Leia aqui tudo sobre o Campeonato do Mundo feminino de 2023

O Mundial é um grande certame, mas ninguém até agora o tinha usado para distribuir uma amostra daquilo que é o negócio de família. Lauren James, com o golo decisivo, logo aos seis minutos, exemplificou que não é só o irmão, Reece James, que consegue marcar de fora de área. Mesmo que Lauren se queira distanciar do nome do irmão, as semelhanças na hora de chutar à baliza são evidentes.

“Sei que tenho minha própria carreira”, explicou Lauren James antes do Mundial sobre Reece. “Somos como melhores amigos”. A verdade é que, em conjunto, fizeram história, tornando-se nos primeiros irmãos a serem ambos internacionais por Inglaterra. Bem que a seleção feminina precisou de parte dessa veia vencedora já que ganhar de maneira convincente não parecia ter deixado de estar nos genes desta equipa até ao jogo com a Dinamarca, em Sidney, na Austrália.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Lauren e Reece James, os dois irmãos a brilhar no Chelsea que querem ser os primeiros a representar Inglaterra

A Inglaterra, atual campeã europeia, não foi imune a dificuldades no jogo contra o Haiti da primeira jornada do grupo D do Mundial. Apesar da superioridade em termos de posse de bola e remates, as Lionesses não conseguiram uma vantagem mais folgada e o esforço para vencer foi tanto que até o golo de Georgia Stanway chegou apenas através de um penálti repetido que a jogadora do Bayern inicialmente falhou. Havia certamente aspetos a melhorar para o encontro contra a Dinamarca, uma seleção bem mais reputada.

Mais um jogo para Mary Earps vender as camisolas que não tem: Inglaterra vence mas a “vitória” foi do Haiti

Conversámos sobre chegar ao último terço, acertarmos cruzamentos, entrarmos na área na hora certa e trabalhámos nisso. No treino, parecia muito bom”, revelou a selecionadora da Inglaterra, Sarina Wiegman, que abriu a possibilidade de existirem alterações no onze. Acabou mesmo por se verificar esse cenário, mas as mudanças não foram assim tantas quanto era de prever. A técnica de nacionalidade neerlandesa deixou apenas cair Jess Carter e Lauren Hemp, optando por Lauren James e Rachel Daly. 

Uma prova como o Mundial muitas vezes não beneficia quem joga melhor. O segredo está em encontrar a forma certa para ganhar seja ela qual for. Também a Dinamarca passou por isso frente à China, onde as nórdicas tiveram que esperar até ao minuto 90 para conseguirem o golo da vitória, marcado por Amalie Vangsgaard.

Amalie deixou o futebol mais de dois anos. Voltou. Em cinco minutos, mostrou que valeu a pena: Dinamarca vence China com golo aos 90′

Lars Sondergaard, selecionador da Dinamarca, também não alterou muitas peças face ao primeiro jogo. Nicoline Sorensen deu lugar a Rikke Marie Madsen numa equipa que precisava de viver o momento. “Há um Campeonato do Mundo a cada quatro anos. Não se tem muitas oportunidades destas ao longo da carreira. Seria um pecado mortal não a aproveitarmos”, disse o técnico dinamarquês.

Já algum tempo tinha passado depois do remate de Lauren James, que atingiu 92 quilómetros por hora, ter dado a vantagem às inglesas quando a Dinamarca chegou à área adversária com muito perigo, respondendo ao sufoco que estava a sentir. Rikke Marie Madsen conseguiu uma rotação em espaço reduzido que mostrava que as dinamarquesas tinham capacidade técnica para fazerem mais do que estavam a mostrar. O remate da jogadora que representa as North Carolina Courage, dos Estados Unidos, saiu ao lado. Foi o exemplo que as nórdicas precisavam de seguir. Pernille Harder, que nem é de se inibir, começou a mostrar-se mais no jogo e a trazer velocidade ao ataque com esticões constantes com e sem bola.

O tempo entre a lesão de Keira Walsh e o momento em que deixou o campo arrefeceu um jogo que estava a começar a ganhar o perfil que o cartaz anunciava. A Inglaterra perdeu o domínio que exerceu nos primeiros 30 minutos, mas não deixou a Dinamarca criar grande perigo na segunda parte. Os duelos físicos a meio-campo levaram a que o 1-0 a favor das Lionesses prevalecesse, mas não sem um esforço final das adversárias.

Alessia Russo teve a melhor ocasião para a Inglaterra no segundo tempo, mas não foi eficaz dentro da área. A Dinamarca, quase acidentalmente, obrigou Mary Earps a uma defesa apertada. A guarda-redes britânica nada ia conseguir fazer se Amalie Vangsgaard, nos dez minutos finais, desviasse a bola um pouco menos e, em vez de ter acertado no poste, tivesse acertado no fundo da baliza.

A pérola

  • Partindo da esquerda para o meio, Lauren James conseguia, através do drible, atrair muitas defesas adversárias, situação que podia ter sido mais bem aproveitada pelas colegas, em especial pela lateral esquerda Rachel Daly que beneficiaria com subidas no terreno. O capitalizar dos desequilíbrios provocados pela jogadora do Chelsea podia ter sido maior caso o lado canhoto da Inglaterra não tivesse sido completamente renovado em relação à primeira jornada.

O joker

  • Assinou pelo Arsenal com apenas 19 anos e somou minutos suficientes ao longo da temporada para ser chamada por Lars Sondergaard para o Mundial. Kathrine Kuhl descreveu-se, citada pelo Arseblog News, com as palavras que podia usar para explicar o que fez em campo contra a Inglaterra. “Gosto de jogar nos bolsos pequenos e virar-me. Gosto de fazer passes em profundidade para as avançadas. Direi que essas são as minhas maiores qualidades”. A jogar nas costas de Pernille Harder, Kuhl apresentou-se com um jogo bastante versátil, ora conduzindo, ora distribuindo a bola. Preferiu descair mais sobre a direita do ataque, mas correu quilómetros para procurar servir de ligação para o ataque mesmo nos momentos em que a equipa não estava confortável em posse.

A sentença

  • A Inglaterra, com seis pontos, está praticamente apurada para os oitavos de final do Mundial. Se as Lionesses virem o Haiti evitar a derrota contra a China, estão definitivamente apuradas. A Dinamarca, apenas com três, leva trabalho redobrado para o jogo contra o Haiti, da terceira jornada do grupo D.

A mentira

  • Muitas jogadoras têm apelado a que se investigue mais sobre como prevenir as lesões nos joelhos no futebol feminino. Estudos indicam que as mulheres têm 2,5 a 3,5 vezes mais de probabilidade de romper o ligamento cruzado anterior do que os homens, sendo, para já, desconhecido o motivo para tal acontecer e qual a melhor maneira de prevenir o problema. Só na Inglaterra, Leah Williamson, Beth Mead e Fran Kirby ficaram de fora do Mundial devido a este problemas, mas outras jogadoras como a neerlandesa Vivianne Miedema, as norte-americanas Catarina Macario, Sam Mewis e Christen Press, as francesas Marie-Antoinette Katoto e Delphine Cascarino, a canadiana Janine Beckie, a alemã Giulia Gwinn e a neozelandesa Katie Rood também. Pelas queixas que apresentou quando deixou o relvado de maca, Keira Walsh parece que também se vai juntar ao clube.