens num lance em que Rasheedat Ajibade derrubou Rachel Daly e, inicialmente, foi assinalada grande penalidade. O que viu fez a juíza das Honduras voltar atrás com a decisão tomada em tempo real. No entanto, a ausência de explicação deixou quem assistia na dúvida se Borjas considerou que a infração tinha acontecido fora da área ou se simplesmente considerou que o contacto entre as jogadoras não era merecedor de castigo máximo.