A Federação Nacional dos Professores alertou esta segunda-feira para casos de docentes deslocados que começaram a dar aulas e tiveram de arrendar quartos, porque continuam sem saber os resultados das candidaturas a casas de renda acessível.
“Têm chegado relatos de professores que se candidataram na plataforma, mas não conseguem saber de nada”, nem quais os critérios de seleção nem os preços das rendas, denunciou o secretário-geral da Fenprof.
“Como as aulas já começaram, muitos destes professores já tiveram de alugar casa. Os que estão à espera das tais residências que o Ministério da Educação arranjará com preços mais baixos bem podem esperar sentados, porque ninguém lhes disse nada”, acusou Mário Nogueira, durante a conferência de imprensa realizada esta segunda-feira em Lisboa para fazer um balanço do arranque do ano letivo.
Segundo o líder da Fenprof, para muitos docentes, ter de arrendar um quarto e pagar deslocações significa ficar sem dinheiro para comer: Arrendar um quarto em Lisboa custa “no mínimo 600 euros” e para estar com a família aos fins de semana, os professores “gastam em combustível 300 euros e em portagens 200 euros”, ou seja, “gastam 1.100 euros. E qual é o salário? 1.100 euros”.
A Fenprof estima que, neste momento, haja 92 mil alunos sem pelo menos um professor atribuído, sendo as regiões de Lisboa e do Algarve as mais afetadas pela falta de docentes.
Entre os motivos para esta situação está o envelhecimento da classe — 3.500 professores deverão reformar-se este ano —, mas também o facto de os salários serem insuficientes para aceitar um lugar longe de casa, porque tal representa pagar uma renda e deslocações.
A maioria dos professores é do norte, onde está a maioria dos cursos superiores de formação para a docência, e é também por isso que o problema das escolas se sente mais a sul.
Fenprof diz que mais de 100 mil alunos estariam sem aulas se arrancassem esta segunda-feira
Este ano, o Ministério da Educação anunciou a disponibilização de 29 apartamentos com rendas a preços acessíveis nas zonas de Lisboa e em Portimão: 14 na capital e 15 em Portimão.
“Gostaríamos de saber quais os critérios e quantos professores se candidataram. Até agora não se sabe de nada. A propaganda existiu, mas continuamos sem saber de nada”, criticou Mário Nogueira.
No final de julho, os serviços do ministério divulgaram o regulamento das condições de elegibilidade e hierarquização dos docentes candidatos ao programa, que começava por definir três prioridades: “A maior distância a percorrer em linha reta entre a sede do agrupamento e a sede do concelho onde tem residência permanente”, seguindo-se “o menor rendimento per capita do agregado familiar” e “o menor número de ordem na lista da mobilidade interna ou da contratação inicial”.
Fenprof defende aumento dos salários dos professores de colégios em vez de prémios
Esta segunda-feira, Mário Nogueira defendeu que “o ano letivo começa mal” e que será “provavelmente um dos piores”, tendo em conta a falta professores. As aulas de 1,3 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano arrancaram oficialmente na semana passada, mas esta é a primeira semana em que haverá aulas todos os dias, apesar de o Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop) ter convocado uma greve para esta semana.