Frente ao País de Gales, na estreia dos Lobos no Mundial de râguebi, era impossível para os jogadores portugueses imaginarem o que é jogar neste palco. Sacudido que estava o deslumbramento, a partida contra a Geórgia, no Stade de Toulouse, tinha um peso acrescido. Como o que importa não é só participar, embora a presença na competição, seja por si só de enaltecer, a janela de oportunidade para a seleção nacional conseguir a primeira vitória de sempre estava aberta.

A Geórgia estava apenas três lugares acima de Portugal, o que dava alguma esperança aos Lobos, pois, como se viu diante do País de Gales, a maioria dos adversários da seleção nacional no grupo C encontram-se num nível superior. “Estão reunidas as melhores condições para ganhar à Geórgia”, assumiu o capitão Tomás Appleton, ainda que recusasse qualquer tipo de pressão. “Não diria que é o jogo de uma vida”.

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História ficou a meio: Portugal empata com Geórgia (a sofrer um ensaio aos 78′ e a falhar uma penalidade aos 80+1′)

Ao Observador, Martim Bello, suplente contra a Geórgia, explicava o porquê da expectativa existir. “As pessoas apontam isso por causa da nossa história com a Geórgia. É uma equipa contra quem costumamos jogar todos os anos. Já nos batemos bem contra eles. Obviamente que é um jogo onde se podia especular um bocadinho mais se podíamos ganhar o jogo. Se isso acrescenta mais pressão? Não”.

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Apesar da janela estar aberta para a conquista de algo inédito, Portugal teve dificuldades para lidar com o a corrente de ar em forma de ataques georgianos. As linhas avançadas do adversário dos Lobos é que comiam metros ao relvado com bastante facilidade. A motivação da defesa portuguesa já estava fragilizada. Logo a abrir o encontro, Akaki Tabutsadze (2′) adiantou a Geórgia. Os problemas para a seleção nacional mantiveram-se, mas iam sendo resolvidos no limite da linha de ensaio. Numa rara demonstração das reais capacidades de Portugal, Raffaele Storti (34′) recebeu a bola sobre a direita, ignorou a linha de passe para João Granate e inverteu o sentido da corrida. Se é verdade que o poderio físico dos georgianos tem vantagens, nesta situação foi inibidor, pois ninguém teve velocidade suficiente para apanhar o ponta português.

A Geórgia continuava na frente devido a duas penalidades e uma transformação de Tedo Abzhandadze. O 13-5 com que o jogo foi para o intervalo até podia ter sido mais simpático se Samuel Marques tivesse acertado o chuto aos postes que teve à disposição depois do ensaio luso. Portugal ganhou um novo ânimo assim que conseguiu marcar. Ainda assim, um contratempo deixou os portugueses de novo na mó de baixo. Francisco Fernandes viu o cartão amarelo e teve que cumprir 10 minutos de suspensão.

O reinício de segunda parte ainda se deu com Portugal em inferioridade numérica. No entanto, com a reentrada de Francisco Fernandes, os Lobos ganharam um ímpeto que ainda não tinham mostrado. O ataque português apertou o cerco aos 22 metros georgianos e foi pontuando através de duas penalidades convertidas por Samuel Marques. Raffaele Storti (57′), se não houvesse mais tempo para fazer história, garantiu logo ali o seu lugar nos livros ao tornar-se no primeiro jogador português de sempre a marcar dois ensaios num Mundial.

Portugal saltava para a frente do marcador (13-18) e celebrava cada ação positiva no jogo. Sentia-se que algo especial estava perto de acontecer. Os Lobos conseguiram eficazmente afastar os adversários da sua zona de ensaio, exceto numa ocasião. Através de um maul, Tengizi Zamtaradze (78′) conseguiu marcar um ensaio e deixar tudo empatado a 18, visto que Luka Matkava falhou a transformação. Caiu do céu a oportunidade para a seleção nacional ainda conseguir vencer. Uma penalidade no último instante dava a oportunidade aos portugueses de terminarem na frente, sendo que o jogo acabava assim que se soubesse o destino do chuto. Nuno Sousa Guedes assumiu a responsabilidade de, com o pé, dar o triunfo a um país de futebol. Apesar de, quando era jovem, o 15 português ter tido a oportunidade de fazer testes no Arsenal, errou neste momento decisivo. Ainda assim, pela primeira vez Portugal consegue evitar a derrota num jogo do Mundial, somando dois pontos e garantindo a melhor prestação de sempre.