Ao contrário do habitual ou do mais recorrente nos últimos anos, a Vuelta arrancava com uma certeza que lançava toda a incerteza: existiam vários candidatos à vitória. Começando com os óbvios Roglic e Vingegaard, passando por vencedor em título Remco Evenepoel, olhando para Geraint Thomas e também para João Almeida e Juan Ayuso e sem esquecer Enric Mas, o futuro dono da camisola vermelha no último dia da prova espanhola era uma absoluta incógnita.

E foi precisamente isso que Philippe Gilbert, antigo ciclista que é agora comentador da Eurosport, explicou ao Observador. “Por norma, a Vuelta tem dois ou três candidatos e depois surpresas que aparecem, mas esta edição não será assim. Em relação ao Enric Mas, há a dúvida de como vai recuperar da queda que teve, que foi feia, mas com a vantagem de estar num pico de forma quando isso aconteceu, o que também acelera a recuperação. Parece preparado para o desafio. O Juan Ayuso vai pelo mesmo, com o objetivo de poder lutar pelo pódio. Penso que é esse o seu objetivo, como aconteceu no último ano. É por isso que digo que entrar no top 5 nesta edição da Vuelta, com tantos nomes, vai ser mesmo um grande desafio”, explicou o belga, que também abordou as possibilidades de João Almeida.

“Tenho a sensação que acham que o João Almeida é mais velho mas não, é novo e todos os anos aparece mais forte”

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“É um corredor muito calmo, está sempre a analisar as situações, não corre muitos riscos e podemos ter a certeza de que vai estar nas decisões. Se é bom ou mau não correr tantos riscos? Depende da tua capacidade, de como te sentes. Na primeira vez em que sentiu que tinha forças para atacar, conseguiu. Antes parecia estar sempre no limite, que queria só seguir em frente. Vai ser bom para ele, esteve sempre nos lugares da frente das grandes corridas. Às vezes tenho a sensação de que acham que ele é mais velho e estão à espera de mais da parte dele, mas ainda é novo. Tem grandes oportunidades pela frente e tem estado sempre a melhorar, todos os anos aparece mais forte”, atirou Gilbert.

A Vuelta arrancava este sábado e contava com seis portugueses: João Almeida e Rui Oliveira (UAE Emirates), Nélson Oliveira e Rúben Guerreiro (Movistar), Rui Costa (Intermarché-Wanty) e ainda André Carvalho (Cofidis), sendo que Ivo Oliveira saiu das contas nos últimos dias por doença. A primeira etapa era desde logo um contrarrelógio por equipas de 14,8 quilómetros pelas ruas de Barcelona, com a chuva e o cair da noite a serem os principais adversários dos ciclistas — algo que provocou muitas críticas à organização por parte dos atletas, já que a visibilidade era praticamente nula em alguns pontos do percurso.

A etapa foi conquistada pela Team DSM-Firmenich, com o jovem italiano Lorenzo Milesi a ser o primeiro a vestir a camisola vermelha desta edição da Vuelta — assumindo também desde logo a liderança da classificação da juventude. A Movistar ficou no segundo lugar, seguida pela EF Education–EasyPost e pela Quick-Step, sendo que a Jumbo-Visma ficou apenas na 11.ª posição e a UAE Emirates na 14.ª.