Era um duelo de duas equipas sem pontos na classificação da Champions, era um duelo de duas equipas que ganharam muitos pontos na primeira jornada da Champions. Em condições normais, o Union Berlim não ia chegar ao período de descontos empatado sem golos em pleno Santiago Bernabéu frente ao Real Madrid – e foi o que aconteceu, com Jude Bellingham a surgir de novo como herói dos merengues para marcar no final da partida. Em condições normais, o Sp. Braga não ia chegar ao período de descontos em cima do Nápoles e a ter oportunidades para chegar ao empate – e foi o que aconteceu, com Pizzi a acertar no poste no último dos minutos de desconto após o autogolo de Niakaté aos 88′. Agora, ambos tinham algo mais a acrescentar a essa boa imagem que ficara da estreia numa partida importante não só nas contas de uma chegada aos oitavos da Liga milionária mas também na matemática do terceiro lugar (com acesso à Liga Europa).

Bruma não merecia que esvaziassem aquele balão de futebol (a crónica do Sp. Braga-Nápoles)

“Este é um momento importante, tendo em conta que é o segundo jogo da Liga dos Campeões. Vamos tentar capitalizar o passado recente, as duas vitórias na Liga, mas teremos de ser uma equipa competitiva, séria e determinada porque vamos ter pela frente um adversário de grande qualidade e valor, que já trabalha há muitos anos com o mesmo grupo e treinador, com dinâmicas bem definidas. Reforçou-se muito e bem esta época, basta lembrar o Bonucci, o Tousart, o Gosens ou o Volland. Acrescentaram muita qualidade e teremos de estar bem preparados. Será um jogo entre equipas que sentem alguma injustiça face ao que aconteceu na primeira jornada. Não sendo decisivo, é importante para marcar uma posição no grupo com uma vitória”, destacara na antecâmara da partida na Alemanha o técnico da formação minhota, Artur Jorge.

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“O equilíbrio é sempre a chave de tudo. Temos tido um grande desempenho ofensivo, ainda que continue a dizer que não somos tão eficazes como poderíamos ser. Essa mesma eficácia é também importante no lado contrário, temos de ser mais fortes defensivamente, conceder menos oportunidades e fazer com que o equilíbrio seja uma constante. Dentro do equilíbrio que procuramos, o importante será sempre marcar mais que o adversário. Boa ligação aos grandes estádios? Se tivermos como base o estádio e número de espectadores, seria bom darmos continuidade ao que fizemos em Atenas, manter a mesma personalidade e caráter da equipa, a mesma combatividade, a mesma paciência e inteligência de jogo, transportando isso para este jogo e sermos capazes de sair com o mesmo resultado: uma vitória”, acrescentar o treinador arsenalista.

Era nesse contexto que chegava mais uma prova de fogo para o crescimento sustentado do Sp. Braga a nível de panorama internacional, com um Estádio Olímpico normalmente pintado de azul que fez uma alteração de imagem para que os 75.000 espectadores se sentissem mais em casa com o vermelho da equipa. E, mesmo estando em patamares diferentes tendo em conta a competitividade dos plantéis e das próprias ligas em que estão inseridos, os resultados dos confrontos entre ambos na fase de grupos da Liga Europa mostravam como poderia haver equilíbrio entre uma vitória dos germânicos em casa com uma grande penalidade de Knoche aos 69′ e um triunfo da formação portuguesa na Pedreira com um golo de Vitinha no último quarto de hora (77′). Agora, houve um pouco de tudo por parte do Sp. Braga. Erros, inspiração, risco, coragem, sobretudo um enorme coração. Foi assim que, com uma reviravolta épica, Castro saiu do banco para fazer o 3-2 aos 90+4′ após um bis de Becker que parecia ter encaminhado os germânicos para a vitória no Olímpico.

O encontro começou com um primeiro calafrio que não passou de um susto mas ficou como aviso: em mais uma tentativa de exploração do jogo pelos corredores laterais, Borja teve uma bola nas costas e Gosens surgiu na área para aproveitar a confusão e fazer o primeiro golo que seria anulado por fora de jogo de Becker no início da jogada (4′). Apesar de estar numa fase com cinco derrotas consecutivas e com um último triunfo em agosto, o Union Berlim apostava muito naquilo que podia ser o embalo dos minutos iniciais com o apoio do público para passar para a frente e serenar os ânimos mas os minhotos, mesmo sem aproximações ao último terço, mantinham a baliza de Matheus a salvo com a linha defensiva a continuar bem alinhada. A primeira ameaça arsenalista surgiria à passagem dos 15 minutos, com Rönnow a desviar um livre de Zalazar.

Havia duas tendências que começavam a consolidar-se na partida. Por um lado, o Sp. Braga estava cada vez mais confortável no jogo com e sem bola, tendo outra capacidade de perceber os momentos em que poderia esticar ou manter mais a posse; por outro, os germânicos procuravam o erro adversário para criarem perigo, como aconteceu num passe mal medido de Joe Mendes para o central turco Serdar que deixou Behrens a ir sozinho para a baliza antes de perder ângulo e com isso a oportunidade de visar a baliza dos minhotos (21′). Sheraldo Becker, na sequência de um canto, teve também um remate que poderia levar perigo após distração coletiva dos visitantes mas saiu por cima (24′) antes de ver Matheus sair aos pés para negar o 1-0 em mais uma jogada em que os alemães tentaram um ataque direto pelo corredor central (28′). À terceira foi de vez, com o capitão a surgir nas costas da defesa após assistência de Kral para não falhar (30′).

Só mesmo depois da desvantagem houve uma verdadeira ameaça do Sp. Braga, com Bruma a aproveitar o pouco espaço que foi tendo para rematar forte mas muito à figura de Rönnow sendo que logo de seguida, em três/quatro toques, o Union voltou a colocar Becker em situação de perigo (32′). Ficava mais um aviso que a equipa portuguesa pareceu não ligar. A formação germânica, essa, só teve de aproveitar: nova bola direta na frente, ligeiro atraso de Niakaté a levar à perda da primeira bola que apanhou Serdar fora de posição e bis de Becker outra vez em 1×0 contra Matheus (37′). Eram demasiadas falhas no setor recuado, sendo que da parte do maliano houve um lance de redenção que deixou tudo em aberto, aproveitando uma defesa incompleta de Rönnow a remate de Ricardo Horta após canto para fazer a recarga na pequena área para o 2-1 (41′). 

Os minhotos ganhavam uma nova alma para a segunda parte, sendo que os problemas defensivos com todas as bolas que caíam nas costas dos laterais criavam sempre alguma sensação de perigo ainda que nem por isso tenham passado a oportunidades. Foi nessa altura que apareceu o génio de Bruma: na sequência de um canto marcado para fora da área com amortecimento de Ricardo Horta, o internacional português colocou-se já na lista dos candidatos a melhor golo da jornada com um pontapé de primeira sem hipóteses para Rönnow (51′). Voltava tudo à “estaca zero” mas com esse ascendente anímico de um Sp. Braga que entre erros próprios ficou a perder por dois golos mas foi a tempo de colocar tudo empatado com muito ainda para jogar, sendo que a ameaça seguinte veio dos pés de Ricardo Horta com um remate para defesa difícil de Rönnow.

Urs Fischer percebia que tinha de fazer algo de novo, lançando em campo Laïdouni para reforçar o corredor central e Volland para dar outra frescura (e peso) ao ataque. Com isso, até de forma quase inconsciente em alguns momentos, a equipa ia começando a partir-se na distância entre setores, o que permitia haver mais espaços para as transições do Sp. Braga. Artur Jorge, no banco, procurava mais critério: trocou Zalazar por João Moutinho, rendeu Borja por Adrián Marín. Becker, mais uma vez, teve uma oportunidade flagrante ao passar por Matheus descaído na direita da área mas a acertar nas malhas laterais (75′), Banza conseguiu de seguida uma boa saída antes de Bonucci bloquear o remate (77′), Juranovic tentou a meia distância de pé esquerdo que saiu por cima (79′), Aaaronson desviou de cabeça ao lado na área em mais uma chance que era só encostar (86′) e Kral obrigou Matheus a nova defesa antes de Castro fazer o 3-2 (90+4′).