– Então, está tudo bem?
– ‘Tá tudo bem, contigo?
– Estamos na final, estamos bem f*****

Cumprimento mais português seria complicado mas o momento não era para menos, mesmo tratando-se de um reencontro num pavilhão onde foi lançada a final da Taça dos Clubes Árabes, neste caso os sauditas do Al Nassr de Luís Castro e do Al Hilal de Jorge Jesus. Houve abraços, muitos sorrisos, mais conversas mais de circunstância, a habitual fotografia ao pé do primeiro título que vão discutir em 2023/24. Há muitos toques nacionais no boom que tem marcado o futebol da Arábia Saudita, neste caso também nos treinadores.

Dez anos depois, o Siiiiii continua: Ronaldo marca pelo quarto jogo consecutivo e coloca Al Nassr na final da Taça dos Campeões Árabes

“É um desafio grande para todos nós, a reintegração, e de jogadores estrangeiros e saudita. Acho que, para o futebol saudita e mesmo para a seleção, vai ser muito bom. Vai haver um crescimento grande do futebol no país e fico muito feliz por podermos estar todos a contribuir para que o futebol cada vez seja mais forte. O futebol é uma paixão. O futebol é muito interessante porque é uma modalidade que tem adeptos de forma transversal em todo o mundo, nuns países mais do que noutros, mas é transversal. Sente-se muito essa paixão na Arábia. Sobre o Campeonato, poderão existir quatro/cinco candidatos ao título na Arábia Saudita. Vai tornar-se uma prova muito competitiva. São vários candidatos para um único lugar no topo e será um Campeonato maravilhoso”, salientara Luís Castro antes desta final em declarações à Liga saudita.

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“É uma nova final na minha experiência pessoal e a nossa chegada à final foi bem merecida, a equipa evoluiu de jogo para jogo. Conhecemos bem o nosso adversário, que tem jogadores excecionais, mas como equipa preparámo-nos para fazer o nosso melhor. Entendemos a importância do jogo de amanhã [sábado] e todos os jogadores estão totalmente preparados e com o espírito em alta. Espero que possamos vencer a taça num jogo com jogadores de alto nível. Equipa? A dupla Malcom e Al-Hamdan não é a de pontas de lança tradicionais mas eles estão a exibir-se de forma excecional e a fazer a diferença a cada jogo”, comentara Jorge Jesus, que tem pedido a chegada de outro avançado, com nomes como Neymar e João Félix a serem falados.

Só um simples olhar para as equipas mostrava bem a diferença que existe de um ano para o outro – a tal diferença que Ronaldo antevira no início do ano mas que poucos pareciam acreditar. O Al Nassr, que afastou Raja Casablanca e Al Shorta para chegar à final depois de um grupo com Al Shabab, US Monastirienne e Zamalek, juntou ao português, a Talisca, a Ospina e a Pity Martínez nomes como Sadio Mané, Alex Telles, Brozovic e Seko Fofana. Já o Al Hilal, que eliminou Al-Ittihad e Al Shabab após um grupo com Al Ahly, Al Sadd e WAC, conta agora com nomes como Rúben Neves, Koulibaly, Milinkovic-Savic, Malcolm ou Michael. O investimento de ambos ainda não acabou mas a garantia de uma grande final estava já assegurada.

A primeira parte foi uma boa amostra da imprevisibilidade e do equilíbrio que se esperavam no encontro. O Al Hilal de Jesus começou bem melhor, não só pelo remate de Rúben Neves muito perto do poste (3′) e da “mancha” feita por Nawaf Alaqidi a Milinkovic-Savic quando o antigo médio da Lazio estava sozinho na área (6′) mas também pela forma como conseguia secar quase por completo a saída do Al Nassr, que nem mesmo bater longo na profundidade para a velocidade de Cristiano Ronaldo ou Sadio Mané conseguia. A defesa da formação de Luís Castro tremia perante qualquer abanão contrário mas os ventos do jogo iam mudando.

Brozovic, num grande cabeceamento ao segundo poste após combinação entre Ronaldo e Mané para uma defesa fabulosa do habitual suplente Mohammed Alowais, deu mote para essa viragem aos 18′. O Al Nassr conseguia encontrar o espaço para desenvolver a primeira jogada de perigo do encontro e com isso ganhou a confiança para estar de outra forma na final, seguindo-se mais dois remates com perigo de Talisca para novas intervenções de Alowais que não conseguiram inaugurar o marcador mas tiveram o condão de mostrar a inversão na tendência de jogo, que chegou ao intervalo com o Al Hilal longe do que fizera no início.

Ainda assim, estava tudo em aberto para o segundo tempo. E o conjunto de Jorge Jesus percebia que podia fazer mais sobretudo em termos ofensivos, algo que demorou apenas seis minutos a acontecer: numa saída rápida em transição que passou pelos pés de Rúben Neves e Al-Dawsari, o brasileiro Malcolm ganhou espaço na esquerda e cruzou de forma milimétrica para o compatriota Michael encostar de cabeça ao segundo poste para o 1-0 (51′). A resposta do Al Nassr foi quase imediata, com Alowais a desviar para canto um livre de Alex Telles (54′) e a fazer mais uma defesa fantástica a remate de Talisca (60′), antes de um lance polémico em que Abdulelah Al-Amri carregou Malcolm quando ia isolado, viu amarelo mas foi depois expulso (70′).

Numa altura em que o Al Nassr forçava para chegar ao empate, a equipa ficava reduzida a dez sem um dos seus centrais mas foi no momento em que Luís Castro procurava perceber a melhor estratégia para o que ainda faltava jogar que apareceu o golo do empate, com Sultan Al-Ghannam a receber na direita um grande passe do guarda-redes Nawaf Alaqidi para subir sem oposição e cruzar para o 1-1 de Ronaldo, que marcava pelo quinto jogo consecutivo na competição (74′). Logo de seguida houve mais uma jogada polémica, desta vez com um penálti sobre Milinkovic-Savic a ser revertida pelo VAR (76′), e Ronaldo viu um golo anulado por fora de jogo (84′) antes das últimas oportunidades soberanas serem falhadas pelo sérvio, de cabeça na sequência de um cruzamento de Rúben Neves (90+3′), e por Malcolm, com Alaqidi a redimir-se do erro que tinha cometido um minuto antes para segurar o empate com mais uma grande defesa (90+4′).

A decisão iria mesmo seguir para prolongamento (caso raro, tendo em conta que houve antes várias decisões da competição que seguiram logo para grandes penalidades) e o Al Nassr não demorou a ter uma chance de ouro para passar para a frente com Ronaldo a rematar na área para um corte milagroso em cima da linha de Ali Albulayhi para canto (92′). Não foi aí, foi a seguir: Sadio Mané não conseguiu marcar isolado, Fofana acertou na trave e Ronaldo, numa recarga de cabeça, fez a reviravolta (98′). Os nervos em campo subiam, Luís Castro foi mesmo expulso do banco e Ronaldo também saiu de maca com um problema no joelho esquerdo que o fez ficar de fora nos últimos oito minutos do tempo extra até sair já ligado para a festa da primeira Taça dos Clubes Árabes do Al Nassr e do primeiro título do português desde que chegou às Arábias.